12 de abril de 2014

Sermão para o 1º Domingo da Paixão – Padre Daniel Pinheiro IBP

[Sermão] A paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Este é o meu corpo, que será entregue por vós. Este é o Cálice do Novo Testamento, fundado no meu sangue, diz o Senhor.” (Communio)
Entramos hoje, caros católicos, no Tempo da Paixão. Veremos, nos textos da liturgia, a oposição cada vez mais clara entre Nosso Senhor Jesus Cristo, com sua doutrina celestial e sua caridade infinita, e os fariseus, preocupados em adaptar a doutrina divina aos seus próprios gostos. No Evangelho de hoje eles buscam lapidar NSJC, após ele afirmar a sua divindade de maneira clara dizendo: “antes que Abraão fosse, Eu sou.” Todavia, nos diz o Evangelho, de forma misteriosa, NS se escondeu e saiu do Templo.
“Eu sou” nos diz Nosso Senhor. Várias vezes nos Evangelhos Ele diz: “Eu sou.” Eu sou o caminho e a verdade. Eu sou a vida. Eu sou a luz do mundo. Eu sou o Bom Pastor. Eu sou, diz Nosso Senhor no jardim das oliveiras, e todos caem por terra. Quando os apóstolos temem ao ver Jesus andando sobre as águas, Ele diz: não tenhais medo, ego sum, eu sou. O “Eu sou” de NS nada mais é do que um eco, uma repetição, das palavras de Deus a Moisés, quando esse pergunta o nome divino. Deus diz a Moisés: “Eu sou aquele que é”. Deus é a plenitude do ser, ele é a causa de tudo o que existe. Sendo a plenitude do ser, Deus é infinitamente bom, onisciente, eterno, onipotente, infinitamente amável. Quando NS diz “antes que Abraão fosse, Eu sou”, os judeus compreendem que Cristo está afirmando a sua igualdade com Deus. Ele também é Deus, Ele é um só Deus com o Pai. Os judeus compreendem que Jesus está afirmando a sua eternidade, que Ele está a firmando que é aquele que é. E, em vez de convencidos pelos milagres e pelas obras de Cristo aceitar essa verdade, preferem acusá-lo de blasfêmia, levados pela cegueira do orgulho, pela cegueira de querer fazer a vontade própria, pela cegueira de querer seguir as paixões, pela cegueira de seguir a religião que haviam fabricado para si mesmos. Todavia, quando NS pergunta quem pode acusá-lo de algum pecado, os judeus ficam mudos. Então, caros católicos, Jesus não é somente um homem extraordinário ou o maior dos profetas. Não, Ele é verdadeiramente Deus, desde o momento de sua concepção. Ele é o Verbo que se fez carne. E Ele sabe que é Deus desde o primeiro instante de sua existência no seio de Maria. Nosso Senhor é Deus. Como não ouvir as suas palavras? Como não ficar com o ouvido atento e como não dobrar nossa inteligência e vontade diante das palavras de Cristo e de sua Igreja, Igreja que nada mais é do que Cristo prolongado no tempo e no espaço? Como não considerar o exemplo de todas as virtudes dado por NSJC em sua vida? Não é simplesmente um homem extraordinário que fala. É o próprio Deus quem nos fala. Deus amou tanto o mundo que enviou seu próprio Filho, Deus como Ele, para nos salvar. O Verbo se fez carne para nos salvar, propter nostram salutem, por causa da nossa salvação, como cantamos todos os domingos no Credo.
Nosso salvador é Deus, mas Ele é também homem. Sendo Deus, suas ações têm um valor infinito, mesmo a menor de suas ações tem um valor infinito. Sendo homem, Nosso Senhor nos representa, pois foi constituído por Deus como nosso chefe, como a cabeça do Corpo Místico. Adão, ao pecar, ofendeu infinitamente a Deus e, como chefe do gênero humano, Adão transmitiu a seus descendentes o pecado original, em virtude do qual nascemos todos, com exceção de NS e N. Sra., separados de Deus. E depois de Adão, também nós, pelos nossos pecados mortais, ofendemos infinitamente a Deus. Impossível para nós repararmos pelos nossos pecados, pois somos seres finitos, limitados, incapazes, por nós mesmos, de fazer algo que agrade mais a Deus do que nossos pecados lhe desagradaram. Portanto, para reparar em perfeita justiça, precisávamos de Cristo, que é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus. Deus amou tanto o mundo que nos entregou seu próprio Filho, para nos salvar. E é essa a finalidade da Encarnação do Verbo, da sua paixão e morte na Cruz: a nossa redenção, a nossa salvação.
Tudo na Encarnação de Cristo e na sua vida tem em vista a nossa salvação. Para nos salvar, Cristo precisava, basicamente, fazer duas coisas: merecer graças para nós, pelos seus méritos e satisfazer, reparar pelos nossos pecados. Nosso Senhor merece as graças para a nossa salvação pelas suas ações, que têm todas um mérito imenso, imensurável. Para que uma ação seja meritória ela precisa ser 1) livre, 2) honesta, 3) sobrenatural (procedente da graça e da caridade) 4) feita nesta vida, neste vale de lágrimas (isto é, que seja feita por um viator), 5) feita em estado de graça. É evidente que todas as ações de Cristo cumpriam essas condições. Eram ações livres, eram honestas, procediam da graça e da caridade, eram feitas enquanto ele estava nesse mundo e, como não podia ser diferente, foram feitas em estado de graça. Não só as ações de Cristo foram meritórias, mas foram meritórias ao máximo. Isso porque Ele fez tudo com liberdade plena (sua inteligência e vontades eram perfeitíssimas e não sofriam influência das paixões), com perfeita consciência das suas ações (Ele advertia exatamente o que estava fazendo e porque fazia), elas eram perfeitamente honestas e motivadas por todas as virtudes no grau mais alto possível e pela maior caridade possível. O mérito de uma ação depende da santidade da pessoa. Cristo era o mais santo possível, sendo também Deus. As ações de Cristo são o mais meritórias possível e nos alcançam todas as graças. Sua alma tinha todas as perfeições que potencializam o mérito. No entanto, além de merecer as graças, como dissemos, Cristo veio ao mundo também para satisfazer, ou seja, para dar a Deus algo que é mais agradável a Deus do que o pecado lhe é desagradável. Assim, Cristo satisfez por nossos pecados ao oferecer a Deus sua caridade sem medida em reparação pelos nossos pecados. Sobretudo ao suportar todos os sofrimentos com caridade imensa. Cristo quis sofrer para expiar pelos prazeres ilícitos causados por nossos pecados, para pagar pela pena devida por nossos pecados. Ele quis sofrer também para mostrar as consequências dos nossos pecados, mas, sobretudo, Ele quis sofrer para nos motivar a amá-lo em retorno. Em última instância, o sofrimento de Cristo foi motivado por seu amor por nós. Quanto mais sofremos para conseguir algo, mais mostramos o nosso amor por essa coisa. Cristo, desde o seu nascimento sofreu por nós. Ele chegou a suar sangue como consequência de tamanho sofrimento. Foi depois coroado de espinhos, flagelado, cuspido, batido, zombado, Ele carregou a cruz, caiu pelo menos três vezes, foi pregado na Cruz. Foi morto e perseguido pelo seu próprio povo, foi abandonado pelos seus amigos, praticamente toda consolação foi tirada da sua alma. NS sofreu mais do que todos os homens juntos. Ele quis sofrer, sobretudo, por causa de nossos pecados, sobretudo de nós católicos, que fazemos profissão de reconhecer que Ele é homem e Deus, que fazemos profissão de reconhecer que todo seu sofrimento foi para nos salvar, mas que não hesitamos em crucificá-lo novamente pelas nossas faltas.  Nosso Senhor sofreu tanto para nos mostrar o tamanho de seu amor por nós. E para tentar nos mover a amá-lo em retorno. É a nossa obrigação: amar a Deus sobre todas as coisas. Com uma só ação, Cristo já teria satisfeito pelo pecado, já que oferecia a Deus sua caridade sem medida. Mas Ele quis sofrer por nós para nos mostrar seu amor por nós. Em Cristo está presente, então, um corpo capaz de sofrer e capaz de sofrer ao máximo, para poder expiar pelos nossos pecados.
Assim, em Cristo está presente tudo o que pode favorecer a nossa redenção e a nossa salvação, pois foi para isso que Ele veio ao mundo. Nele, está presente tudo o que favorece os méritos e tudo o que favorece a satisfação. Estão presentes todas as virtudes em grau mais alto possível, está presente a maior caridade possível. Em Cristo está presente um corpo humano capaz de sofrer e que sofreu, de fato, mais do que qualquer outro, para satisfazer pelos nossos pecados. Cristo quis ter um corpo capaz de sofrer. Se Cristo não quisesse sofrer e se Cristo não quisesse morrer seria muito simples, como vemos no Evangelho de hoje. No Evangelho desse 1º Domingo da Paixão, é dito que Cristo escondeu-se e saiu do Templo, para que não o lapidassem. Um mero homem não foge de uma lapidação com tamanha tranquilidade. Sendo Deus, Ele poderia destruir seus inimigos com o sopro de sua boca. Mas Ele quis sofrer. A sua paixão, mais uma vez, foi para nos mostrar as consequências do pecado: nossos pecados levam NS, homem e Deus, a sofrer. Muitas vezes podemos ter dificuldade em enxergar os males causados pelos nossos pecados, que talvez consideramos abstratos. Em Cristo padecente, vemos concretamente as consequências, os males dos nossos pecados. A sua paixão foi para mostrar a sua caridade para conosco. Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho à morte e morte de Cruz. A sua paixão foi obra de sua infinita misericórdia: não há meio mais eficaz para nos tirar da miséria do pecado do que nos mostrando a sua caridade para conosco. NS nos mostra seu amor infinito por nós na sua paixão. A nós cabe nos unir a Cristo, nos convertendo verdadeiramente a Ele e amando-o. Aproveitemos esse Tempo da Paixão, que precede o Tríduo Sagrado, para meditar a paixão de Nosso Senhor e para fazermos o propósito de morrer com Ele na cruz para o mundo e para o pecado, a fim de vivermos para a vida eterna.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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