16 de abril de 2014

Preparação para a Morte

PONTO II
 
Considera a acusação e o exame: “Começou o juízo e os livros foram abertos” (Dn 7,10). Haverá dois livros: o Evangelho e a consciência.
Naquele, ler-se-á o que o réu devia fazer; nesta, o que fez. Na balança da divina justiça não se pesarão as riquezas, nem as dignidades e a nobreza das pessoas, mas somente suas obras. “Foste pesado na balança — diz Daniel ao rei Baltasar — e achado demasiadamente leve” (Dn 5,27). Quer dizer, segundo o comentário do Padre Álvares, que “não foram postos na balança o ouro e as riquezas, mas unicamente a pessoa do rei”. Virão logo os acusadores e em primeiro lugar o demônio. “O inimigo estará ante o tribunal de Cristo, — disse Santo Agostinho — e referirá as palavras de tua profissão”. “Recordar-nos-á tudo quanto temos feito, o dia e a hora em que pecamos”. Referir as palavras de nossa profissão significa que apresentará todas as promessas que fizemos, que esquecemos e, por conseguinte, deixamos de cumprir. Denunciar-nos-á nossas faltas, designando os dias e as horas em que as cometemos. Depois dirá ao juiz: “Senhor, eu não sofri nada por este réu; mas ele vos abandonou, a vós que destes a vida para salvá-lo, e se fez meu escravo. É a mim que ele pertence...” Os anjos da guarda também serão acusadores, segundo diz Orígenes, e “darão testemunho dos anos em que procuraram a salvação do pecador, a despeito do desprezo deste a todas as inspirações e avisos”.
Então, “todos os meus amigos o desprezarão” (Lm 1,2). Até as paredes, que viram o réu pecar, tornar-se-ão acusadoras (Hb 2,11). Acusadora será a própria consciência (Rm 2,15-16). Os pecados — disse São Bernardo — clamarão, dizendo: “Tu nos fizeste; somos tuas obras, e não te abandonaremos”. Acusadoras, por fim, serão as Chagas do Senhor, como escreve São João Crisóstomo: “Os cravos se queixarão de ti; as cicatrizes contra ti falarão; a cruz clamará contra ti”.
Passar-se-á depois, ao exame. Disse o Senhor: “Com a luz na mão, esquadrinharei Jerusalém” (Sf 1,12). A luz da lâmpada penetra todos os recantos da casa, escreve Mendoza. Cornélio a Lápide, comentando a expressão in lucernis, do texto, afirma que Deus apresentará ao réu os exemplos dos Santos, todas as luzes e inspirações com que o favoreceu, todos os anos de vida que lhe concedeu para que os empregasse na prática do bem (Lm 1,15). Até de cada olhar tens que dar conta, exclama Santo Anselmo. Assim como se purifica e aquilata o ouro, separando- o das escórias, assim se aquilatarão e examinarão as confissões, comunhões e outras boas obras (Ml 3,3). “Quando tomar o tempo, julgarei as justiças”. Em suma, diz São Pedro que no juízo até o justo a custo será salvo (1Pd 4,18). Se se deve dar conta de toda palavra ociosa, que contas se darão de tantos maus pensamentos voluntários, de tantas palavras impuras?. Especialmente falando dos escândalos, que lhe roubam inúmeras almas, diz o Senhor: “Eu lhes sairei ao encontro como uma ursa a quem roubaram os seus cachorros” (Os 13,8). E, finalmente, referindo-se às ações do réu, dirá o Supremo Juiz: “Dei-lhe o fruto de suas mãos”, quer dizer, paguei-lhe conforme suas obras(Pr 31,31).
 
AFETOS E SÚPLICAS
 
Ah! meu Jesus, se quisésseis pagar-me agora segundo as obras que pratiquei, o inferno seria a minha recompensa... Quantas vezes, ó Deus, escrevi minha própria condenação a esse cárcere de tormentos! Imensa é minha gratidão pela paciência com que me tendes aturado. Ó Senhor, se agora tivesse de apresentar-me a vosso Tribunal, que conta daria de minha vida? Esperai, meu Deus, um pouco mais; peço-vos que não me julgueis ainda (Sl 142,2). Que seria de mim, se neste momento me julgásseis? Esperai-me, Senhor! E já que haveis usado comigo de tanta clemência, concedei-me ainda a misericórdia de uma grande dor de meus pecados. Arrependo-me, ó Sumo Bem, de ter-vos desprezado tantas vezes. Amo-vos sobre todas as coisas... Eterno Pai, perdoai-me por amor de Jesus Cristo e, pelos seus merecimentos, concedei-me a santa perseverança... Meu Jesus, tudo espero do infinito valor do vosso sangue precioso.
Maria Santíssima, em vós confio... Eia, ergo, advocata nostra, illos tuos misericordes oculos ad nos converte. Lançai um olhar sobre minha grande miséria e compadecei-vos de mim.

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