25 de abril de 2014

XXV de Abril.

Jesus, o médico de nossas almas.

Et orietur vobis, timentibus nomen meum, sol iustitiae, et sanitas in pennis eius — “Para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, e estará a salvação nas suas azas” (Mal. 4, 2).

Sumário. Por muito que os médicos terrestres amem os doentes, nenhum tomará sobre si as doenças a fim de as curar. Somente Jesus-Menino foi o médico tão caridoso, que tomou sobre si todas as nossas enfermidades, e para delas nos livrar tomou o remédio amargoso de uma vida de trabalhos contínuos e de uma morte dolorosíssima sobre um patíbulo infame. Admiremos a grande bondade do divino Redentor, agradeçamo-la e retribuamos-Lhe com o nosso amor.

I. Virá, disse o Profeta, o vosso médico para curar os enfermos; e virá depressa, qual pássaro que voa, ou qual sol que ao sair no horizonte já envia os seus raios até a extremidade da terra. Mas eis que já veio. Consolemo-nos e rendamos-Lhe ações de graças. Diz Santo Agostinho: Descendit usque ad lectum aegrotantis. Jesus abaixou-se até ao leito do enfermo, quer dizer, até tomar a nossa carne; porquanto os corpos são como que os leitos das nossas almas enfermas. Por muito amor que os outros médicos tenham aos doentes, por muito que se esforcem para lhes restituir a saúde: qual é o médico que para curar um doente toma sobre si a doença? Tal médico tem sido tão somente Jesus Cristo, que para nos curar tomou sobre si todas as nossas enfermidades.

Nem quis mandar outro qualquer; Ele mesmo quis vir para desempenhar o ofício de médico piedoso, a fim de ganhar todo o nosso amor: Languores nostros ipse tulit, et dolores nostros ipse portavit (1) — “Tomou sobre si as nossas fraquezas, e Ele mesmo carregou com as nossas dores”. Com o seu próprio Sangue quis Jesus sarar as nossas chagas e com a sua morte livrar-nos da morte eterna por nós merecida. Numa palavra, quis tomar o remédio amargo de uma vida de trabalhos contínuos e de uma morte crudelíssima, para nos dar a vida e nos livrar de todos os nossos males.

Calicem quem dedit mihi Pater, non bibam illum? (2) — “Não queres”, disse o Senhor a  São Pedro, “que eu beba o cálix que o Pai meu deu”. Foi necessário que Jesus Cristo abraçasse tantas ignominias, para curar o nosso orgulho; que abraçasse uma vida tão pobre, para curar a nossa cobiça; que abraçasse um oceano de sofrimentos até morrer de pura dor, para sarar a nossa avidez de prazeres.

II. Para retribuirmos a Jesus o seu entranhado amor para conosco, amemo-Lo com todas as nossas forças, e não recuemos diante de qualquer sacrifício por amor d'Ele. E visto que Ele disse que considera como feito a si o que fizermos a um dos seus irmãos mais pequeninos (3), amemos também ao próximo por amor de Jesus Cristo; saibamo-nos compadecer das suas fraquezas e socorre-lo em suas necessidades.

Ó amado Redentor, seja para sempre louvado e bem-dito o vosso amor! Que seria da minha alma,enferma e chagada como estava pelos meus pecados, se Vós, ó meu Jesus, a não pudésseis e quisésseis sarar? Ó Sangue do meu Salvador, em vós confio; limpai-me e curai-me. Meu amor, pesa-me de Vos haver ofendido. Para me provar o amor que me tendes, levastes uma vida tão cheia de tribulações e uma morte tão margosa. Também eu quisera provar-Vos o meu amor; mas que posso fazer, fraco e enfermo como sou? Ó Deus de minha alma, Vós sois todo-poderoso, Vós me podeis curar e fazer-me santo.

Ó Senhor, acendei em mim um grande desejo de Vos dar gosto. Renuncio a todas as minhas satisfações para Vos agradar, meu Redentor, que tanto mereceis que a todo o custo Vos procuremos agradar. Ó Bem supremo, amo-Vos e estimo-Vos acima de todos os bens; fazei com que Vos ame de todo o meu coração e Vos peça sempre o vosso amor. Pelo passado Vos ofendi e não Vos amei, porque não pedi o vosso amor. Agora Vo-lo peço, juntamente com a graça de o pedir sempre. Atendei-me pelos merecimentos da vossa Paixão. — Ó Maria, minha Mãe, vós estais sempre disposta a atender a quem vos roga, e amais a quem Vos ama: amo-vos, minha Rainha; alcançai-me a graça de amar a Deus; é tudo quanto vos peço. (*II 342.)

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1. Is. 53, 4.
2. Io. 18, 11.
3. Matth. 25, 40.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 377-379.)

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