A única religião
A transfiguração de Jesus no Tabor é uma das cenas mais resplandecentes da vida de Jesus.
Homem perfeito e Deus perfeito, Jesus se encontrava em toda a parte homem pela humildade e Deus pelo poder.
Em cima do Tabor, Ele depõe um instante o manto das aparências humildes e deixa a majestade divina aureolar a sua fronte.
Tal manifestação gloriosa era necessária para firmar a fé de seus discípulos no meio das cenas angustiosas da sua paixão que devia seguir-se em breves dias.
É também a imagem de uma outra cena que devia prolongar-se através dos séculos: e a qual vamos meditar hoje
1o. A presença corporal de Jesus.
2o. A sua presença eucarística.
Este duplo fato é como a transição da religião em geral para a única religião verdadeira: a religião católica.
I. A presença corporal
O mundo clamava pelo Redentor. O Rorate, coeli, desuper dos profetas, era um hino que brotava de todos os corações... E eis que um dia veio este Salvador esperado.
No centro do mundo..., no meio dos tempos, sessenta séculos após a criação... na grande unidade material que o povo romano havia realizado... a grande unidade religiosa apareceu.
O Verbo se fez carne e habitou entre nós. Nós O vimos, diz São João, ouvimo-Lo, tocamo-Lo com nossas mãos; e encantados, nos reclinamos sobre o seu peito.
Oh! Maravilha inefável que o mundo em seus mais ardentes anelos não teria podido imaginar: os pequeninos viram-no de perto... os pobres tocaram-no com as mãos... E que digo? Ele deixou as criancinhas subirem sobre seus joelhos e nem sequer afastou de si os pobres pecadores!
Uma pobre mulher enferma beijou a orla de seu vestido... E encorajada pelo amor, uma outra mulher teve a ousadia de tomar em suas mão os pés do Filho de Deus... estes pés virginais e sagrados, banhando-os com suas lágrimas e purificando-se pelos beijos que sobre eles depositava.
Outra vez, no auge da ousadia do amor, um coração virginal, na maior das intimidades da pureza, reclinou a cabeça sobre o peito divino do Redentor e ali adormeceu num êxtase celestial.
Isso durou três anos... Depois, para acabar de comover e atrair os corações, este Jesus subiu ao Calvário, na glória de uma beleza até então desconhecida, pois era a beleza do sofrimento, da divindade e do amor!
E enquanto o Filho de Deus morria para dar à humanidade a medida do seu amor... a pobre humanidade desfalecia de dor, aos pés de sua cruz, na pessoa de Maria... suspendia-se nas suas chagas na pessoa da Madalena... fixava sobre seu semblante exangue e agonizante, olhares amorosos, na pessoa de João... o desprendia da cruz na pessoa de Nicodemos e antes de sepultá-lo no túmulo, o cobria de beijos na pessoa de sua Mãe.
É a grande, a sublime, união de Deus e do homem, do pai e do filho.
II. A presença eucarística
Oh, como tudo isso é belo e divinamente louco de amor.
Mas, ó meu Deus! Não me sinto satisfeito... quero mais do que isso: A presença dos corpos tende para a presença das almas.
Enfim, o que se ama é a alma: É a alma, e entretanto é impossível segurá-la! Ela foge, ela se esconde e nos mostra apenas a sua sombra, projetada sobre o corpo.
Nós precisamos da alma de Jesus! Eis porque Ele disse: É preciso que eu vá — Expedit vobis ut ego vadam!
Jesus nos diz: Eu vou retirar-me... o meu corpo vai desaparecer, mas não é a ausência que vai suceder-lhe: é uma presença mais alta.
Eis porque, na última ceia, este mesmo Jesus toma o pão e muda-o em sua substância e diz: Tomai e comei, isto é o meu corpo... Aquele que come minha carne fica em mim e eu nele. Eis a união das almas.
Jesus nos dá o seu corpo, mas este corpo é o intermediário da união das almas. É um corpo espiritualizado, envolto em frágeis aparências de pão, para impressionar os nossos sentidos e avisar-nos de que Deus está ali.
A nossa fé deve penetrar este véu tênue que flutua diante dos nossos olhos! Sob estas aparências tocamos o corpo e o sangue do Salvador, mas estamos em presença da sua alma.
É por isso que a Igreja em seu canto nos diz: O que Deus te dá, com o corpo é o sangue de Jesus Cristo, é a sua alma e a sua divindade.
Oh! Meus olhos, fechai-vos!... Recolhe-te, oh, minha alma, e sente o contato espiritual da alma de Jesus. Alma à alma!... Coração à coração... sem intermediário... sem obstáculo: Tu in me, et ego in te! Eis o mistério eucarístico! Quem comunga nada tem que invejar aos contemporâneos de Jesus Cristo! Não o vê com os olhos... não o apalpa com as mãos... Há mais do que isso, as almas se unem, os corações se tocam.
É a última palavra de união neste mundo!
III. Conclusão
Tiremos a conclusão: a Eucaristia é o termo de união entre Deus e o homem! A presença de Jesus Eucarístico é a prova da verdade da religião... é o estandarte que indica a todos, entre as várias seitas religiosas, qual é a única religião verdadeira.
Jesus veio a este mundo e Ele permanece neste mundo. Esta permanência é o sinal da verdade... e o distintivo da religião verdadeira.
Nenhuma seita religiosa teve a ousadia de dizer que tem a pessoa e a alma de Jesus Cristo em seu meio: Todos contentam-se com o Cristo histórico... o Cristo Evangélico... de há 1940 anos... Só a Religião Católica clama bem alto: Eu venero o Cristo Evangélico: é a sua palavra, mas eu possuo o Cristo vivo, o Cristo inteiro... o Cristo Eucarístico... o Cristo que não morre... mas continua a viver entre nós, no meio de nós, no peito de cada um de nós.
Que prova admirável, apologética, da religião divina, da única religião fundada pelo próprio Cristo! É a transição lógica entre a religião em geral e a religião única e verdadeira: a religião cristã.
EXEMPLOS
1. A religião verdadeira
Henrique IV, rei da França, sendo exortado pelos seus amigos a abjurar o protestantismo, no qual havia sido educado, perguntou aos Bispos católicos se podia salvar-se na religião católica.
Responderam-lhe que não somente podia salvar-se nela, mas fora desta religião não havia salvação.
Dirigiu-se depois aos pastores protestantes, que lhe confirmaram que na religião católica a salvação é possível.
- Se assim é, respondeu o rei, vou abraçar a religião católica, pois numa questão tão importante convém tomar o partido mais seguro. E fez-se católico.
O partido que abraçou não era somente o mais seguro... era o único seguro, pois não há duas religiões verdadeiras, mas uma só.
2. A lâmpada do santíssimo
Em Londres, no ano de 1900, saiu um dia de casa a passear com a filhinha de seis anos, o ministro protestante, reverendo dr. Mann Hils.
Ao passar por uma igreja católica, lembrou-se o ministro de entrar com a pequena. A menina fixou a atenção na bonita lâmpada do Santíssimo, que, nesse momento, derramava uma claridade meiga e suave.
- Para que é a lâmpada? Perguntou-lhe a criança.
- Para mostrar, respondeu-lhe o pai, que ali no altar, está Jesus, por detrás daquela portinha dourada.
- Ah! Eu quisera ver a Jesus!
- Filhinha, não pode ser. A porta está fechada à chave; além disso há umas cortinas, ficando Jesus detrás das mesmas!...
- Papai, insistiu a pequena, eu quisera ver a Jesus!...
O ministro procurou entreter a filhinha mostrando-lhe outras particularidades da igreja, e a conduziu para fora.
Passeando pela cidade, a menina, de vez em quando, perguntava por Jesus.
Dadas algumas voltas, o pai entrou num templo protestante.
Aí a criança relanceou a vista por todos os lados e não vendo lâmpada alguma, perguntou:
- Papai, por que é que não vejo lâmpada aqui?
- Porque... porque aqui não está Jesus, respondeu-lhe timidamente o ministro.
Então nada mais houve. A menina sonhou muitas vezes naquela noite, falando alto sobre Jesus.
Durante o dia seguinte, com freqüência, repetia que queria ver a Jesus.
Tal persistência produziu efeito no ânimo dos pais, que terminaram por abraçar a religião católica e com ela a pobreza, pois a conversão lhes fez perder uma renda de mil libras anuais, de que gozava o marido sendo ministro protestante.
(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 126 - 131)
Nenhum comentário:
Postar um comentário