15 de março de 2014

Pensamentos Consoladores de São Francisco de Sales.

15/25  -  Excelência da confiança em Deus.

A confiança é a virtude das virtudes: é a nata da caridade: o odor da humildade, o mérito da paciência e o fruto da perseverança. Grande é esta virtude; e bem digna de ser praticada pelos filhos mais queridos de Deus. Meu Pai! diz o Salvador na cruz;" nas vossas mãos entrego o meu espírito (Lucas XXIII, 46)". É verdade, queria Ele dizer, que tudo esta consumado e que cumpri tudo o que me tinhas ordenado (João XIX, 30 e XVII, 4); mas contudo se é da vossa vontade que fique mais tempo na Cruz, para sofrer mais, estou pronto; ponho nas vossas mãos o meu espírito; podeis fazer dele o que vos aprouver. Devemos fazer outro tanto em todas as ocasiões que soframos, quer gozemos de algum contentamento; deixando-nos assim  conduzir a bel prazer da vontade divina, sem nunca nos deixarmos vencer pela nossa vontade particular. Nosso Senhor ama com um amor extremamente terno aqueles que assim se entregam ao seu cuidado paternal, deixando-se governar pela sua providência sem se lembrarem se os afetos desta providência, são doces ou amargos, mas ficando certos  de que nada lhes enviaria este Coração Paternal que não fosse para seu bem e utilidade, contanto que nele ponham toda a confiança e digam: " Meu Pai, ponho o meu espírito, a minha alma, o meu corpo e tudo que possuo, nas vossas mãos, para fazerdes o que quiserdes, segundo o vosso amor. Suceda o que suceder, nada me fará demover da resolução em que estou de aquiescer a tudo o que Deus ordenar de mim e de tudo quanto me pertence. Sim; quero confundir a minha vontade com a de Deus, ou antes, quero que Nosso Senhor queira em mim, tudo o que lhe agradar e entrego nas suas mãos todo o cuidado de mim mesmo". Algumas vezes Nosso Senhor quer que as almas escolhidas para serviço de sua divina Majestade se alimentem com sua resolução firme e inflexível de perseverar ou o seguir entre as amarguras, desgostos, repugnâncias e asperezas da vida espiritual, sem consolações, prazer, ternuras e gostos, e que creem não serem dignas doutra coisa, seguindo assim o  Salvador com atilado espírito, sem outro apelo além da divina vontade, que assim o quer. E é assim como eu desejo que nós pratiquemos. Porque nunca nos veremos reduzidos a tal extremo, convém que possamos espalhar diante da Majestade divina o perfume de uma santa submissão à sua santíssima vontade e uma contínua promessa de o não ofender. Convém ter uma contínua igualdade de coração, no meio de uma tamanha desigualdade de acontecimentos, e embora todas as coisas variem continuamente em torno de nós, permaneçamos constantes e imóveis, com o olhar fixo só em Deus. Anime-se pois tudo em volta de nós; não digo só em volta, mas em nós mesmos; esteja a nossa alma alegre ou triste, com doçura ou amargura, em paz ou com perturbações, em luz ou em trevas, em tentação ou em repouso, cheia de gosto ou desgostosa; queime-a o sol ou refresque-a o orvalho, é preciso que a nossa vontade mire ao gosto de Deus, seu único e soberano Bem. É verdade que se torna necessário ter uma grande confiança para assim se abandonar totalmente à Providência divina: mas também, quando nós tudo abandonamos, Nosso Senhor tudo toma a seu cargo e a tudo dá andamento. Se nós, pelo contrário, reservamos alguma coisa por não confiarmos totalmente n'Ele, deixa-nos, como se dissesse: "Pensais que sois bastante sábios para praticardes assim sem Mim; Eu vos deixarei governar e vereis o que vos acontece".  Santa Madalena, que se tinha abandonado completamente a Nosso Senhor, permanecia a seus pés e escutava-O enquanto Ele falava, e quando Jesus cessava de falar, também ela cessava de escutar, mas não se afastava d"Ele; assim a alma abandonada à  Nosso Senhor, fica entre os seus braços, como um filho no seio de sua mãe, o qual, quando a mãe o coloca no chão para ele andar, anda até que a mãe pegue nele, e quando ela o quer levar entrega-se-lhe. Não sabe nem pensa para onde vai; mas deixa-se conduzir para onde a mãe quer; da mesma forma a alma, desejando a vontade e o prazer de Deus, em tudo o que lhe sucede, deixa-se levar e caminha avante, fazendo com alegria tudo o que a Deus apraz.

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