17 de março de 2014

Pensamentos Consoladores de São Francisco de Sales.

14/25  -  Como Deus esta cheio de misericórdia para com os próprios condenados.

Devemos atender mui seriamente ao modo como Deus exerce a sua misericórdia por meio de tão diversos favores, como os que distribui aos anjos e aos homens, no céu e na terra, e como aplica a sua justiça por uma  infinita variedade de penas e castigos; porque a sua justiça e misericórdia são igualmente amáveis e admiráveis em si mesmas; porque uma e outra não são mais do que única bondade e divindade. Mas assim como os efeitos da sua justiça são ásperos e cheios de amargura, adoça-os sempre misturando-os com os da sua misericórdia, fazendo com que, no meio das águas do dilúvio da sua justa indignação, se conserve a oliveira verdejante, e a alma devota, como uma casta pomba, a possa enfim encontrar, se quiser meditar amorosamente, a maneira das pombas. Assim a morte, as aflições, os trabalhos, as canseiras de que a nossa vida esta cheia e que por justa ordem de Deus são os castigos do pecado, são também, pela sua misericórdia, os degraus para subir ao céu, são meios para aproveitar na graça e méritos para obter a glória. Bem aventurados são a pobreza, a fome, a tristeza, a doença, a morte, a perseguição; porque são justamente punições de nossas faltas, mas punições de tal modo suaves, ou como dizem os médicos, de tal modo aromatizadas pela suavidade, bondade e clemência divina, que a sua amargura é muito agradável. Coisa estranha, mas verdadeira! Se os condenados não estivessem cegos pela obstinação e ódio que tem a Deus, achariam consolação em suas penas e veriam a misericórdia divina de mistura com as chamas que eternamente os abrasam. De maneira que os santos, considerando por uma parte os tormentos dos condenados, tão horríveis e temerosos, louvam a justiça de Deus e exclamam: "Vós oh! Deus, sois justo e equitativo, e a justiça reina sempre em Vossos juízos". Mas, considerando por outro lado que estas penas, ainda que eternas e incompreensíveis, são muito menores do que os crimes pelos quais são infligidas, arrebatados pela infinita misericórdia de Deus, exclamarão: "Oh Deus! como sois bom, porque no auge da vossa cólera, não podeis conter as torrentes das vossas misericórdias sem que derramem as suas águas nas chamas do inferno!" "Não esquecestes a bondade da vossa alma, nem ao lançar os condenados nas chamas do inferno eterno, apesar do vosso furor, e conservando todas as características da doçura, misturada de compaixão, por entre os justos golpes da punição merecida".

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