Terceira Meditação:
Do grande mal que fazem os que ocultam os pecados na confissão.
Do grande mal que fazem os que ocultam os pecados na confissão.
Pro anima tua ne confundaris dicere verum — “Não te envergonhes de falar a verdade, quando se trata da tua alma” (Ecclus. 4, 24)
Sumário. O demônio, depois de obcecar tantas pobres ovelhas de Jesus Cristo, induzindo-as a pecar, faz como o lobo; apanha-as pelo pescoço, a fim de que não gritem por socorro, confessando-se sinceramente. E deste modo fazendo que cometam novo pecado, de ordinário mais grave que o primeiro, como é o sacrilégio, leva-as com segurança ao inferno. Oxalá que aquelas almas desgraçadas compreendessem o grande mal que causam a si mesmas, e o grande bem de que se privam pela maldita vergonha na confissão!
I. Diz Santo Agostinho que o lobo, para que a ovelha lhe não escape, a apanha pelo pescoço, de modo que não possa gritar por auxílio balando, e assim a leva com segurança, e a devora. O mesmo pratica o demônio com tantas infelizes ovelhas de Jesus Cristo. Depois de obcecá-las para que não vejam o mal que cometem ofendendo a Deus, apanha-as pelo pescoço, para que não se confessem. Deste modo fá-las cometerem pecado, de ordinário mais grave que o primeiro, como é o sacrilégio, e assim conduz a preza com segurança ao inferno. Oxalá que aqueles pecadores desgraçados compreendessem o grande mal que causam a si mesmos e o grande bem de que se privam pela maldita vergonha!
Nos tribunais da terra se diz que o que confessa é condenado; mas no tribunal de Jesus Cristo acontece o contrário: o que confessa é o que obtém o perdão. Mais, para quem cometeu um pecado grave, não há outro remédio de salvação, senão a confissão do pecado. Ou confissão, ou condenação! Não basta que se arrependa de coração; não basta que vá ao deserto e pratique a penitência mais sincera: Ou confissão, ou condenação!
Que esperança de salvação pode ter aquele que vai confessar-se, e, calando o pecado, se serve da confissão para mais ofender a Deus, e constituir-se mais escravo do demônio? Que dirias do enfermo que tomasse uma taça de veneno em vez do remédio que o médico lhe tinha ordenado? Ó céus! Que é a confissão para um pecador que cala os pecados, senão uma taça de veneno que lhe agrava a consciência com a malícia do sacrilégio?
Quando o confessor absolve o penitente, ministra-lhe o Sangue de Jesus Cristo, visto que o absolve pelos merecimentos deste sangue. Mas o que cala os pecados, calca aos pés o Sangue de Jesus, e, se além disso recebe a comunhão, atira em certo modo, como diz São João Crisóstomo, a hóstia consagrada aos esgotos. Daí provém que tais sacrilégios já nesta terra sofrem um inferno antecipado; como se carregassem com tantas víboras quantos são os sacrilégios que cometem.
Se ao menos os criminosos de tão nefandos excessos pudessem consolar-se com o pensamento: Ninguém conhecerá jamais o meu pecado. Não, porque o mesmo pecado que agora eles se recusam a confessar em segredo a um só homem, que tem compaixão e nunca dele poderá falar, a fé nos diz que, para maior confusão deles, o Senhor o manifestará no dia do juízo em presença dos Anjos e de todos os homens. Revelabo pudenda tua in facie (1) — “Descobrirei tuas infâmias diante de tua própria face”.
II. Ânimo, pois, meu irmão; se porventura tivesses cometido o erro de calar pecados por vergonha , escuta o que te aconselha Santo Ambrósio: O demônio tem preparado o processo de todos os teus pecados, para deles te acusar no tribunal de Deus. Queres fugir a esta acusação? Toma a dianteira a teu acusador, diz o Santo, acusa-te tu mesmo a um confessor: Praeveni accusatorem tuum. Basta que lhe digas: “Meu pai, tenho um escrúpulo sobre a vida passada, mas tenho vergonha de o dizer”. Basta que digas isso, porque será dever do confessor tirar-te do coração a serpente que te roa a consciência.
Ânimo pois: “Pelo amor de tua alma, não te envergonhes de dizer a verdade; há vergonha que traz consigo glória e graça”— Pro anima tua ne confundaris dicere verum (2). — Vai prontamente , ovelha perdida, Jesus Cristo te espera; tem os braços abertos para te perdoar e te abraçar, desde o momento em que confesses o teu pecado. Asseguro-te que depois de uma confissão completa, sentirás uma alegria tão grande, por teres limpado a tua consciência e recuperado a graça de Deus, que sempre bendirás a hora em que fizeste uma boa confissão.
Apressa-te, pois, a procurar o teu confessor, e não dês mais tempo ao demônio, para de novo te tentar; apressa-te, porque Jesus Cristo te está esperando. Qual bom pastor, deixa de novo as outras noventa e nove ovelhas, procura-te com ânsia e suspira pelo momento em que sobre os ombros te possa reconduzir ao aprisco e dizer aos anjos e santos do céu: Congratulai-vos comigo, porque achei a minha ovelha desgarrada (3) — Ó Eterno Pai, fortalecei tantos pobres pecadores para vencerem o respeito humano e fazerem confissão sincera de todos os seus pecados. Vós também, ó grande Mãe de Deus, e Refúgio dos pecadores, ajudai-os (*III 414)
Sumário. O demônio, depois de obcecar tantas pobres ovelhas de Jesus Cristo, induzindo-as a pecar, faz como o lobo; apanha-as pelo pescoço, a fim de que não gritem por socorro, confessando-se sinceramente. E deste modo fazendo que cometam novo pecado, de ordinário mais grave que o primeiro, como é o sacrilégio, leva-as com segurança ao inferno. Oxalá que aquelas almas desgraçadas compreendessem o grande mal que causam a si mesmas, e o grande bem de que se privam pela maldita vergonha na confissão!
I. Diz Santo Agostinho que o lobo, para que a ovelha lhe não escape, a apanha pelo pescoço, de modo que não possa gritar por auxílio balando, e assim a leva com segurança, e a devora. O mesmo pratica o demônio com tantas infelizes ovelhas de Jesus Cristo. Depois de obcecá-las para que não vejam o mal que cometem ofendendo a Deus, apanha-as pelo pescoço, para que não se confessem. Deste modo fá-las cometerem pecado, de ordinário mais grave que o primeiro, como é o sacrilégio, e assim conduz a preza com segurança ao inferno. Oxalá que aqueles pecadores desgraçados compreendessem o grande mal que causam a si mesmos e o grande bem de que se privam pela maldita vergonha!
Nos tribunais da terra se diz que o que confessa é condenado; mas no tribunal de Jesus Cristo acontece o contrário: o que confessa é o que obtém o perdão. Mais, para quem cometeu um pecado grave, não há outro remédio de salvação, senão a confissão do pecado. Ou confissão, ou condenação! Não basta que se arrependa de coração; não basta que vá ao deserto e pratique a penitência mais sincera: Ou confissão, ou condenação!
Que esperança de salvação pode ter aquele que vai confessar-se, e, calando o pecado, se serve da confissão para mais ofender a Deus, e constituir-se mais escravo do demônio? Que dirias do enfermo que tomasse uma taça de veneno em vez do remédio que o médico lhe tinha ordenado? Ó céus! Que é a confissão para um pecador que cala os pecados, senão uma taça de veneno que lhe agrava a consciência com a malícia do sacrilégio?
Quando o confessor absolve o penitente, ministra-lhe o Sangue de Jesus Cristo, visto que o absolve pelos merecimentos deste sangue. Mas o que cala os pecados, calca aos pés o Sangue de Jesus, e, se além disso recebe a comunhão, atira em certo modo, como diz São João Crisóstomo, a hóstia consagrada aos esgotos. Daí provém que tais sacrilégios já nesta terra sofrem um inferno antecipado; como se carregassem com tantas víboras quantos são os sacrilégios que cometem.
Se ao menos os criminosos de tão nefandos excessos pudessem consolar-se com o pensamento: Ninguém conhecerá jamais o meu pecado. Não, porque o mesmo pecado que agora eles se recusam a confessar em segredo a um só homem, que tem compaixão e nunca dele poderá falar, a fé nos diz que, para maior confusão deles, o Senhor o manifestará no dia do juízo em presença dos Anjos e de todos os homens. Revelabo pudenda tua in facie (1) — “Descobrirei tuas infâmias diante de tua própria face”.
II. Ânimo, pois, meu irmão; se porventura tivesses cometido o erro de calar pecados por vergonha , escuta o que te aconselha Santo Ambrósio: O demônio tem preparado o processo de todos os teus pecados, para deles te acusar no tribunal de Deus. Queres fugir a esta acusação? Toma a dianteira a teu acusador, diz o Santo, acusa-te tu mesmo a um confessor: Praeveni accusatorem tuum. Basta que lhe digas: “Meu pai, tenho um escrúpulo sobre a vida passada, mas tenho vergonha de o dizer”. Basta que digas isso, porque será dever do confessor tirar-te do coração a serpente que te roa a consciência.
Ânimo pois: “Pelo amor de tua alma, não te envergonhes de dizer a verdade; há vergonha que traz consigo glória e graça”— Pro anima tua ne confundaris dicere verum (2). — Vai prontamente , ovelha perdida, Jesus Cristo te espera; tem os braços abertos para te perdoar e te abraçar, desde o momento em que confesses o teu pecado. Asseguro-te que depois de uma confissão completa, sentirás uma alegria tão grande, por teres limpado a tua consciência e recuperado a graça de Deus, que sempre bendirás a hora em que fizeste uma boa confissão.
Apressa-te, pois, a procurar o teu confessor, e não dês mais tempo ao demônio, para de novo te tentar; apressa-te, porque Jesus Cristo te está esperando. Qual bom pastor, deixa de novo as outras noventa e nove ovelhas, procura-te com ânsia e suspira pelo momento em que sobre os ombros te possa reconduzir ao aprisco e dizer aos anjos e santos do céu: Congratulai-vos comigo, porque achei a minha ovelha desgarrada (3) — Ó Eterno Pai, fortalecei tantos pobres pecadores para vencerem o respeito humano e fazerem confissão sincera de todos os seus pecados. Vós também, ó grande Mãe de Deus, e Refúgio dos pecadores, ajudai-os (*III 414)
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1. Nah. 3, 5.
2. Ecclus. 4, 24.
3. Luc. 15, 6.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 503-506.)
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