23 de março de 2014

TERCEIRO DOMINGO DA QUARESMA.

Presença de Jesus no mundo

Jesus expeliu um demônio e as multidões ficaram maravilhadas de seu poder, diz o Evangelho.

O Salvador aproveita a ocasião para fazer uma instrução magistral sobre o poder e o reino de Deus, mostrando-lhes que o exercício deste poder é uma prova de sua divindade.

Para os judeus, a presença de Jesus Cristo constitui, de fato, o reino de Deus, pois este reino é constituído pela presença de Deus que ordena e dos filhos que obedecem.

Jesus estava fisicamente presente durante a sua vida mortal... e, após a sua morte, Ele continua a estar conosco, tão bem como estava neste tempo.

É esta dupla presença que vamos meditar hoje:

1o. A presença física.
2o. A presença sacramental.

Estas considerações, sob o aspecto apologético, nos revelarão uma prova irrefutável e característica da verdadeira religião de Jesus Cristo.

I. A presença física

Jesus Cristo veio a este mundo para unir-se a seus filhos da terra, consolá-los e orientá-los no caminho do céu: — é o mistério da encarnação.

É a sua presença física, visível, palpável, presença que seria invisível, se não tivéssemos provas irrefragáveis da sua certeza:

O que foi desde o princípio (Deus), diz São João, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, e contemplamos, e apalparam as nossas mãos relativo ao verbo da vida... vos anunciamos. (1 João I. 1)

Examinando esta presença física de Jesus Cristo, por bela e sublime que seja, parece-nos entretanto faltar qualquer coisa... notamos-lhe limites que não satisfazem o espírito... limites de tempo, de espaço e de intimidade.

Ele vive sim, mas como?
Trinta e três anos passou na terra...
Trinta anos para sua Mãe querida!...
Três anos para todos!...
Um dia para Madalena!...
Uma hora para São João!...

Havia 60 séculos que a humanidade estava clamando por Ele... e tantos suspiros terminam com uma presença de 3 anos?

É impossível!... Há aqui um mistério!...

E onde se passaram estes 3 anos?

Num pequeno país, que não ultrapassava 20 léguas de circunferência.

A humanidade soluçara de esperança e soube da sua vinda depois de Ele ter desaparecido. Que barreira tremenda a do tempo e do espaço!

É preciso que esta barreira desapareça diante do amor de Deus e dos gemidos da humanidade.

E não somente encontro estas duas barreiras, mas há uma barreira mais elevada ainda: a da intimidade! Ou melhor: a falta de intimidade durante estes poucos anos.

Os corações que se amam querem ver-se, tocar-se, repousar sobre o peito um do outro.

O que nós amamos é a alma... queremos ver a alma... e esta alma nos escapa!

Percebemo-la na fronte, nos olhos, nos lábios.

É apenas uma sombra da alma, é certo, porém esta sombra é necessária.

Maria Santíssima, São José, Madalena, Pedro, João, viram esta sombra de perto, os habitantes da Judéia viram-na de longe... E nós, por termos vindo depois, não veríamos nada, nem de longe, nem de perto?

Entretanto nós amamos este Jesus, como O amavam os discípulos daquele tempo... e, por isso, nós também queremos vê-Lo, tocá-Lo, sentir a sua presença, ver a sombra da sua grande alma.

Como será... onde será... oh! Meu Deus? Pois é uma necessidade!

II. A presença sacramental

Aqui estamos em frente do mais sublime e do mais terno dos mistérios do amor divino: a sagrada Eucaristia, da qual Santo Agostinho dizia ser a extensão e a perpetuidade da encarnação.

A humanidade tem sido muitas vezes iludida em seus sonhos: ela não o pode ser neste sonho de possuir Jesus Cristo até o fim dos séculos.

Oh! Filho de Adão, toma o teu bastão de viandante e quaisquer que sejam as praias civilizadas ou bárbaras, onde te leve a providência; qualquer que se a igreja que encontrares: basílica soberba, ou choupana de palmeiras, encontrarás um altar, um tabernáculo e ao lado deste tabernáculo uma pequena lâmpada, que sempre arde. E que diz ela?

Ela te anuncia a eterna presença de Deus no seio da humanidade.

Nada temos a invejar aos habitantes da Judéia, que viviam perto de Jesus... nós O temos entre nós, de dia, de noite, pelos séculos afora.

Temos na Eucaristia o mesmo Jesus da Judéia e do céu!... É a mesma substância, é apenas o modo de ser que difere; falta apenas afastar o véu, penetrar a nuvem e teremos em nossas mãos o mesmo Jesus Cristo.

Isto é o meu corpo, dizia Ele na última ceia. E com este corpo, temos a sua alma, a sua pessoa inteira... e nesta pessoa temos Aquele que habita nela corporalmente, isto é: Quem me vê, vê também o meu Pai... Temos tudo!

Que nos fica a desejar, senão ver o que possuímos; retirar o véu para ver claramente, por uma visão manifesta, o que temos, mas que não vemos?

III. Conclusão

Eis como a presença de Jesus Cristo, na sagrada Eucaristia, é a prova sublime da religião verdadeira.

Uma religião que não nos dá a perpetuidade da presença de Jesus Cristo é uma religião falsa; mas a que nos diz: nós possuímos o Cristo vivo, o Cristo inteiro, o Cristo eterno entre nós, esta, e só esta é a única religião verdadeira.

As outras seitas religiosas nos apresentam um Cristo histórico, um Cristo morto, um Cristo fugitivo... tais religiões não correspondem às grandes esperanças da nossa alma, são pois religiões humanas, mortas.

Só a religião cristã nos apresenta o Cristo vivo, escondido, mas realmente possuído, cuja grandeza se oculta sob umas aparências simples, mas significativas... só ela é, pois, a religião divina: a religião verdadeira.

Deste modo a Eucaristia ou permanência de Jesus Cristo na Hóstia sagrada é a grande prova apologética da religião verdadeira, e nos transporta, de um salto, das suposições à realidade... das probabilidades à certeza, da esperança à possessão do bem esperado: Ubi Hostia, ibi religio vera.

EXEMPLOS

1. Visões de Santos

Muito santos tiveram a faculdade de sentir a presença da Sagrada Eucaristia, até à grande distância

Santa Ida, de Lovaina, sentia a presença de Nosso Senhor na consagração, no momento em que baixava sobre o altar.

Santa Collecta, percebia de longe o erro daquele que servia à Santa Missa, quando em vez de vinho, apresentava por engano água ao sacerdote, ou um vinho falsificado que não permitia a consagração.

Juliana, religiosa cisterciense, percebia de longe, fora da igreja, quando se retirava o Santíssimo Sacramento da Igreja de São Martinho, depois do ofício divino.

O venerável Casset, sentia o mesmo fato, à distância. Os franciscanos tendo-o convidado um dia para assistir a uma festa, quiseram experimentar a perspicácia sobrenatural do santo.

Retiraram o Santíssimo Sacramento do Tabernáculo, onde era conservado habitualmente, e o transferiram para outro altar lateral, sem entretanto, retirar a lâmpada do lugar acostumado.

Casset foi para Igreja com seu companheiro e vendo este último fazer a genuflexão diante do altar onde ardia a lâmpada do Santíssimo, lhe disse:

— Não é aqui que está o copo de Jesus Cristo, mas neste outro altar, onde não há lâmpada, pois os religiosos esconderam-no neste altar lateral.

São Francisco de Borgia era dotado do mesmo dom. Quando entrava numa igreja, ia direto para o lugar onde estava o Santíssimo Sacramento, mesmo quando nenhum sinal exterior denunciava a sua presença.

A Venerável Joana Matles distinguia uma Hóstia consagrada entre mil outras não consagradas.

2. São Gregório

Para a consolação dos fiéis, como para fortalecer-lhes a fé, Nosso Senhor levanta, às vezes, o véu que o esconde no Santíssimo Sacramento e mostra-se sob uma forma sensível.

Na primitiva Igreja, eram os fiéis que ofereciam o pão e o vinho para o santo Sacrifício.

Nesta ocasião, uma dama romana, recebendo um dia a Comunhão das mãos de São Gregório, testemunhou exteriormente uma leve dúvida, ouvindo chamar: corpo de Jesus Cristo, o pão que ela mesma havia fabricado.

O santo querendo firmar a fé vacilante desta cristã boa, mas fraca, depositou a Hóstia na pequena patena dourada, prostrou-se de joelhos e permaneceu uns instantes em oração.

Levantando-se, retomou a Hóstia, que estava visivelmente mudada em carne viva e sanguinolenta.

3. Aparição do Menino Jesus

Enquanto Pedro de Tolosa oferecia o santo Sacrifício, no momento da elevação, o Menino Jesus lhe apareceu resplandecente de uma formosura maravilhosa.

Ofuscado pela intensidade luminosa da visão, o santo fechava os olhos, porém, a visão continuava sempre.

Virando a cabeça de lado continuava a ver Nosso Senhor, ora em cima da sua mão, ora em cima do seu braço, para qualquer lado que se virava.

Este fenômeno se reproduziu todos os dias, durante três meses.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 133 - 140)

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