11 de março de 2014

Preparação para a Morte

PONTO III

Negócio importante, negócio único, negócio irreparável. Não há falta que se possa comparar, diz Santo Eusébio, ao desprezo da salvação eterna. To-dos os demais erros podem ter remédio. Perdidos os bens, é possível readquirir outros por meio de novos trabalhos. Perdido um emprego, pode ser recupera-do. Ainda no caso de perder a vida, se salvar a alma, tudo está preparado. Mas para quem se condena, não há possibilidade de remédio. Morre-se uma vez, e perdida uma vez a alma, está perdida para sempre. Só resta o pranto eterno com os outros míseros in-sensatos do inferno, cuja pena e maior tormento consiste em pensar que para eles já não há mais tempo de remediar sua desdita (Jr 8,20). Perguntai a esses sábios do mundo, mergulhados agora no fogo infernal, perguntai-lhes o que sentem e pensam; se estão contentes por terem feito fortuna na terra, mesmo que se condenaram à eterna prisão.
Escutai como gemem dizendo: Erramos, pois... (Sb 5,6). Mas de que lhes serve agora reconhecer o seu erro, quando já a condenação é irremediável para sempre? Qual não seria o pesar daquele que, tendo podido prevenir e evitar com pouco esforço a ruína de sua casa, a encontrasse um dia desabada, e só então considerasse seu próprio descuido, quando não houvesse já remédio possível? Esta é a maior aflição dos réprobos: pensar que perderam sua alma e se condenaram por sua culpa (Os 13,9). Disse Santa Teresa que, se alguém perde, por sua culpa, um vestido, um anel ou outro objeto, perde a tranqüilidade e, às vezes, não come nem dorme. Qual será, pois, ó meu Deus, a angústia do condenado quando, ao entrar no inferno, se vir sepultado naquele cárcere de tormentos, e, atendendo à sua desgraça, considerar que durante toda a eternidade não há de chegar remédio algum! Sem dúvida exclamará: “Perdi a alma e o paraíso, perdi a Deus; tudo perdi para sempre, e por quê? por minha culpa! E se alguém objetar: Mesmo que cometa este pecado, porque hei de me condenar?... Acaso, não poderei salvar-me? Responder-lhe-ei: Também pode ser que te condenes”. Ainda direi que até há mais probabilidade em favor de tua condenação, porque a Santa Escritura ameaça com este tremendo castigo aos pecadores obstina-dos, como tu o és neste instante. “Ai dos filhos que desertam!” (Is 30,1) — diz o Senhor. — “Ai daqueles que se afastam de mim” (Os 7,13). E não pões ao menos, com esse pecado cometido, a tua salvação eterna em grande perigo e grande incerteza? E qual é este negócio que assim se pode arriscar? Não se trata de uma casa, de uma cidade, de um emprego; trata-se, — diz São João Crisóstomo, — de padecer uma eternidade de tormentos 40 e de perder um paraíso de delícias. E este negócio, que tanto te deve importar, queres arriscá-lo por um talvez? “Quem sabe — dizes, — quem sabe se me condenarei? Espero que Deus mais tarde me há de perdoar”.
E entretanto?... Entretanto, por ti mesmo te condenas ao inferno.
Por acaso te atirarias a um poço, dizendo: talvez escape da morte? — Não, de certo. Como podes ex-por tua eterna salvação numa tão frágil esperança, num quem sabe? Oh! quantos, por causa dessa maldita falsa esperança, se perderam!... Não sabes que a esperança dos obstinados no pecado não é esperança, mas presunção e ilusão que não promovem a misericórdia divina, mas provocam sua indignação? Se dizes que presentemente não estás em estado de resistir às tentações, à paixão dominante, como resistirás mais tarde, quando, em vez de aumentar, te faltará a força pelo hábito de pecar? Por uma parte, a alma estará mais cega e mais endureci-da na malícia, e por outra faltar-lhe-á o auxílio divino... Acaso, esperas que Deus aumente para ti suas luzes e suas graças depois que tu hajas aumentado ilimitadamente tuas faltas e pecados?

AFETOS E SÚPLICAS

Ah, meu Jesus! Atendendo à morte que por mim padecestes, aumentai minha esperança. Temo que, no fim de minha vida, o demônio me faça cair em desespero, em vista das inúmeras infidelidades que para convosco hei cometido. Quantas vezes prometi não tornar a ofender- vos, movido pelas luzes que me haveis dado, e voltei a afastar-me de vós na esperança do perdão. Foi por não me haverdes castigado, que tanto vos ofendi! Porque usastes de misericórdia para comigo, que tantos ultrajes vos fiz!? Dai-me, meu Redentor, antes que deixe esta vida, profundo e verdadeiro arrependimento de meus pecados. Pesa-me, ó Suma Bondade, de vos ter ofendido, e prometo firmemente antes morrer mil vezes que separar-me de vós... Permiti, entretanto, que ouça as palavras que dissestes a Santa Madalena: “Teus pecados es-tão perdoados” (Lc 7,48), e inspirai-me grande dor de minhas culpas antes que chegue o transe da morte. Doutro modo, receio que essa hora vá trazer-me in-quietação e desgraça. Naquele momento extremo, vossa presença não me cause receio, meu Jesus crucificado! Se morresse agora, antes de chorar minhas culpas, antes de vos amar, então vossas chagas e vosso sangue me causariam mais susto que esperança. Não vos peço, pois, consolo e bens terrestres para o resto da vida. Peço-vos somente amor e dor. Ouvi-me, amantíssimo Salvador, por aquele amor que vos fez sacrificar por mim a vida no Calvá-rio...
Maria, minha Mãe, alcançai-me estas graças uni-das à da perseverança até à morte.

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