23 de março de 2014

Pensamentos Consoladores de São Francisco de Sales.

18/25 -  Deus é nosso Pai.

Bendizer a Deus e agradecer-lhe por todos os sucessos que a sua Providência ordena, é na verdade uma santa ocupação; mas se, ao passo que deixamos a Deus o cuidado de fazer em nós o que lhe aprouver sem atendermos ao que lá se passa, embora o sintamos bem, podíamos divertir o nosso coração e aplicar a nossa atenção à bondade e doçura divinas, bendizendo-as não só nos efeitos e sucessos que ordena, mas a ele mesmo e à sua própria excelência, faremos sem dúvida um exercício mais perfeito. Empreguemos uma parábola pois que este método foi agradável ao soberano Mestre do amor que nós ensinamos. A filha de um excelente médico cirurgião tinha uma febre contínua, e sabendo que seu pai a amava ternamente, dizia a uma de suas amigas: "Sofro muito mas não penso nos remédios, porque não sei o que serviria para a minha cura. Desejaria uma coisa; ser-me-ia necessária outra. Não lucrarei em muito mais em deixar este cuidado a meu pai que sabe, pode e deseja tudo o que se requer para a minha saúde? Faria mal em pensar nisso porque ele pensa bastante em mim, faria mal em desejar alguma coisa porque ele deseja tudo o que é conveniente. Esperarei pois que ele queira o que for mais próprio e não me recrearei senão em contemplá-lo quando estiver perto de mim, testemunhar-lhe o meu filial amor e a minha perfeita confiança". E, depois de dizer estas palavras, adormecem, e então o pai julgando a ocasião própria para a sangrar, preparou tudo, e chegando-se a ela quando acordou e informando-se como dormira, perguntou-lhe se ela não queria sangrar para sarar: "Meu pai, respondeu ela, eu sou vossa; não sei o que devo querer e fazer para sarar; vós é que deveis querer e fazer por mim tudo o que achardes conveniente: quanto a mim basta honrar-vos e amar-vos de todo o coração como o faço". Então comprimiu-lhe o braço e o próprio pai dirigiu a lanceta para a veia; mas enquanto feria e jorrava o sangue, nunca aquela donzela olhou para o seu braço ou para o sangue, que saía; mas tendo os olhos fitos no rosto do seu pai não dizia senão:" Meu pai ama-me muito e eu sou sua ". E, quando a operação estava concluída, não lhe agradeceu mas repetiu mais uma vez as palavras de afeto e confiança filial. Ora dizei-me: esta filha não testemunhou um amor mais atento e sólido para com seu pai do que se lhe tivesse pedido os remédios mais próprios para seu mal, se olhasse como lhe abriam a veia, ou como jorrava sangue, e lhe agradecesse com muitas palavras? Ninguém dúvida disto; porque se ela tivesse pensado em si nada teria ganho, a não ser um cuidado inútil, pois que bastante tinha por ela o pai. Olhando para o braço, que teria feito senão assustar-se? E agradecendo a seu pai, que teria feito senão um culto a gratidão? Não fez pois melhor em se ocupar toda em atos de amor filial, infinitamente mais agradável para o pai, do que qualquer outra virtude? "Os meus olhos estão sempre fixos no Senhor, para que Ele aparte os pés dos laços e enganos". Caístes vós nos laços da adversidades? Não olheis para a vossa desventura nem para os laços em que caístes, mas para Deus e deixai-o obrar e Ele terá cuidado de vós. " Dirige o teu pensamento a Ele e Ele te nutrirá". Porque cuidastes em querer ou não querer os sucessos e acidentes do mundo pois que não sabes o que deves querer, mas sim Deus, sem tu disso cuidares? Espera pois com espírito sossegado os efeitos do prazer divino e seja suficiente para ti a sua vontade, pois que é sempre bom e assim o ordenou à sua amada, Santa Catarina de Sena: "Pensa em mim, lhe disse, que eu penso em ti". Fitemos pois cem vezes ao dia esta amorosa vontade de Deus, e fundindo nela a nossa vontade, exclamemos devotamente: Oh! bondade de doçura infinita, quanto é amável  a vossa vontade! Quanto são desejáveis os vossos favores! Criastes-nos para a vida eterna, e os vossos peitos maternais, cheios de um amor incomparável, abundam em leite de misericórdia, seja para perdoar aos penitentes, seja para aperfeiçoar os justos. Ah! porque não unimos pois a nossa vontade, como as criancinhas se unem ao seio da mãe, para nos amamentardes com o leite das vossas bençãos eternas?!

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