17 de março de 2014

Preparação para a Morte

PONTO II

Se a árvore cair para a parte do meio-dia ou para a do norte, em qualquer lugar onde cair, ali ficará (Ecl 1,3). Para o lado em que cair, na hora da morte, a árvore de tua alma, ali ficará para sempre. Não há, pois, termo médio: ou reinar eternamente na glória, ou gemer como escravo no inferno. Ou sempre ser bem-aventurado, num mar de dita inefável, ou ficar para sempre desesperado num abismo de tormentos.
São João Crisóstomo, considerando que aquele rico, qualificado de feliz no mundo, foi logo condena-do ao inferno, enquanto que Lázaro, tido como infeliz porque era pobre, foi depois felicíssimo no céu, ex-clama: “Ó infeliz felicidade, que trouxe ao rico eterna desventura!... Ó feliz desdita, que levou o pobre à felicidade eterna!” De que serve inquietar-se, como fazem alguns, dizendo: “Sou réprobo ou predestina-do?...” Quando se derruba uma árvore, para que lado cai?... Cai para onde está inclinada... Para que lado te inclinas, meu irmão?... Que vida levas?... Procura inclinar-te sempre para Deus; conserva-te na sua graça, evite o pecado, e assim te salvarás e serás predestinado ao céu. Para evitar o pecado, tenhamos presente sempre o grande pensamento da eternidade, como com razão lhe chama Santo Agostinho. Es-te pensamento moveu muitos jovens a abandonar o mundo e a viver na solidão para se ocuparem unica-mente dos negócios da alma. E acertaram efetiva-mente, pois agora no céu se regozijam de sua resolução, e poderão regozijar-se por toda a eternidade.
Uma senhora, divorciada de Deus, converteu-se e foi ter com o beato M. Ávila, que se limitou a dizer-lhe: Pensai, senhora, nestas duas palavras: sempre, nunca. O Padre Paulo Ségneri, por um pensamento que teve certa vez da eternidade, não pôde conciliar o sono, e desde então se entregou à vida mais austera.
Refere Dressélio que um bispo, dominado pelo pensamento da eternidade, levava vida santíssima, repetindo sem cessar de si para si estas palavras: “a cada instante estou às portas da eternidade”. Certo monge encerrou-se num túmulo e não cessava de exclamar: “Ó eternidade, eternidade!...” “Quem crê na eternidade — dizia o citado Padre Ávila — e não vive como santo, devia estar encerrado numa casa de doidos!”

AFETOS E SÚPLICAS

Meu Deus, tende piedade de mim!... Saiba que, pecando, me condenava eu mesmo às penas eternas, e pesar disso quis me opor à vossa vontade santíssima... Por quê?... Por um prazer miserável...
Perdoai-me, Senhor, que me arrependo de todo coração. Não me rebelarei nunca contra vossa santa vontade. Desgraçado de mim se me tivésseis feito morrer no tempo da minha má vida! Estaria já no in-ferno, aborrecendo vossa vontade. Mas agora estimo-a e quero estimá-la sempre.
Ensinai-me e ajudai-me a cumprir no futuro vosso divino beneplácito (Sl 142,10). Nunca mais vos quero contradizer, ó Bondade infinita; mas vos dirigirei unicamente esta súplica: “Faça-se vossa vontade, assim na terra como no céu”. Fazei que cumpra plenamente vossa vontade e nada mais desejo. Pois que outra coisa quereis, meu Deus, senão meu bem e minha salvação? Ah, Pai Eterno, ouvi-me por amor de Jesus Cristo, que me ensinou a pedir-vos tudo em seu no-me: Fiat voluntas tua! Fiat voluntas tua! “Faça-se a vossa vontade!...” Oh! ditoso de mim, se passar o resto da vida e morrer fazendo vossa vontade!...
Ó Maria, bem-aventurada Virgem, que executastes sempre com toda a perfeição a vontade de Deus, alcançai-me por vossos méritos que a cumpra até ao fim de minha vida.

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