11 de março de 2014

Pensamentos Consoladores de São Francisco de Sales.

12/25 -  Como brilha a misericórdia de Deus na conversão de São Paulo e de Davi.

Quando o Salvador veio ao mundo, era no tempo em que os judeus tinham chegado ao cúmulo da sua malícia, sem terem rei da sua nação e achando-se as leis do sacerdócio nas mãos de Annaz e de Caifás homens extremamente maus; era quando Herodes reinava e Pilatos possuía a Judéia. Foi neste tempo que Deus veio ao mundo, para nos livrar da tirania do pecado e da escravidão do nosso inimigo, sem a isso ser impelido senão pela sua imensa bondade, que O obrigou a comunicar-se aos homens desta forma. É certo que o Coração do nosso divino Salvador e Mestre estava cheio de misericórdia e ternura para com o gênero humano, e deu provas e admiráveis testemunhos disso, não só então, mas em outras ocasiões diversas, em que pela sua misericórdia realçou muito a sua grandeza, como se lê em muitos lugares das Escrituras. Quando perdoa a São Paulo, senão quando mais tinha pecado? Porque todos sabem que no tempo da sua conversão era quando estava com mais fúria contra Deus, e, não podendo impelir contra Ele a sua ira, a impelia contra a Igreja, mas com tanto furor, que fazia quanto podia para a exterminar. Spirans minarum et coedis in discipulos Domini; e sem embargo foi então que Nosso Senhor venceu a sua maldade e ingratidão pela sua misericórdia, que o tocou, converteu e perdoou todas as iniquidades no tempo em que menos o merecia. Oh! Deus meu, quão grande foi a Vossa misericórdia para com aquele santo  Apóstolo! Sem dúvida, nós vemos todos os dias efeitos semelhantes da bondade de Deus para com os pecadores; porque quando estão mais endurecidos no seu pecado e vivem como se não existira Deus, paraíso e inferno, é então que Deus abre as entranhas da piedade e misericórdia, dardejando-lhes um raio da divina luz nas almas, que lhe descobrem o miserável estado em que estão, afim de que se convertam. Nunca li a conversão de Davi sem me admirar de ver que este profeta, depois de ter cometido tão grandes pecados, estivesse perto de um ano sem fazer caso, dormindo um sono letárgico, sem despertar, nem notar o miserável estado em que se achava. Oh! Deus! teria sido de alguma forma mais tolerável o seu pecado, se o cometesse quando era pastor e guardava ovelhas: mas pecar depois de ter recebido tantas e tamanhas graças da sua divina Majestade, depois de ter recebido tantas luzes e favores, tendo feito tantas maravilhas e prodígios e sendo nutrido no seio da doce clemência e misericórdia de Deus; e afinal chegasse a cometer tão grandes pecados e permanecesse tanto tempo sem disso dar conta! oh! de certo, uma coisa digna de grande admiração. Cometeu muitos pecados, acumulando uns para se encobrir os outros e ficando assim jazendo no pecado perto de um ano, sem considerar o seu miserável estado, sem se lembrar de Deus. Eis pois o pobre Davi, por este esquecimento de Deus, sem nenhuma disposição para a graça, mas a bondade divina, vendo-o nesta cegueira, para o retirar do pecado, enviou-lhe o profeta Natan, o qual, querendo-lhe fazer conhecer a sua falta, se serviu duma parábola, dizendo-lhe que um homem rico, que possuía uma grande quantidade de ovelhas e bois, tinha roubado de um pobre uma ovelha, que ele tinha comprado, que alimentava em sua casa e a qual muito amava. Vede como o profeta lhe falava por uma terceira pessoa para lhe fazer reconhecer e confessar; mas como Davi estava em uma tão grande cegueira, que não via o seu pecado, não reparando que o profeta Natan se referia a ele, pronunciou sentença de morte contra o que tinha roubado a ovelha, condenando-o além disso a restituir o quádruplo. Considerai eu vô-lo peço, como Davi estava endurecido no pecado e nenhum remorso; mas para os pecados dos outros, muito bem os conhecia e sabia impor-lhes um castigo proporcionado à ofensa. Ora Natan, vendo que ele não reconhecia o seu pecado, disse-lhe que era ele que tinha roubado aquela ovelha, e então, entendendo Davi, disse: "Pequei contra o Senhor!" Peccavi Domini; e então lhe disse Natan; "Como confessaste o teu pecado, Deus perdoa-te e não morrerás". Ora que maior efeito quereis ver da misericórdia divina do que este? Porque no momento em que Davi mais pecados tinha, foi quando lhe perdoou a sua iniquidade. Mas que mudança fez depois que reconheceu o seu pecado! Nada mais fazia do que gemer e chorar a sua cegueira; nunca se ouvia sair de sua boca senão esta frase: Pecavi, e gritando: Misericórdia! dizia este salmo de penitência: Miserere mei Deus. Há muitos outros exemplos da Sagrada Escritura semelhante a este, pelos quais Deus nos manifestou grandeza da sua misericórdia e de onde vemos a verdade destas palavras de Isaias: "Porque a malícia chegou ao seu auge, ser-lhe-á perdoada".

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