MEDITAÇÃO II
Quão grande é a obrigação que temos de amar Jesus Cristo
“Não te esqueças nunca da graça que te fez o que ficou por
teu fiador, porque ele expôs a sua alma por ti”(Eclo 29,20).
Comumente entendem os intérpretes por tal fiador a Jesus Cristo, que,
vendo-nos incapazes de satisfazer a justiça divina por nossos pecados,
se ofereceu voluntariamente a pagar por nós, e de fato pagou as nossas dívidas com seu sangue e com sua morte.
Não era suficiente o sacrifício das vidas de todos os homens
para compensar as injúrias feitas por nós à divina Majestade; era
necessário que a ofensa feita a um Deus fosse satisfeita só mesmo por
um Deus, o que realizou Jesus Cristo: “Em tanto Jesus foi feito
fiador de melhor aliança” (Hb 7,22). Nosso Salvador, pagando pelo
homem como fiador com seu sangue, obtém-lhe por seus merecimentos a
graça de contrair um novo pacto com Deus, de lhe ser concedida a
graça e a vida eterna se ele observar a lei divina. E este acordo
Jesus como ratifica na instituição da Eucaristia, dizendo: “Este cálice
é o Novo Testamento no meu sangue”(1Cor 11,25). Com isso ele queria
significar que aquele cálice com seu sangue era o instrumento ou a
escritura de segurança pela qual se firmava um novo pacto entre Deus e Jesus Cristo, por meio do qual se concedia a graça e a vida
eterna a todos os homens que lhe permanecem fiéis.
E assim o Redentor, pelo amor que nos tinha, satisfez
rigorosamente por nós a justiça divina, sofrendo as penas que nos eram
devidas: “Em verdade ele carregou com os nossos langores e tomou
sobre si as nossas dores”(Is 53,4). E isso tudo foi feito de seu
amor: “Ele nos amou e se entregou a si mesmo por nós” (Ef 5,2). S.
Bernardo diz que Jesus Cristo, para nos remir, não se poupou a si
mesmo. Ó judeus infelizes, como podeis estar à espera do Messias
prometido pelos profetas? Ele já veio e vós o matastes, mas, não
obstante esse vosso crime, o divino Redentor está pronto a perdoar-vos, já
que ele veio para salvar os que se haviam perdido: “Veio para salvar
o que se havia perdido” (Mt 18,11).
S. Paulo escreve que Jesus Cristo, para livrar-nos da
maldição merecida por nossas culpas, sobrecarregou-se com todas as
maldições a nós devidas e por isso quis morrer a morte dos
amaldiçoados, que era a morte da cruz: “Cristo nos remiu da maldição da
lei, fazendo-se por nós maldição, porque está escrito: ‘maldito todo
aquele que se for suspenso no lenho’ (Gl 3,13). Que honra não seria
para um pobre camponês se, tendo sido aprisionado pelos corsários,
seu próprio rei o resgatasse com perda do reino! Muito maior, porém, é a nossa grandeza por termos sido remidos por Jesus Cristo com
a efusão de seu próprio sangue, do qual uma só gota vale mais
que mil mundos!” “Não fostes remidos por coisas perecíveis como o
ouro ou
a prata, mas pelo precioso sangue de Cristo, como o do
Cordeiro imaculado”(1Pd 1,18 e 19). Sendo assim, S. Paulo nos adverte
que cometemos uma injustiça contra nosso Salvador, quando
dispomos de nós segundo a vossa vontade e não conforme a dele e
quando nos reservamos qualquer coisa e, ainda pior, quando nos
tomamos alguma liberdade com detrimento de Deus, visto que não nos
pertencemos mais a nós mesmos, mas somos de Jesus Cristo, que nos adquiriu por um grande preço: “Acaso não sabeis... que não
sois de vós mesmos? Pois fostes comprados por alto preço” (1Cor 6,19
e 20).
Ah, meu Redentor, se eu derramasse todo o meu sangue, se desse mil vidas por vosso amor, que compensação seria ao
amor que me demonstrastes, derramando o vosso sangue e dando a
vossa vida por mim? Dai-me a graça, ó meu Jesus, de ser todo vosso
no resto de minha vida e não amar nada fora de vós. Ó Maria,
recomendai-me a vosso Filho.
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