29 de setembro de 2014

Sermão para o 11º Domingo depois de Pentecostes 24.08. 2014 – Diácono Tomás Parra IBP

[Sermão] Fundamentos para o apostolado leigo

Em nome do Pai…
Ave Maria…
Reverendo Padre, Caros irmãos,
               Neste 11º domingo depois de Pentecostes, a leitura do evangelho narra o episódio da cura do surdo-mudo, descrita por São Marcos. É muito frequente, no Evangelho, que os judeus tragam seus doentes para serem curados por Cristo. São Marcos conta que na região de Genesaré, “em todos lugares onde (Ele) entrava, nos povoados, nas cidades ou nos campos, colocavam os doentes nas praças, rogando que lhes permitisse ao menos tocar na orla de seu manto.  E todos que o tocavam eram salvos”. Mais tarde, vindo de Tiro, no caminho em direção ao mar da Galiléia, “trouxeram-lhe um surdo-mudo”, e“suplicavam-Lhe que lhe impusesse a mão” para curá-lo.
                Caros irmãos, a atitude destes judeus é um exemplo do apostolado do qual trataremos hoje. O primeiro tipo de apostolado é aquele exercido pela hierarquia mesma da Igreja. Como dizia Tertuliano, “Deus Pai enviou a Cristo, Cristo enviou aos apóstolos; os apóstolos, aos bispos”. E Cristo confiou de modo especial aos apóstolos a Missão de converter todos os homens: “Ide, pregai o Evangelho a toda criatura, aquele que crer e for batizado será salvo”.
                O segundo tipo é o apostolado leigo, que existiu durante toda a vida da Igreja. E nós podemos perceber isto na atitude destas pessoas que levavam os doentes até Jesus para que fossem curados. Não eram os apóstolos ou discípulos de Cristo que os levavam, mas os amigos e parentes.
                No Evangelho, a doença é um símbolo do pecado, e como Nosso Senhor veio ao mundo para destruir o pecado, ele começa curando os doentes. E esses próximos dos doentes que os levam a Ele representam os que cooperam com a obra de Cristo, que é a conversão dos pecadores para a salvação de suas almas. Considerando isto, podemos dizer que mesmo os fiéis leigos participam de certo modo desta Missão confiada aos apóstolos por Cristo. “Ide, pregai o Evangelho a toda criatura…”.
                Assim, caros irmãos, como membros da Igreja, cuja cabeça é Cristo, devemos todos trabalhar para salvar nossa alma e a dos nossos próximos, para o crescimento do reino de Cristo. A primeira maneira de fazê-lo é através doapostolado da oração.
Isto é claro no Evangelho de hoje. Primeiramente, pelo exemplo das pessoasque suplicavam a Cristo pela cura para o próximo ou para si mesmas. E quão insistentes eram essas súplicas, e acompanhadas também de uma grande fé. Fé tal que levou uma vez alguns amigos a baixarem um paralítico em seu leito, através de cordas, tendo feito uma abertura no telhado para poderem alcançar o Mestre. E, na ocasião, não somente a cura foi dada, mas também o perdão dos pecados.
                Porém, caros irmãos, também mereceram um favor especial do Senhor as súplicas dos parentes do surdo-mudo.
Nosso Senhor não o cura imediatamente, mas “tomando-o a parte, de entre a multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos, e tocou-lhe a língua com a sua saliva”.Cristo atendeu suas orações, mas antes, quis se afastar da multidão, para nos ensinar a encontrar Deus no silêncio e na oração. E também para não haver ostentação no fazer milagres, nos ensinando a fugir da vaidade. De fato, como diz São João Crisóstomo, não há maior milagre que professar a humildade e praticar a modéstia. E para combater o orgulho, que se opõe a estas virtudes, toda a vida de Cristo foi exemplo de humildade e é sobre esta humildade que Ele fundou a religião. “Cristo fez-se, por amor de nós, obediente até a morte e morte de cruz. Por isso, Deus O exaltou …”.
São João Crisóstomo diz também que Cristo podia ter curado o surdo-mudo com uma só palavra, mas “meteu-lhe os dedos nos ouvidos, e tocou-lhe a língua com a sua saliva”, para mostrar que seu corpo estava cheio do poder de Deus. Essas curas que realizava mostram que em Cristo veio a restauração da natureza humana, que, por causa do pecado de Adão, tinha sofrido feridas de toda sorte. Além disso, gestos semelhantes ao de Nosso Senhor são utilizados até hoje no rito do batismo, para lembrar o cristão do dever que terá de receber a palavra de Deus pelo ouvido, e de professá-la com a língua.
Em seguida, caros irmãos, Nosso Senhor nos incita à oração pelo seu próprio exemplo. “Levantando os olhos ao céu, (Ele) suspirou”, (do latim ingemuit, gemeu).
Ele levanta os olhos ao céu para nos mostrar que é de lá que vem todos os bens. De lá, vem a cura para os doentes, o perdão para os pecadores. Ele geme de compaixão da miséria do homem decaído, apresentando suas súplicas ao Pai Celeste. Não que precisasse fazê-lo para obter o milagre, pois Ele é Deus, mas para nos ensinar como recorrer à misericórdia divina.
                É muito importante saber que a oração deve anteceder o apostolado do sacrifício e da caridade. E para isso temos o exemplo dos apóstolos e dos discípulos, que estavam, “todos estes, unânimesperseverantes na oração com algumas mulheres, dentre as quais Maria, Mãe de Jesus”, esperando a vinda do Espírito Santo antes de começarem a exercer a Missão de levar o Evangelho aos homens de todo o mundo. Apesar de terem sido discípulos do próprio Cristo, convivido com Ele, visto Seu exemplo e escutado seus ensinamentos pessoalmente, tinham ainda que rezar para receberem a força vinda do Céu, que lhes daria impulso para pregar a Boa Nova a todas as nações.
                Esta oração do Cenáculo, este recolhimento que antecede Pentecostes, é para nós um modelo. Pois nos ensina, caros irmãos, as três condições necessárias para que as nossas orações sejam atendidas com eficácia:
                Em primeiro lugar, a perseverança, pois lá estavam os apóstolos com os discípulos e Nossa Senhora, e ficaram em oração contínua, esperando que Cristo enviasse o Espírito Santo; e ali oraram durante dez dias. Esta perseverança vai de par, evidentemente, com a fé e a confiança na promessa divina: “Pedi e recebereis”. Não esqueçamos também a fé do paralítico, que desceu pelo teto para pedir a Cristo a sua cura.
                Em segundo lugar, a unanimidade: Também pela promessa divina:“Se dois de vós estiverem de acordo (…) sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”. Caros irmãos, a oração em comum tem maior valor aos olhos de Deus que a oração individual, daí a importância de se rezar junto com os filhos em família, junto com bons amigos católicos.
                A terceira condição para que nossa oração seja eficaz para alcançar a vinda do reino do Pai, como pedimos no Pai-Nosso, é a mediação de Nossa Senhora. Ela estava no Cenáculo, em meio aos Apóstolos e discípulos cumprindo a missão de medianeira, missão que lhe foi dada por Deus desde a Encarnação do Verbo, pois, segundo o ensinamento de São Luís de Montfort, Deus Pai escolheu Maria para dar seu Filho ao mundo e, juntamente com seu Filho, lhe confiou todo o tesouro de suas graças e misericórdias. Ela se tornou o Canal que liga os homens à Cristo, que liga os homens ao único Mediador. E esta conduta, este modo de fazer, Deus não mudará até o fim dos tempos, de forma que recorrer à mediação de Nossa Senhora é o meio mais fácil de alcançar de Deus todas as graças.
                Jesus Cristo nos disse “é preciso rezar sempre, oportet semper orare”. A necessidade disso, caros irmãos, para os que têm a fé, é evidente. Em Fátima, Nossa Senhora dizia às três crianças: “Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas”. Este apelo se dirige também a nós. Ora, se na época de Cristo havia inúmeros doentes que procuravam remédio em sua misericórdia, hoje existem muitos pecadores, mas que diferentemente daqueles, não buscam sua cura espiritual – o perdão – e caminham para a danação eterna. Pensar também em nossos vícios, nas necessidades de nossos próximos, no sofrimento dos que sofrem perseguições pela fé no Oriente, deve nos incitar a rezar ainda mais. Além disso, hoje, como sabemos, pecados graves e alguns vícios que clamam vingança aos céus são tolerados e facilitados pelas leis civis.
                É preciso, todavia, caros irmãos, não olhar somente os males, para não nos desencorajarmos. Mas saber que os Corações de Jesus e Maria estão atentos às nossas orações.  Que Ele, sendo Deus, pode imperar sobre o mal, como quando disse “Ephpheta” (Abre-te, desatate), e imediatamente os ouvidos do surdo-mudo se abriram, sua língua se desatou e ele começou a falar normalmente o aramaico, língua que ele supostamente desconhecia.
Mas é necessário saber também, que a oração, só, não basta. São Tiago nos ensina que a “fé, se não tiver obras, está completamente morta”. É preciso agir, rezar e agir. É preciso se sacrificar, como pediu Nossa Senhora, e praticar acaridade.
Pode-se fazer apostolado pelo sacrifício, unindo-se a Cristo em sua Paixão; isto é, renunciando a si próprio, pelo bem dos próximos, sobretudo renunciando ao amor-próprio e aos caprichos que incomodam os outros, mesmo se isso proporcionará, por vezes, algo que seja menos cômodo. Pode-se fazer o apostolado do sacrifício praticando,  por exemplo, na medida do possível, algum sacrifício do paladar (começar já pela abstinência da sexta-feira, costume muito louvável que muitos já não praticam em nossos dias)… oferecendo tudo sempre em união a Cristo pelos próximos.
                O apostolado pode se exercer ainda pela prática da caridade, que é reproduzir a vida de Cristo em nós pela nossa entrega a Deus e ao serviço do próximo. É isso que faziam os parentes do surdo-mudo.
Enfim, caros irmãos, nosso apostolado, qualquer que seja, deve sempre levar a Cristo. Não deve ter como fim nossa promoção ou servir nossos interesses próprios, ou ainda  lutar por um bem puramente natural. Nosso apostolado deve lembrar os israelitas do Evangelho de hoje, que tinham um só desejo: levar os doentes até o Mestre “rogando que lhes permitisse ao menos tocar na orla de seu manto”. Ele, Cristo Nosso Senhor é quem cura, quem perdoa os pecados.
Consideremos que Cristo venceu o mundo e a morte, e tendo morrido pelos pecados de todos os homens, ressuscitou. E Ele deseja ardentemente que estejamos unidos a Ele na cruz, para ressuscitarmos com Ele para a glória eterna.
Peçamos, enfim, caríssimos irmãos, a Deus Nosso Senhor o que se reza hoje na colecta, que nos perdoe nossos pecados e nossa falta de merecimentos, e nos dê aquilo que não ousamos esperar da pobreza de nossas orações.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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