MEDITAÇÃO III
Para a 2.ª feira da paixão
Jesus é preso e conduzido a Caifás
1. Tendo o Senhor conhecimento de que os judeus que vinham prendê-lo já estavam perto, levanta-se e vai ao seu
encontro: sem nenhuma resistência deixa-se prender e amarrar: “prenderam a
Jesus e o amarraram” (Jo 18,12). Que assombro! Um Deus preso como um malfeitor por suas criaturas! Minha alma, considera como
uns lhe tomam as mãos, outros o amarram e outros lhe batem, e o
inocente Cordeiro deixa-se prender e bater conforme a vontade deles e
cala-se: “Foi oferecido porque ele mesmo o quis e não abriu sua
boca.Foi conduzido como uma ovelha ao matadouro”(Is 53,7). Não fala
nem se lamenta, porque ele mesmo já havia se oferecido para
morrer por nós e assim se deixa amarrar como uma ovelha que é conduzida
à morte sem abrir a boca.
2. Jesus entra preso em Jerusalém. Os que dormiam despertam com o rumor da gente que passa e perguntam quem é o preso
que conduzem. E a resposta vem logo: É Jesus Nazareno, que se
descobriu ser um impostor e sedutor.Apresentam-no a Caifás, que,
vendo-o, alegra-se e o interroga a respeito de seus discípulos e
de sua doutrina. Responde Jesus que falou em público, chamando, como
testemunhas do que dissera, os próprios judeus que o circundavam: “Eis que estes sabem o que eu disse”(Jo 18,21). Depois dessa
resposta, um dos ministros dá-lhe uma bofetada, dizendo-lhe: “Assim
respondes ao pontífice?” Mas, ó meu Deus, como uma resposta tão
humilde e mansa pode merecer uma afronta tão grande? Ó meu Jesus,
vós sofrestes tudo para pagar as afrontas feitas por mim a vosso
eterno Pai.
3. Entretanto, o pontífice o conjura em nome de Deus a dizer
se ele era na verdade o Filho de Deus. Jesus responde
afirmativamente e, ao ouvir isto, Caifás, em vez de prostrar-se em terra
para adorar o seu Deus, rasga suas vestes, e, voltando-se para os outros
sacerdotes, diz: “Que necessidade temos ainda de testemunhas? Eis
aí, acabais agora de ouvir a blasfêmia. Que vos parece?” (Mt
26,65). E eles responderam com uma só voz: “É réu de morte”. Depois
disto, conforme narram os evangelistas, começaram todos a
cuspir-lhe no rosto e a maltratá-lo com bofetadas e socos, e, cobrindo-lhe
o rosto com um pano, perguntaram-lhe por escárnio: “Dize-nos, ó
Cristo, quem foi que te bateu?” (Mt 26,67). Eis-vos feito nessa noite o
divertimento do populacho, ó meu Jesus. Como é possível, porém, que os
homens vos vejam tão humilhado por amor deles e não vos amem! E
como pude eu chegar a ultrajar-vos com tantos pecados, depois de
haverdes sofrido tanto por mim? Ó meu Amor, perdoai-me, que eu não
quero mais desgostar-vos. Eu vos amo, meu sumo Bem, e me arrependo
de vos haver ofendido e desprezado. Ó Maria, minha Mãe,
suplicai a vosso Filho ultrajado que me perdoe.
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