10/26 - O JUÍZO UNIVERSAL
1. - Temei a Deus e a Ele honrai, porque já se avizinha a hora do seu juízo(Ap 14,7).
"O grande dia do Senhor está próximo; está próximo, vai chegando com velocidade; amargo é o ruído do dia do Senhor; o forte se verá gele em grande aperto. Esse dia será um dia de ira, de tribulação e angústia, um dia de calamidade e miséria, um dia de nuvens e tempestades, um dia de trombeta e de gritos guerreiros contra as cidades fortificadas e contra as torres elevadas" (Sf 1, 14-16).
"Soltai gritos, porque o dia do Senhor está perto; virá do mesmo Senhor uma como total assolação. Por esta causa todas as nações perderão o seu vigor, todo o coração do homem desanimará e ficará quebrantado. Apoderar-se-ão deles convulsões e dores, e gemerão como a mulher que está de parto; cada um ficará atônito, olhando para seu vizinho, os seus rostos tornar-se-ão inflamados. Eis que virá o dia do Senhor, o dia cruel e cheio de indignação de ira, de furor, para transformar a terra numa solidão e para exterminar dela os pecadores. Porquanto as estrelas do céu e o seu resplendor não espalharão a sua luz; cobrir-se-ão de trevas o sol no seu nascimento, e a lua não resplandecerá com a sua luz" (Is 13, 6-10).
"Grande, terrível dia e quem jamais o agüentará?" (Jo 3, 2).
Oh! Deus! Como e quando virá este dia?
"Todavia como um ladrão - diz S. Pedro - virá o dia do Senhor, no qual, passarão os céus com grande estrondo, os elementos com o calor se dissolverão e a terra e todas as obras que há nela serão queimadas" (2Pd 3, 10).
E quando virá este dia? Responde o Apóstolo: "Quando disserem paz e segurança, então lhes
sobrevirá uma destruição repentina" (1Ts 5, 3). Porém quando será? Quando? Mas quanto àquele dia e àquela hora, ninguém sabe, nem os Anjos do Céu, nem o Filho, mas só o Pai. Assim como foi nos dias de Noé, assim será também à vinda do Filho do homem. Porque, assim como nos dias antes do dilúvio (os
homens) estavam comendo e bebendo, casando-se e casando seus filhos, até o dia em que Noé entrou na Arca; e não souberam nada até que veio o dilúvio, e os levou a todos; assim será também na vinda do Filho do Homem" (Mt 34, 36-39) .
Temei a Deus pois, e a Ele honrai, porque já se avizinha a hora do juízo".
Aliás não me contento que vejais o juízo como próximo, mas mais ainda eu quero que o considereis como presente.
2. - Levantai-vos ó mortos!
Eis, portanto, um mundo já feito um deserto, o céu coberto de um véu tenebroso, funéreo. Sobre a terra queimada, fumegante ainda do vasto incêndio nada mais passeia senão um formidável silêncio. Onde estão agora aquelas cidades tão fortes e populosas? Onde aqueles monumentos e aqueles troféus soberbos levantados pela ambição e pelo fausto. Onde aqueles campos tão férteis e deliciosos! Ó terra, onde estão agora os teus avaros possuidores? Onde estão teus mais fanáticos amantes? "E não se ouvirão mais em ti a voz dos tocadores de cítara, dos músicos tocadores de flauta e de trombeta; não se encontrará mais em ti artista algum de qualquer arte; e não se tornará mais a ouvir em ti o ruído da mó" (Ap 18, 22). Assim pois passou a glória deste século?
Eis que Deus já tem "quatro Anjos nos quatro ângulos da terra" (Ap 7, 1) para chamar com forte toque das sonoras trombetas o mudo sonolento mundo. "Levantaivos, mortos, levantai-vos! Abrem-se os sepulcros: a terra, o mar, os abismos se apressam em devolver seus mortos" (Ap 20, 13). Ouviu-se um ruído, depois fez-se um reboliço; os ossos se aproximaram uns dos outros, pondo-se cada um na sua juntura. Olhei e eis que se formaram sobre eles nervos e carnes para os revestir e a
pele se estendeu por cima" (Ez 37, 7-8). "Levantai-vos mortos!" Abre-se o céu, fecha-se o inferno.
Voam as almas bem-aventuradas com alegria para revitalizar aqueles membros que um dia foram ministros da sua santificação e agora são companheiros da sua glória. Desencovam-se as almas condenadas, e são com violência obrigadas a aprisionar-se nos seus antigos corpos.
3. - O desespero dos ímpios
Horrorizam-se ver ao redor uma tão fétida monstruosa carniça, que empesta o ambiente com grave fedor e espanta com horrenda máscara. Porém é aquele o teu corpo, senhora vaidosa, jovem estulta, que tu acariciavas com tanto trabalho, que tu vestias com tanta delicadeza, que tu amavas com tanta perdição. Mísero! No que mais empregastes os teus pensamentos, teus cuidados, teus amores! "Levantaivos,
levantai-vos vinde ao juízo". Ao grande vale: "pois eu congregarei - diz Deus - todos os povos e os conduzirei ao vale de Josafá, e aqui discutirei com eles" (Jl 3,2).
Fugi, ó pecadores, fugi da espada de um Deus irado. Mas para onde irão longe do teu espírito, ó meu Deus, e para onde fugirei da tua face"? (Sl 138, 7). Que fareis, pois em um dia de visita tão grave e de tão acerba calamidade? A quem voltarei esperando socorro? Mísero! Que poderei fazer, quando Deus aparecer para julgar-me e quando Ele me pedir contas, que poderei responder-lhe? Onde me esconderei do seu semblante indignado? "Quem me dera que eu pudesse fechar-me no Inferno até que passe o teu furor"? (15, 13). Em vão "gritam os pecadores aos montes: Caí sobre nós?" Em vão às colinas, cobri-nos!" (Ap 6, 16; Lc 23,30).
4. - O comparecimento do Juiz divino
Já cintila do oriente até o ocidente improvisa luz fulgurante (Mt 24, 27). Já se percebe no alto do céu a cruz elevada: Pecadores, eis "o Legislador, eis o Juiz, o único que pode salvar e perdoar" (Tg 4, 12) . "Eis que já vem sobre as nuvens e verão os vossos olhos Aquele que haveis ferido" e crucificado tantas vezes com vossos pecados. "E haverão de chorar e baterão no peito ao vê-Lo todas as tribos da terra" (Ap 1, 7). "Diante de sua face um fogo devorador o precede" (Jl 2, 3) "Para queimar ao seu redor os seus inimigos" (Sl 96, 3). "Porque o Senhor virá no meio do fogo, o seu carro será como um torvelinho, para espalhar a sua indignação, o seu furor e as suas ameaças em labaredas de fogo" (Is 66, 15). "Eis que o nome do Senhor vem de longe, o seu furor é ardente e insuportável; os seus lábios estão cheios de indignação e sua língua é como um fogo devorador. O seu sopro é com uma torrente que, inundando chega até o meio do pescoço, para perder e aniquilar as nações e (quebrar) o freio do erro, que estava nos queixos dos povos" (Is 30, 27-
28).
5. - A amarga separação
Com fulgurantes espadas "saem os Anjos para separar os bons dos maus, os cabritos dos cordeiros" (Mt 13, 49; 25, 31-33). Amarga separação! Divide-se para sempre o filho do pai, a mãe da filha, o irmão, o parente do irmão e do parente, o amigo do amigo. Estes à direita, aqueles à esquerda. Dois viviam na mesma família, dois trabalhavam na mesma oficina; um "se eleva" entre os eleitos, o outro se "abandona" entre os réprobos (Mt 24, 40-41; Lc, 17, 34). Elevam-se arrebatados no vôo sobre brancas nuvens os eleitos ao encontro de Cristo, que com pacífico e alegre semblante os convida ao seu seio e ao repouso: "Vinde, benditos de meu Pai, possui o reino que vos está preparado desde a criação do mundo" (Mt 25, 34). E assim, sentarão fazendo majestosa cerca ao trono de Cristo, e "calcarão os ímpios como a cinza debaixo dos seus pés" (Ml 4, 3), segundo o que está escrito: "Os Santos julgarão os deste mundo " ( 1Cor 6 , 2 ). Agora é que se vêem "os ímpios já decaídos sem honra e na confusão entre os condenados à morte perpetuamente"; "dilacerado rotos, em desordem, os pecadores, já inchados de ira, se vêem arrebentar sem falar nem gritar" (Sb 4, 19).
6. - Os remorsos dos ímpios
"Abatidos e atemorizados até os fundamentos despencam ao fundo de uma extrema desolação. Tímidos e lamentadores pensando em seus pecados vêem todos perfilados em distinta e horrível formação para acusá-los (Sb 4, 19-20). "Os próprios Céus revelam sua iniqüidade, e a terra se levanta contra eles" (Jó 20, 27)
quase testemunhando. E aqueles que não souberam vencer um respeito humano para mudar de vida e costumes, nem superar uma pequena vergonha confiando ao ouvido de um ministro de Deus um pecado pela sua salvação, sofrem agora a confusão inútil de ver descobertos diante de um mundo inteiro suas mais ocultas ignomínias. Distinguem num só momento todos os inumeráveis e grandiosos benefícios divinos em confronto com a ingratidão da sua correspondência; notam os estranhos abusos feitos dos dons mais assinalados do céu, descobrem todo o artifício admirável de uma infinita benignidade, que procurou sempre conduzi-los à penitência e à salvação. E vêem que a graça jamais faltou a eles, embora eles mesmos faltaram à graça. Conhecem bem agora quanto foi vã desculpa para eles o costume ou a moda contra o Evangelho de Cristo, ou a fragilidade e a debilidade humana tão exagerada contra a lei de Deus. Também nós - gritam contra os pecadores os eleitos - estávamos vestidos da mesma natureza, rodeados das mesmas enfermidades. Porém nós levamos e sempre como doces e leves aquele peso que vós, como insuportáveis não quisestes nem mesmo olhar. Nós também, pecadores - acrescentarão outros santos - e grandes pecadores fomos um dia; porém vencemos ocasiões, hábitos, e cuidados para converter-nos de todo coração a Deus. Assim falam os justos "com grande afoiteza, contra aqueles que os atribularam, e que lhes roubaram o fruto dos seus trabalhos" (Sb 5, 1). "Vendo-os assim, os maus perturbar-se-ão com temor horrível e ficarão assombrados, ao verem a repentina salvação dos justos, a qual eles não esperavam: e dirão dentro de si, tocados de arrependimento, e gemendo com angústia do espírito: Estes são aqueles a quem nós outrora tínhamos por objeto de zombaria e por motivo de vitupérios, nós insensatos, considerávamos a sua vida uma loucura, e a sua morte uma ignomínia. E ei-los que são contados entre os filhos de Deus, e entre os santos até a sua morte. Logo, nós nos extraviamos do caminho da verdade, a luz da justiça não raiou para nós, e o sol da inteligência não nasceu para nós. Cansamo-nos na senda da iniqüidade e da perdição, andamos por cominhos ásperos, e ignoramos o caminho do Senhor. De que nos aproveitou a soberba? De que nos serviu a vã ostentação das riquezas? Todas aquelas coisas passaram como sombra, como um mensageiro fugaz" (Sb 5, 2-9). Mas agora não há mais tempo.
7. - A inexorável condenação
Mas e a vossa misericórdia, ó divino Juiz? - Abusaram em vida. Agora me provem e me chamem também "sem misericórdia" (Os 1, 6). Mas e o vosso sangue? - Não o quiseram usar para a salvação; sirva-lhes
pois agora para a eterna condenação . E vós, Anjos da Guarda, Santos advogados? E Vós, ó Maria? - Sim, todos cooperaram, todos por eles pediram em tempo oportuno, quando ainda viviam. Agora em um dilúvio tão grande da ira de Deus ninguém há que queira ou que possa aproximar-se deles. Antes, todos glorificando sua Justiça, gritam: "Justos são teus juízos, ó Senhor, justos os teus juízos" (Ap 16, 7). Eis pois, ó Rei, ó Senhor, vingança, vingança contra os nossos inimigos! Pecadores, pecadores, já troveja o Juiz contra vós a última imutável sentença: "Afastai-vos, afastai-vos de mim, malditos, ide para o fogo eterno já
preparado para o demônio e aos anjos seus sequazes" (Mt 25, 41). Abatidos e derrubados por este raio sobre a terra que treme debaixo de seus pés e se escancara, os pecadores tombam como pedra até o profundo abismo: a terra de novo se fecha sobre eles e os eleitos ficam assim sozinhos com Cristo! Ó bem-aventurada sorte dos justos, que ficarão sempre com Deus! Oh! mísera sorte dos pecadores a penar sempre separados de Deus! Ó sorte muito desigual, porém igualmente imutável! Ó eternidade! O homem estabelecido em tua casa: aí estará para sempre. Ó eternidade! Ó eternidade!
8. - Lancemo-nos nos braços da divina misericórdia
Que mais se espera, portanto, para atirar-se nos braços desta divina misericórdia enquanto ainda é tempo, antes que ela dê lugar à tão por nós ofendida, irritada justiça? Agora é o tempo para ser aceita a nossa penitência; então será de fato vã e inútil. Estes são os dias para assegurar a nossa salvação; naquele dia
estará perdida toda esperança. Não nos confiemos no tempo, porque ainda um pouco, e aquilo que está para vir virá e não tardará. Quando menos o pensarmos virá. Descuidar um negócio de tanta importância, é o mesmo que declarar-se querer de fato, perdê-lo. Deferir-lhe a liberação equivale o mesmo que expô-lo ao máximo perigo. Tratar-se de uma alma que perdida uma vez estará perdida para sempre. Trata-se de um estado perpetuamente imutável. Trata-se de uma eternidade de glória e de pena. O que mais se espera? Este homem-Deus, nosso Juiz, que verdadeiramente nos ama, qual Pai amoroso, que para não ver perder-se seus filhos eternamente debaixo do flagelo da sua muito justa vingança, nos ameaça, e nos avisa e clama forte, para que nos esquivemos do áspero golpe fatal. Empenha todo seu sangue para lavar nossos pecados; nos exibe seus merecimentos para que sejamos revestidos de um direito justo ao seu reino; nos faz participantes das suas satisfações, para aliviar-nos o peso da nossa penitência. "Vinde - clama - vinde a
mim todos vós que estais fatigados e carregados" com o peso dos vossos pecados, "e eu vos aliviarei." (Mt 11, 28). Ó misericordioso e infinitamente benigno, e amoroso Senhor! É bem digno de ter sua parte com os demônios, quem recusa agora ter parte com um Senhor tão bom. É justo que prove todo o furor da vossa inflexível Justiça, aquele que despreza vossa excessiva misericórdia. E muito merece ser fulminado naquele dia com aquele tão amargo "afastai-vos", quem se faz de surdo a um tão doce "vinde".
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