8/21 - SONHO DAS CONSCIÊNCIAS ( M.B. VI, 817-821)
Mas três noites que precederam o último
dia do ano 1860, D. Bosco fez três sonhos, como ele os chamou, mas que nós com
toda certeza, por aquilo que temos visto, percebido, experimentado, podemos
chamar de celestes visões. Era o mesmo sonho três vezes repetida, mas sempre
com diferentes particularidades. Eis brevemente como o nosso bom pai o
apresentou na última noite do ano de 1860 a todos os jovens reunidos. Assim ele
falou:
Encontrei-me por três noites seguidas
nos Campos de Revolta com D. Cafasso, com Sílvio Péllico e com Conde Cays. Na
primeira noite ficamos conversando sobre certos assuntos de Religião com
relação aos tempos atuais. A segunda a passamos discutindo assuntos morais em
que foram apresentados problemas especialmente sobre educação da juventude.
Vendo que já por duas noites seguidas faziam um mesmo sonho, decidi contá-lo
aos meus filhos, se ainda não tivesse sonhado as mesmas coisas pela terceira
vez. E eis que na noite entre 30 e 31 de dezembro, encontrei-me novamente no
mesmo lugar e com os mesmos personagens. Deixando de lado outros assuntos,
lembrei-me que estávamos no fim do ano e que deveria apresentar aos meus
queridos filhos a lembrança para ano
novo. Por isso falei a D. Cafasso e perguntei-lhe:
- O senhor que é meu grande amigo, me
apresente uma lembrança para os meus filhos?
Ele respondeu:
- Calma! Se você quiser que eu lhe
apresente a lembrança, fale aos seus filhos que se preparem e saldem suas
contas.
Nós estávamos num grande salão, no meio
do qual havia uma mesa. D. Cafasso, Sílvio Péllico e Conde Cays se assentaram.
Eu no entanto obedecendo a D. Cafasso, saí do salão e fui chamar os jovens que
estavam do lado de fora, fazendo cada um suas somas numa ficha que tinham entre
as mãos. Os jovens entravam em fila segurando a ficha, em que estavam anotados
muitos números e se apresentavam aos três senhores e a eles entregavam a
própria ficha. Aqueles senhores a soma e se era bem caprichada e cheia de
números, a devolviam a cada um, porém não aceitavam aquelas que apresentavam
números forjados. Os primeiros eram aqueles que tinham contas em ordem, os
segundos os que estavam desordenado. Não poucos estavam entre estes últimos.
Aqueles que recebiam a sua ficha assinada saiam da sala alegres e iam cantar
sua alegria no pátio; os outros porém saiam tristes e mortificados. A fila de
jovens era comprida todos ficavam esperando. Esta operação foi bem demorada; finalmente
ninguém mais se apresentou. Parecia que todos os jovens se tivessem
apresentado, quando D. Bosco viu alguns que estavam esperando e não entravam.
Perguntou a D. Cafasso:
- Mas estes o que estão fazendo?
- Estes, respondeu D. Cafasso, tem a
ficha em branco, portanto não dá para fazer a soma, aqui trata-se de fazer a
soma daquilo que se possui e o que foi feito. Portanto esses jovens podem ir
preencher suas fichas com números, depois reapareçam para podermos fazer a
soma.
Desta maneira acabou-se aquela operação.
Então, eu com os três senhores saímos
daquela sala para o pátio, e vi, um número de jovens, aqueles cujas fichas eram
corretas e caprichadas, que corriam, que pulavam e brincavam com uma alegria
extraordinária. Estavam todos satisfeitos. Vocês não podem imaginar minha
satisfação vendo este espetáculo.
Mas havia um certo número de jovens que
não brincavam, mas estavam observando os outros. Estes não estavam muitos
alegres. Entres estes alguns tinham uma tira cobrindo os olhos, outros uma
névoa rodeando a cabeça, outros tinham um coração cheio de terra, outros o
tinham vazios das coisas de Deus. Eu os vi e os reconheci muito bem e os tenho
bem presentes na cabeça que poderia dar os nomes um por um.
Também percebi que no pátio faltavam
muitos dos meus jovens e falei para os meus botões: "Onde estão aqueles
que tinham a ficha em branco?". Olho aqui, procuro ali e finalmente vi um
lugar afastado do pátio um espetáculo deprimente! Vejo um deitado no chão,
pálido como a morte. Depois outros sentados num banco imundo, outros deitados
em esteiras sujas, outros no chão, outros sobre pedras que ali havia. Eram
todos os que não haviam suas contas aprovadas. Estavam gravemente doentes;
alguns tinham a língua outros o ouvido,
outros os olhos cheios de vermes que os roíam. Um tinha a língua podre; outro a
boca cheia de terra; um terceiro exalava um fedor insuportável, outros eram as
doenças daqueles coitados. Quem tinha o coração carcomido, quem tinha
horrorosas feridas… havia ali um leproso…
Vendo isso fiquei transtornado, não
conseguindo acreditar naquilo que estava presenciando. Cheguei mais perto de um
daqueles coitados e perguntei-lhe:
- Mas você é mesmo fulano?
- Sim, sou eu mesmo!
- Mas como você chegou a esta horrível
situação?
- O que fazer? Farinha do meu saco!
Veja! Este é o fruto das minhas desordens!
Conversei com um outro e recebi a mesma
proposta. Este espetáculo doía-me dentro, mas foi aliviado em parte pelo que vi
depois.
No entanto de coração comovido dirigi-me
a D. Cafasso e perguntei-lhe:
- A que remédio devo procurar para sarar
estes meus pobres jovens?
- Você sabe muito bem o que deve fazer,
respondeu-me D. Cafasso. Não há necessidade e o repetir. Pensa! Use a
criatividade!
- Pelo menos me apresente uma lembrança
aos bons, insisti eu suplicando humildemente e confiante em meu pedido.
D. Cafasso então fez um sinal para
segui-lo e aproximando-se do prédio abriu uma porta. Entramos num salão
maravilhoso, ornamentado em ouro, em prata e com toda espécie de ornamentação,
iluminada por milhares de lâmpadas… Era
bem amplo. No meio do salão havia uma mesa cheia de doces, dos mais
caprichados e dos mais gostosos, capazes um só de saciar o desejos dos jovens.
Vendo isso, estava saindo para fora para chamar os jovens a entrarem e
contemplarem aquele magnífico espetáculo. Mas D. Cafasso parou-me gritando:
- Calma! Nem todos podem comer estas
delícias. Chame só aqueles que tem suas contas em ordem.
Assim fiz, e em poucos segundos aquele
salão estava cheio de jovens. Então estava eu para começar a distribuir aqueles
doces. Mas D. Cafasso se opõem e…
- Calma, Dom Bosco! Nem todos podem
experimentar estas delícias, nem todos estão dignos!
E indicou-me os que não podiam comer. E
entre estes mostrou em primeiro lugar os que estavam cheios de chagas, que não
se encontravam na sala, porque não tinham suas contas em regras, depois
mostrou-me outros, que apesar de terem contas em regras, tinham porém ou
neblina nos olhos ou o coração cheio de terra, ou vazio das coisas do céu.
Mas eu com ar suplicante falei-lhe:
- D. Cafasso! Deixe que eu dê também a
esses últimos; também eles são meus filhos, tanto mais que há muita fartura e
não há perigo que falte.
- Não, não - falou ele. Só aqueles que
têm boca sadia podem comer, os outros não; não sabem aproveitar, não estão dignos
destas delícias, porque tem a boca estragada e cheia de amargura, as coisas
doces dão enjôo e não podem comer.
Fiquei quieto e comecei a distribuir
aqueles doces só aqueles que me foram indicados. Todos servidos pela primeira
vez abundantemente, recomecei novamente a distribuição com uma dose abundante!
Eu vos asseguro que estava feliz em ver os jovens comer com apetite e
satisfação. Nos seus rostos estavam estampados a alegria, não pareciam mais os
jovens do Oratório tanto estavam transfigurados.
Aqueles que na sala ficaram sem doces,
ficavam num canto tristes e confusos. Entristecidos em vê-los dirigi-me a D.
Cafasso e perguntei-lhe insistentemente que permitisse que os doces fossem
dados também àqueles, para que pudessem experimentar.
- Não, não - respondeu D. Cafasso. Estes
não podem comer, que eles sarem e então poderão experimentá-los.
Eu olhava aqueles coitados. Olhava também os muitos jovens que
ficaram fora, todos doentes… Reconhecia todos e percebi que alguns deles tinham
o coração totalmente bichado.
Voltei a falar com D. Cafasso:
- Por favor indique-me que remédio
utilizar e como fazer para sarar aqueles meus filhos!
Ele respondeu:
- Pense, use a sua fantasia; o senhor já
o conhece.
Então insisti para que dissesse a
lembrança prometida para os meus jovens.
- Muito bem, respondeu. Vou falar!
E dando uns passos para atrás, por três
vezes, com voz cada vez mais forte, gritou:
- Preste atenção! Preste atenção! Preste
atenção!
Assim dizendo ele e com seus
companheiros foram saindo e desaparecendo, assim foi o sonho.
Então acordei e encontrei-me sentado na
cama e com as costas frias como o gelo.
Este foi o meu sonho. Agora cada um
interprete como quiser, mas saiba sempre dar-lhe a importância que se dá a um
sonho…
Nenhum comentário:
Postar um comentário