21/21 - O SACRILÉGIO (1882)
"Uma noite sonhei e vi em um sonho
um jovem que tinha o coração roído pelos vermes e que ele mesmo se quitava e
lançava de si aqueles animais com a mão. Não fiz caso do sonho. Mas eis aqui que, na noite seguinte, veio o mesmo
jovem, que tinha junto de si um cão que o mordia no coração. Não duvidei que o
Senhor queria conceder alguma graça aquele garoto e que o pobrezinho tinha
alguma confusão na consciência.
Perto do dia lhe disse de improviso:
- Queres fazer-me um favor?
- Sim, sim... Se depender de mim.
- Se queres, podes fazê-lo.
- Pois bem, diga-me o que deseja, que o
farei.
- Estás seguro?
- Seguro!
- Diga-me: não tem calado nenhum pecado
na confissão?
Quis negar-me, porém imediatamente
acrescentei:
- E este ou este outro, por que não os
confessaste?
Então olhou-me no rosto, começou a
chorar e me disse:
- O Senhor tem razão: faz dois anos que
quero confessar disso e, desejando de uma vez para outra, não me atrevi a
fazê-lo.
Então o animei e lhe disse o que tinha
que fazer para se por em paz com Deus".
A fita mágica
Pareceu-me estar numa planície coberta
por um número incontável de jovens. Uns brigavam, outros blasfemavam. Aqui se
roubava,, ali se ofendiam os bons costumes. Uma nuvem de pedras, lançadas por
bandos que se faziam a guerra, via-se no ar. Eram rapazes abandonados por seus
pais de costumes corrompidos. Estava já a ponto de fugir daí, quando vi ao meu
lado uma senhora que me disse:
- Põe te entre esses jovens e trabalha.
Fui , mas que fazer? Não havia um
local onde reuni-los; queria fazer-lhes o bem: e dirigia-me pessoas que estavam
a olhar de longe e podiam ser de valiosa ajuda para mim. Ninguém me ajudava.
Voltei-me para a Senhora e ela me disse:
- Aqui tens um lugar: E me mostrou um
prado .
- Mas aqui, disse eu, não há mais, senão
somente o prado.
Ela respondeu:
Meu filho e os apóstolos não tinham um
palmo de terra onde pousar a cabeça.
Comecei a trabalhar naquele prado;
aconselhava, pregava, confessava; mas vi que (meu esforço) em grande parte
resultava inútil; meu esforço se não encontrasse um edifício e com local onde
recolhê-los e onde abrigar os que haviam sido totalmente abandonados pelos seus
pais e rejeitados e desprezados por todo o mundo. Então aquela Senhora me levou
um pouco mais para o norte e me disse:
E vi uma Igreja pequena e baixa, um
pátio pequeno e muitos jovens. Retornei meu trabalho. Mas, com a Igreja era
muito pequena, recorri de novo a Ela, e me mostrou outra Igreja bastante maior
e com uma casa ao lado. Levando-me depois a um pedaço de terreno cultivado,
quase um frente à fachada da Segunda igreja. E acrescentou.
Neste lugar, onde os gloriosos mártires
de Turim, Aventor, Solutor e Otávio, sofreram seu martírio, sobre essa terra
banhada e santificada com seu sangue, quero que Deus seja honrado de modo muito
especial.
E assim, desejando, adiantou um pé até
descansá-lo no ponto exato onde teve lugar o martírio, e indicou-me com
precisão. Eu queria por um sinal para encontrá-lo quando voltasse nesse lugar,
mas não encontrei nada; nem um palito, nem uma pedra; contudo, fixei-o na
memória com toda exatidão. Corresponde exatamente no ângulo interior da Capela
dos Santos Mártires, antes chamada de Santa Ana, do lado do Evangelho, da
Igreja de Maria Auxiliadora.
Entretanto, via-me rodeado de um número
imenso sempre crescente de jovens; e olhando à Senhora, cresciam os meios e o
local; e vi, depois, uma grandíssima Igreja, precisamente no lugar onde me
disseram haver acontecido o martírio dos santos da região Tebéia, com muitos
prédios ao redor e com o lindo monumento no meio-centro.
Enquanto tudo isso acontecia, sempre
sonhado, tinha como colaboradores Sacerdotes que me ajudavam no princípio, mas
depois fugiam. Buscava com grande trabalho atraí-los para mim, e eles pouco
depois iam embora me deixavam só. Então voltei-me de novo àquela Senhora, que
me disse:
Queres saber como fazer para que não vão
embora? Toma esta fita e ata-lhes na cabeça.
Tomei com reverência a fita branca de
sua mão e vi que nela estava escrito uma palavra: Obediência. Experimentei em
seguida o que a Senhora me indicou e comecei a atar na cabeça de alguns dos
meus colaboradores voluntários com a fita, e vi logo uma grande mudança, de
fato surpreendente. Este fato se fazia cada vez mais patente, à medida que ia
cumprindo o conselho que me havia dado, já que aqueles que deram o desejo de ir
para outra parte e ficavam, por fim, comigo. Assim, constituiu-se a Sociedade
Salesiana.
Vi, adiante, muitas outras coisas que
não é agora o caso de manifestar. Basta dizer que, desde aquele tempo, eu
caminhava sempre seguro.
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