26 de dezembro de 2014

Sermão para o 4º Domingo do Advento – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] As Antífonas Ó – Preparação para o Natal

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Derramai, ó céus, das alturas o vosso orvalho e que as nuvens chovam o justo.”
A Santa Igreja nos prepara para o Natal do Menino Deus com diligência. Pelas penitências, pelas orações, pela riquíssima liturgia do advento. Dentro da liturgia do advento, merece especial destaque as chamadas Antífonas Ó. As Antífonas Ó são pequenos textos que precedem o canto do Magnificat, quer dizer, precedem o canto daquelas palavras ditas por Nossa Senhora em resposta aos elogios de Santa Isabel quando da visitação. A Igreja nos faz cantar as Antífonas Ó do dia 17 ao dia 23 de dezembro. Elas recebem o nome de Ó porque é assim que começam: O Sapientia – Ó Sabedoria; O Rex gentium– Ó Rei dos povos. São essas antífonas que estão na origem do título de Nossa Senhora do Ó, dado a Nossa Senhora grávida do Menino Jesus. As Antífonas Ó são um tesouro precioso da liturgia católica que foi esquecido pelo tempo, assim como tantos outros tesouros foram rejeitados ou simplesmente foram relegados ao esquecimento.
Nessas antífonas, após a exclamação Ó, que expressa nosso desejo pela vinda de Jesus Cristo em nossas almas e pela sua vinda como juiz soberano, fala-se um dos títulos messiânicos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Percorramos um pouco essa fonte de vida espiritual que São as Antífonas Ó.
No dia 17, canta-se O Sapientia, Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo, atingindo de um extremo (da criação) ao outro, dispondo todas as coisas com força e suavidade: vinde para nos ensinar o caminho da prudência. Aquele que vem é o Verbo de Deus, é a Sabedoria de Deus. Aquele que vem é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. A Sabedoria, exaltada no Antigo Testamento com um livro próprio, se encarna. É a Sabedoria que governa todas as coisas, dispondo tudo com suavidade, sem que às vezes nem percebamos, mas que dispõe também com força, a fim de que Deus seja glorificado, mesmo quando permite os males para tirar deles um bem. Portanto, o Menino Jesus é a Sabedoria de Deus encarnada. É a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Aquele Menino reclinado na manjedoura, com frio, enrolado em alguns trapos de tecido, é não somente um homem especial, mas é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Ele não consegue falar, mas é a sabedoria eterna, que com o Pai e o Espírito Santo é um só Deus, que governa todas as coisas.
No dia 18, canta-se O Adonai.  Ó Adonai e guia da casa de Israel, que aparecestes para Moisés no fogo da sarça ardente e lhe destes a lei no Monte Sinai: vinde para nos redimir com a força do teu braço. Aquele que vem é o mesmo que guiou o povo judeu com a sua onipotência. É o mesmo Deus que fez a aliança com o povo hebreu e que vem agora estabelecer a nova e eterna aliança. Ele toma, então, um corpo, faz-se carne para nos redimir com a força do seu braço, com a efusão do seu sangue. É com esse sangue, com seu sacrifício na cruz que Jesus Cristo estabelece a nova lei.
No dia 19, cantamos O Radix Jesse. Ó Raiz de Jessé, que estais posta como sinal para os povos, diante do qual os reis se calam e a quem todos os povos invocarão: vinde para nos libertar, não demoreis mais. Jessé era o Pai do Rei Davi, de quem Jesus Cristo é descendente. É da árvore de Jessé que o Menino Deus vem ao mundo. Sim, além de ser a Sabedoria eterna e o Senhor, ele é também perfeitamente homem, como nós, excetuando o pecado e a inclinação para o mal. Ele é o fruto da árvore de Jessé que vem trazer o remédio para o fruto do pecado, comido por Adão e Eva. Ele vem nos libertar não de uma opressão qualquer como querem os comunistas que pretendem fazer teologia. Ele vem nos libertar do pecado. Sendo Deus, Ele é não somente o fruto, mas também a raiz, porque é o criador de todas as coisas.
No dia 20, cantamos O Claves David. Ó Chave de Davi e Cetro da casa de Israel, que abris e ninguém fecha; que fechais e ninguém abre: vinde e tirai do cárcere o prisioneiro que está imerso nas trevas e na sombra da morte. Parece peculiar chamar o Salvador de chave de Davi. Mas é bem normal. Davi é o Rei por excelência do povo judeu. A chave de Davi representa esse poder real, de ligar e desligar, de abrir e fechar. Assim, Nosso Senhor dará as chaves do reino dos céus a São Pedro, dando-lhe o poder supremo na Igreja. Aqui está expresso, então, o poder de rei desse Menino que nasce despojado de tudo no estábulo de Belém, mas a quem o Pai deu todo poder no céu e na terra. É esse Divino Menino que, na sua vida pública, vai nos dar a nova lei, a lei do Evangelho, para renovar a face da terra. Herodes o teme. Ele veio nos abrir a porta do céu, transmitindo-nos as verdades eternas, dando-nos os sacramentos. Ele veio nos tirar das trevas e da sombra da morte, isto é, do erro e do pecado. O pecado ainda não é a morte eterna, mas é a sombra da morte eterna que paira sobre aquele que está em estado de pecado mortal, pecado grave. Esse Menino veio nos tirar das trevas e da sombra da morte.
Hoje, dia 21, canta-se O Oriens. Ó Oriente, esplendor da luz eterna e sol de justiça: vinde e iluminai os que estão nas trevas e na sombra da morte. Esse Menino é o Oriente, Ele é o sol que nasce. Luz da luz, Deus de Deus, Deus Verdadeiro de Deus verdadeiro. Esplendor perfeito da luz eterna, que é Deus Pai. Sol de justiça que nos veio trazer a santidade. Oriente é o nascer do sol que dissipa as trevas. O nascimento do Menino Jesus começa já a dissipar as trevas. São José e a Virgem Maria são ainda mais santificados com o nascimento dEle. Os anjos exultam no céu ao ver o Deus deles feito homem. Os pastores são já atraídos por Ele, assim como os Reis Magos. O Oriente, que é Jesus Cristo, começa a já a santificar as almas, a levá-las para Deus.
No dia 22, cantamos O Rex gentium. Ó Rei das nações e desejado por elas, pedra angular, que fazes dos dois povos um só: vinde e salvai o homem que formaste do limo da terra. Ele é o Rei das nações, dos povos. Não um rei terreno, como pensou erroneamente Herodes, procurando, por causa disso, matá-lo. Seu reino é espiritual, mas está presente nesse mundo. Seu reino é a Igreja Católica. Ele veio reinar sobre toda criatura, de modo especial sobre a nossa alma, sobre a nossa inteligência e a nossa vontade. Ele veio reinar sobre toda e qualquer sociedade, começando pelas famílias, mas também as nações e os estados. Ele veio para reinar sobre todos. Ele é a pedra angular, que quer reunir na única verdadeira religião – a católica – judeus e gentios, como a pedra angular reúne as duas paredes de uma casa. Todos são chamados a se submeter a Nosso Senhor.
 No dia 23 canta-se a última Antífona: O Emmanuel. Ó Emanuel, nosso Rei e Legislador, esperança e Salvação dos povos: vinde para nos salvar, Senhor, Deus nosso. Aquele Menino é Emanuel. Ele é verdadeiramente Deus conosco. Ele é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, como já dissemos. Assim sendo, Ele é necessariamente nosso Rei e nosso Legislador. Ele é também a esperança dos povos. Hoje, sintomaticamente, em nossa sociedade, perdeu-se a esperança. As pessoas andam como desesperadas, como se a vida não tivesse significado. Perdeu-se a esperança verdadeira, isto é, de vida eterna, porque perdeu-se Jesus Cristo. O Menino Deus, vindo ao mundo, tem como finalidade nos salvar. Para isso, o Verbo Se fez carne. A finalidade da encarnação é a nossa salvação. Um Deus que nos amou tanto que se dignou nascer em um estábulo em Belém e sofrer enormemente toda a sua vida para nos salvar. Consideremos os títulos do Salvador, as qualidades dEle e as suas ações contidas nas Antífonas Ó. Fazendo isso poderemos nos preparar bem para o Natal do Senhor, nos convertendo a Ele. Ele veio para nos salvar.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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