15 de dezembro de 2013

TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO.

Existência da Revelação

O Evangelho de hoje conta que os judeus enviaram mensageiros a João Batista, perguntando-lhe quem era. Se era o Cristo, Elias, ou qualquer outro profeta.

O precursor rejeitou todos os títulos e intitulou-se: a voz do que clama no deserto, para preparar os caminhos do Senhor; e ele termina fazendo, em nome de Deus, a grande revelação da presença de Jesus Cristo entre eles: Entre vós está quem vós não conheceis.

Nós também devemos aproximar-nos de Deus e pedir-lhe que se revele à nossa fé, pois sem esta revelação, nunca teremos uma idéia certa, clara, convicta de Deus e de sua vida em nós.

Procuremos convencer-nos fortemente da necessidade da Revelação divina, examinando hoje.

1. A existência da revelação
2. As épocas da revelação.

São duas noções necessárias para excitar em nós este espírito de fé com que devemos receber e acatar as verdades reveladas.

I. A existência da revelação

A revelação existe. É um fato.

Temos toda a certeza de que Deus manifestou aos homens verdades que a simples razão não pode descobrir, ou pode apenas conhecer superficialmente.

Deus não era obrigado a retirar o homem da abjeção em que o havia mergulhado o pecado original e a remediar as suas grandes misérias.

Mas, notemos que Deus é Pai; e um pai, vendo o seu filho no fundo da miséria, não pode deixar de estender-lhe a mão.

Quando a criança entra neste mundo, é já um ser racional, embora seja incapaz de orientar-se. Deus colocou a seu lado uma criatura, sua mãe, que se inclina sobre o berço e o semblante iluminado pelo amor, lhe fala, instrui-a, sustenta-a.

E Deus, Pai tão amoroso, não se inclinaria sobre o berço da humanidade, onde se agita e chora a sua pobre filha, pedindo luz e amparo? Ah! Isto não; é impossível! Deus seria menos terno que os nossos pais da terra!

Eis porque Deus falou, nos revelou o que ignoramos e precisamos saber.

Deus destina o homem para um fim sobrenatural; é preciso pois que lhe dê luzes sobrenaturais e tais luzes devem brotar de seu próprio Coração e lábios.

E como pode o homem conhecer que uma revelação é verdadeiramente divina?

Pelos caracteres negativos e positivos que acompanham sempre a palavra divina.

Os negativos referem-se à própria revelação, afastando o que seria oposto às perfeições divinas, à uma revelação anterior, a preceitos positivos existentes e à perfeição do homem.

Os positivos às provas que acompanham as revelações, isto é: os milagres e as profecias; dois fenômenos exteriores extraordinários, luminosos que se impõem à convicção.

Os milagres e as profecias não fazem compreender o mistério revelado, nem dão a razão do preceito positivo, mas fazem-nos aceitar como sendo de Deus.

São como o selo, o carimbo que Deus imprimisse sobre suas obras, ou as credenciais com que Ele apresenta seus enviados; os milagres e as profecias constituem o sinal divino por excelência.

II. As épocas da revelação

A revelação completa efetuou-se em três épocas.

A primeira foi feita a Adão, no berço da existência humana, nas sombras do paraíso terreno.

Continha esta revelação verdades naturais, por exemplo: a existência dos anjos bons e maus, e, depois da queda, a visão do libertador prometido.

Continha também certos preceitos positivos, por exemplo: o modo de oferecer sacrifícios.

Esta primeira revelação confirmada e cada vez mais determinada a Abraão e aos demais Patriarcas, recebeu o nome de : Revelação primitiva ou patriarcal.

A segunda revelação foi feita a Moisés, no monte Sinai e aos Profetas, encarregados de a transmitirem aos Hebreus.

Esta segunda revelação relembrava e revigorava a lei natural, as revelações anteriores, e prescrevia muitos novos preceitos, tendo em vista preparar os espíritos para a vinda do Messias. É a revelação Mosaica.

A terceira foi feita pelo próprio Jesus Cristo, sendo dirigida à humanidade inteira

Esta nova revelação que completa todas as revelações precedentes, com mais clareza e perfeição junta-lhe um conjunto completo de verdades, de preceitos e de auxílios sobrenaturais, que dão à lei antiga a sua perfeição completa e definitiva.

É a revelação cristã ou religião cristã.

Convém notar que estas três revelações, distintas quanto ao tempo em que foram feitas, constituem uma única e mesma revelação, ou religião, desenvolvida por Deus através dos tempos.

Todas estas revelações tem o mesmo autor: Deus; o mesmo fim: a fé sobrenatural; os mesmos meios sobrenaturais: a graça sobrenatural; o mesmo fundamento: o Redentor esperado e chagado; os mesmos preceitos: o decálogo; e os mesmos dogmas.

O que se constata é que os dogmas foram revelados progressivamente, manifestados pouco a pouco na medida das disposições dos espíritos; todos, porém, estavam contidos como em gérmen nas três revelações.

III. Conclusão

Pelo que precede, compreendemos os imensos benefícios que nos trouxe a revelação.

Antes de tudo, a revelação vem enxertar uma nova ordem de idéias sobre idéias existentes: a ordem sobrenatural veio elevar e aperfeiçoar a ordem natural.

A ordem sobrenatural é uma mudança radical em nossas idéias e aspirações.

A razão, tocada pela graça, tornou-se ;
O desejo natural de gozo tornou-se esperança;
A simpatia natural, mudou-se em caridade.

Em resumo: o homem da lei natural saiu das mãos de Jesus Cristo, enaltecido, transfigurado, aperfeiçoado, não fugindo mais de Deus, como os antigos judeus, mas apresentando-se diante dele com sentimentos de amor filial.

A lei do temor cedeu o lugar à lei do amor.

O homem racional tornou-se o homem celestial, como o admiramos nos Santos, dizendo que são anjos numa carne mortal.

EXEMPLO

Inauguração de uma estátua

Devia ser inaugurada uma grande e bela estátua de um herói da nação.

Lá estava a estátua em pé, altiva, em cima de seu pedestal finamente esculpido...

Em baixo, lia-se o nome do herói.

A estátua, porém, ficou velada por um pano grosso, que só deixava aparecer as linhas gerais, o tamanho do herói, mas que encobria, por completo, a expressão de seus traços, seu gesto, a flama de seu olhar, a fronte altiva.

Há música, há discursos, há foguetes e vivas.

Uns oradores, em frases altissonantes retraçam a vida operosa e benfazeja do herói.

Outros mostram a sua caridade, o seu coração generoso, os rasgos da sua dedicação.

Mas a estátua permanece velada.

Lê-se no olhar da multidão o desejo de contemplar o herói, de admirar a sua fronte serena, de penetrar, como pelos seus lábios, até ao seu grande coração...

E os oradores falam, exaltam, suscitam nos ouvintes um frêmito de entusiasmo.

Enfim, é a hora de tirar o véu, de revelar o grande homem.

Os braços se estendem... as mãos se preparam... os olhos dardejam chamas, as bocas se abrem...

O véu cai... A imagem aparece em toda a sua beleza. Os seus traços se revelam... enquanto mil mãos batem palmas e mil vozes lançam retumbantes vivas!

Caiu o véu!
A estátua fica desvelada.
O herói está revelado!...

Eis o que é a Revelação divina.

Lá estava Deus, grande, majestoso, mas velado... deixando apenas aparecer contornos de sua majestade, nas obras da sua mão, no universo.

Mas Ele vai ser revelado... vai cair o véu.

Um canto do véu caiu já no paraíso terreno: É a primeira revelação. Outro canto caiu no Sinai: É a segunda revelação.

Enfim, o véu cai inteiro: e nos aparece o Cristo, Deus e Homem, falando ao mundo e revelando-lhe os mais íntimos segredos da sua natureza e da sua vida.

É a grande revelação. A revelação completa da religião.

A razão viu a estátua em seus traços gerais.

A revelação fez cair o véu e Deus aparece, tão visível quanto pode ser visível a olhos humanos a deslumbrante grandeza de Deus.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 32 - 37)

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