Invenietis infantem pannis involutum, et positum in praesepio — “Achareis um menino envolto em panos e colocado numa manjedoura” (Luc. 2, 12).
Sumário. A pequenez das crianças é um grande atrativo de amor, por causa da inocência. Mas atrativo muito mais poderoso nos deve ser a pequenez do Menino Jesus, que, sendo Deus imenso, se fez pequeno para atrair com mais força os nossos corações. Ah! Como será possível contemplar com fé um Deus feito Menino, chorando e gemendo numa gruta, sobre um pouco de palha, e não amá-Lo e não convidar todos a seu amor, como fazia São Francisco de Assis? Amemus puerum de Bethlehem — “Amemos o Menino de Belém”.
I. Considera que o primeiro sinal que o Anjo deu aos pastores para reconhecerem o Messias nascido foi este: que o haviam de achar como menino: invenietis infantem — “achareis um menino”. A pequenez das crianças é um forte atrativo do amor; mas atrativo muito mais forte deve ser para nós a pequenez de Jesus Menino, que, sendo Deus imenso, se fez pequeno para atrair com mais violência os nossos corações. Sic nasci voluit, qui voluit amari. Jesus não veio ao mundo para ser temido, mas para ser amado, e por isso quis mostrar-se na sua primeira vinda como menino tenro e pobre.
Magnus Dominus et laudabilis nimis, dizia São Bernardo — O meu Senhor é grande e por isso digno de todo o louvor, pela sua majestade divina. Mas, contemplando-o depois o Santo, feito pequenino na gruta de Belém, acrescentou com ternura: Parvulus Dominus et amabilis valde. — O meu grande e supremo Deus se fez pequenino por meu amor, e por isso é extremamente amável. — Oh! Quem poderá contemplar com fé um Deus feito menino, chorando e gemendo numa gruta, sobre um pouco de palha, e não O amar, e não convidar todos a seu amor, como os convidava São Francisco de Assis, dizendo: Amemus puerum de Bethlehem — “Amemos o menino de Belém”! Ele é pequenino, não fala, apenas geme: mas, ó Deus, aqueles vagidos são outras tantas vozes pelas quais nos convida a seu amor e nos pede os nossos corações.
Considera que as crianças atraem o afeto pela sua inocência. Todas as crianças, porém, nascem manchadas pelo pecado. Jesus nasce pequenino, mas nasce santo: sanctus, innocens, impollutus (1) — “santo, inocente, impoluto”. “O meu amado”, assim dizia a Esposa dos Cânticos, “é todo rubicundo pelo amor, e todo cândido pela sua inocência, sem mancha de qualquer culpa” — Dilectus meus candidus et rubicundus, electus ex millibus (2). Consolemo-nos, nós pobres pecadores, porque este divino Menino veio do céu para nos comunicar pela sua Paixão a sua inocência. Os seus méritos, contanto que os aproveitemos, podem mudar-nos de pecadores em santos; ponhamos, pois, neles toda a nossa confiança; peçamos por eles todas as graças ao Eterno Pai, e tudo alcançaremos.
II. Ó Pai Eterno, miserável pecador como sou e digno do inferno, nada tenho para Vos oferecer em expiação dos meus pecados. Ofereço-Vos as lágrimas, as penas, o sangue, a morte deste Menino, que é vosso Filho, e Vos peço misericórdia por seus merecimentos. Se não tivesse este divino Menino para Vos oferecer, perdido estaria, não haveria mais esperança para mim. Mas Vós m´o haveis dado, a fim de que, oferecendo-Vos seus merecimentos, possa esperar minha salvação. Senhor, tem sido muito grande minha ingratidão; maior é, porém, a vossa misericórdia. E que maior misericórdia podia esperar de Vós do que me dardes vosso próprio Filho para redentor e vítima de expiação por meus pecados?
Pelo amor, pois, de Jesus Cristo, perdoai-me todas as ofensas que Vos fiz e das quais me arrependo de todo o coração, por Vos ter desagradado a Vós, bondade infinita. Pelo amor de Jesus Cristo Vos peço a santa perseverança. Ah! Deus meu, se Vos ofendesse ainda depois de me haverdes esperado com tanta paciência, esclarecido com tantas luzes e perdoado com tanto amor, não mereceria um inferno feito de propósito só para mim? Ah, meu Pai, não me abandoneis. Tremo ao pensar nas minhas traições. Quantas vezes tenho prometido amar-Vos, e cada vez Vos virei as costas!
Ah! Meu Criador, não permitais que tenha de chorar a desgraça de me ver novamente privado da vossa amizade: Ne permitas me separari a te — “Não permitais me aparte mais de Vós!” Repito-o e quero repeti-lo até o meu último suspiro, e peço-Vos a graça de repeti-lo sempre: Não permitais me aparte mais de Vós! Meu Jesus, ó doce Menino, prendei-me a Vós pelos laços do amor. Amo-Vos e quero sempre amar-Vos. Não permitais me separe mais do vosso amor. — Amo-Vos também, ó minha Mãe Maria; dignai-vos igualmente amar-me. Se me amais, eis aí a graça que me deveis alcançar: a de nunca deixar de amar a meu Deus. (II 365).
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1. Hebr. 7, 26.
2. Cant. 5, 10.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 490-493.)
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