1 de dezembro de 2013

PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO.

A existência de Deus

O Evangelho de hoje, início do ano eclesiástico, nos coloca, de relance, diante da cena terrificante do fim do mundo e do Juízo universal.

Olhai e levantai as vossas cabeças, diz o Salvador,... passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.

Eis pois, no meio dos seres, coisas que passam e um Ser que não passa, mas que é eterno, o princípio de tudo.

O que passa é este mundo, o que não passa é Deus.

E há gente que ousa afirmar, de boca e pela sua vida que Deus não existe. O Espírito Santo nos avisa que tais idéias vêm da boca e não da inteligência: O insensato diz em seu coração: não há Deus! (Sal. 13)

Seria triste ser obrigado a convencer um filho de que teve pai; mais triste é ver um homem negar que é filho de Deus.

Em frente da cena tremenda do fim do mundo e do Salvador vindo sobre uma nuvem com grande poder e majestade, demonstremos claramente:

1. Que Deus existe verdadeiramente;
2. Que Deus é um Ser pessoal.

Refutaremos, deste modo, as teorias dos ateístas que negam Deus, e as dos panteístas que afirmam que Deus é o universo.

I. Deus existe

Chamamos Deus o Ser supremo, a causa primeira de tudo o que existe; Aquele que existe por si mesmo, de quem tudo depende e que não depende de ninguém.

Os que negam a existência de Deus chamam-se: ateus.

Há bastante ateus de vida, vivendo como se não houvera Deus, porém, não há ateus de convicção, porque toda convicção exige motivos de convicção, estes não podem ser encontrados.

Entre as numerosas provas da existência de Deus, limitemo-nos às três seguintes:

a) A fé do gênero humano

Todos os povos, de todos os tempos, acreditaram na existência de um Ser Supremo, ou Deus. É a convicção fundamental do gênero humano.

É tão natural ao homem crer em Deus quão natural é às crianças crerem em seus pais.

A crença em Deus não vem da ciência, nem dos homens, vem da natureza e da razão, como expressão de uma verdade inelutável.

b) A ordem e a beleza do universo

Examinando o mundo, encontramos nele uma ordem admirável em sua organização e funcionamento. Tudo se sucede no tempo marcado, sem vacilação, sem alteração. O mundo é um verdadeiro relógio. Ora, disse Voltaire:

Quanto mais nisto cogito
Mais longe estou de pensar,
Que, sem ter relojoeiro,
Possa este relógio andar.

Na união e na variedade das suas partes, o mundo constitui uma obra-prima, inimitável de poesia, de pintura, de audácia e de harmonia.

Se a existência de um relógio prova a existência de um relojoeiro; se a beleza de um quadro prova a existência de um artista; um quadro inimitável indica necessariamente um Artista Supremo.

c) A existência do gênero humano

Ninguém pode criar a si mesmo, pois se se pudesse criar, este novo ser criado já não seria o que criou, visto este último já existir.

Ora, o homem existe.
Logo teve um Criador.

Cada um de nós é obrigado a confessar que recebeu a vida de outrem e este outro de mais outro, até chegar a existência do primeiro, que a recebeu de Deus.

O primeiro deu a vida, mas não a recebeu de ninguém: é único. É Deus. Logo existe.

Ninguém dá o que não possui. Deus dá a vida. Logo Ele a possui.

II. Deus é um Ser pessoal

Deus é uma personalidade. Não somente Ele existe, mas existe completamente distinto da obra que criou, como o artista é distinto da produção de suas mãos.

A categoria dos insensatos que admitem a existência de Deus, mas que dizem não ter personalidade distinta das coisas criadas, chama-se a dos panteístas.

O ateísmo e o panteísmo são os dois extremos afastados da verdade: os primeiros não admitem a existência de Deus; os segundos pretendem loucamente que tudo seja Deus, de modo que na opinião deles há identidade substancial entre Deus e o mundo. É como se alguém dissesse que o pedreiro e a casa que ele constrói são uma só e mesma coisa.

O homem sente a necessidade de Deus, a impiedade, não podendo arrancar este sentimento inato, fabrica um deus que tem este nome, mas não tem o poder que tal título supõe.

Deus não é mais alguém, é uma coisa.
Deus não é mais uma pessoa que governa; é o universo que se governa por si!

Tal deus não incomoda a ninguém, porque não é ninguém.

O panteísmo, para sustentar tal hipótese, é obrigado a afirmar que a mesma substância (o universo) é ao mesmo tempo: finito e infinito, mutável e imutável, passageiro e eterno, ou simplesmente: preto e branco, grande e pequeno, pois reúnem num termo único dois elementos radicalmente opostos.

As conseqüências de tal hipótese são imorais, pois se tudo é Deus: Deus é composto do que há neste mundo: erro e verdade, crime e virtude, ignorância e ciência.

De duas uma: é preciso negar a existência de Deus – o que é impossível – ou admitir um Deus – ignorante, mentiroso, vicioso.

Em outros termos: é preciso negar a evidência ou afirmar o absurdo: pois divinizar tudo é tudo justificar.

III. Conclusão

Como acabamos de ver, o ateísmo e o panteísmo: nenhum Deus, ou: tudo Deus, são dois irmãos gêmeos, duas formas da incredulidade, do vício.

Deus existe: Para prová-lo, basta seguir o conselho do divino Mestre: Levantai as vossas cabeças e examinai o mundo. Em cada uma das suas peças constitutivas está escrito, em letras flamejantes, o nome do Criador, do ser Supremo.

Ora, o ser supremo é necessariamente único; sendo único, é também necessariamente um ser pessoal, uma personalidade distinta de tudo o que existe neste e no outro mundo.

Tão pessoal é Ele que o Evangelho no-Lo apresenta como vindo numa nuvem com grande poder e majestade, para, no fim dos tempos, julgar o universo.

EXEMPLOS

1. Uma resposta de Newton

Uma noite, Newton passeava com um de seus amigos, indiferente em questões religiosas.

No meio da conversa, este disse ao sábio que lhe desse uma prova da existência de Deus, curta e sem réplica.

Newton estendeu a mão para o firmamento e respondeu simplesmente:

- Olhe!...

2. Resposta de um menino

Um sapateiro disse um dia a seu aprendiz, menino muito religioso:

- Olhe, pequeno, este negócio de crer em Deus é beatice... Deus não existe, o mundo se fez por si.

O menino respondeu com calma:

- Mas, neste caso, é mais fácil fazer um mundo do que um sapato.

3. Diálogo no trem

- O mundo funciona sozinho; não há precisão de Deus para explicar o seu movimento.
- Olhe, a porta do carro se fecha também sozinha, basta uma mola. Não há pois precisão de operário para explicar este movimento.
- Ao contrário; e o senhor o sabe tão bem quanto eu: uma porta que se fecha automaticamente por si mesma supõe mais inteligência da parte do artista que a fez do que uma porta comum.

----------
(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 18-23)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.