30 de março de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 20

Dez anos depois da viagem de Lietbert, sete mil cristãos, entre os quais estavam o Arcebispo de Mogúncia, os Bispos de Ratisbona, de Bamberg, de Utrecht, partiram juntos das margens do Reno, para
a Palestina. Essa numerosa caravana, que prenunciava as Cruzadas, atravessou a Alemanha, a Hungria, a Bulgária, a Trácia, e foi recebida em Constantinopla, pelo Imperador Constantino Ducas.

Depois de ter visitado as igrejas de Bizâncio e os numerosos objetos, relíquias dos gregos, os peregrinos do Ocidente atravessaram sem perigo a Ásia Menor e a Síria; mas, quando se aproximaram de Jerusalém, a vista de suas riquezas despertou a cobiça dos árabes beduínos que habitavam nos campos de Saron e de Ramla. Atacados por uma multidão ávida de seus despojos, os peregrinos defenderam- se durante três dias num edifício abandonado: consumidos pela fome e pelo cansaço, tendo como armas somente pedras, que lhes serviam de abrigo, propuseram, por fim, entregar-se. As discussões degeneraram, porém, numa violenta questão, que ia ter um fim funesto, quando o Emir de Ramla avisado. por alguns fugitivos, veio em seu auxílio, protegeu-lhes a vida, salvou-lhes os tesouros, e, por um módico tributo deu-lhes uma escolta que os acompanhou até às portas da Cidade Santa. A fama de seus combates e dos perigos os havia precedido em Jerusalém. Lá foram recebidos em triunfo pelo patriarca e levados ao som de tímbales, à luz de tochas, à Igreja do Santo Sepulcro. O monte Sião, o monte das Oliveiras, o vale de josafá, foram testemunhas dos transportes de sua piedade. Não puderam visitar as margens do Jordão e os lugares mais célebres da Judéia, expostos então às incursões dos árabes. Depois de terem perdido mais de três mil de seus companheiros, voltaram à Europa para contar suas trágicas aventuras e os perigos da peregrinação a terra santa.

Entre as peregrinações daquela época, a história nos fala ainda da de Roberto de Frison, conde de Flandres, de Berengário II, conde de Barcelona. Berengário morreu na Ásia, não tendo podido suportar as rigorosas penitências que se havia imposto a si mesmo. Roberto voltou à sua terra, onde sua peregrinação fê-lo encontrar graça perante o clero, que ele tinha querido despojar. Esses dois príncipes tinham sido precedidos na Palestina por Frederico, conde de Verdun. Frederico era da ilustre família, que devia um dia contar entre seus heróis, Godofredo de Bouillon. Partindo para o Oriente, Frederico tinha cedido seu condado ao Bispo de Verdun. De volta à Europa, ele entrou para um mosteiro e morreu
como prior da abadia de São Wast, perto de Arras.

Grandes calamidades ameaçavam então o mundo cristão; uma nação bárbara, flagelo dos outros povos, bigorna que devia pesar sobre toda a terra, ia ser suscitada pela cólera divina; há vários séculos as ricas regiões do Oriente eram invadidas continuamente por hordas vindas da Tartária: à medida que as tribos vitoriosas se enfraqueciam pelo luxo e se enervavam pelos prazeres da paz, não tardavam a ser substituídas por outras, que tinham ainda toda a rudeza e toda a barbárie dos desertos.

Os turcos, vindos das regiões situadas além do Oxo, tinham se apoderado da Pérsia, onde a imprevidente política do sultão Mahmoud, tinha recebido e tolerado suas tribos errantes. O filho de Mahmoud deu-lhes combate no qual fez prodígios de valor; mas a fortuna, diz Féristha, se havia declarado contra suas armas: Ele olhou em redor de si durante o combate, e se excetuarmos o corpo que ele comandava, lodo seu exército tinha tomado os caminhos da fuga". No mesmo teatro de sua vitória os turcos procederam à eleição do rei. Uma multidão de dardos foram reunidos em feixes; e sobre cada um desses dardos estava escrito o nome de uma tribo, de uma família, de um guerreiro. Um menino tirou três flechas na presença de todo o exército, e a sorte deu a coroa a Togrul-Bel , neto de Seldjoue. Togrul-Bel cuja ambição igualava à coragem e bravura abraçou com seus soldados a fé de Maomé e uniu mui depressa ao título de conquistador da Pérsia, o de protetor da religião muçulmana.

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