Os gregos pareceram então despertar de seu longo sono e procuraram aproveitar-se das divisões e do declínio dos sarracenos. Nicéforo Focas pôs-se em campo à frente de um poderoso exército, e retomou Antioquia dos muçulmanos. Já o povo de Constantinopla celebrava o triunfo e o chamava de Estrela do Oriente, a morte e o flagelo dos infiéis. Ele teria talvez merecido esses títulos pomposos se o clero grego tivesse secundado seus esforços.
Nicéforo queria dar a essa guerra um caráter religioso e por no número dos mártires todos os que morriam combatendo. Os prelados do seu império condenaram seu intento como sacrílego e opuseram-lhe um cânon de S. Basílio, cujo texto recomendava ao que tinha matado um inimigo de se abster durante três anos da participação aos santos mistérios. Privado do móvel poderoso do fanatismo Nicéforo encontrou entre os gregos mais panegiristas do que soldados e não pode continuar suas vitórias contra os sarracenos, a quem, mesmo na decadência, a religião ordenava a resistência e a vitória. Seus triunfos, que eram celebrados com entusiasmo em Constantinopla, limitaram-se à tomada de Antioquia e só serviram para fazer serem perseguidos os cristãos da Palestina.
O patriarca de Jerusalém, acusado de estar de entendimento com os gregos, morreu na fogueira e várias igrejas da cidade santa foram incendiadas. Um exército grego, comandado por Temelico, tinha avançado até as portas de Amido, cidade situada às margens do Tigre: esse exército foi surpreendido durante uma tempestade pelos sarracenos que fizeram um grande número de prisioneiros. Os soldados cristãos que caíram nas mãos dos infiéis souberam nas prisões de Bagdad, da morte de Nicéforo e como Zimiscés, seu sucessor, não se incomodasse com sua libertação, seu chefe escreveu-lhe nestes termos: "Vós, que nos deixais morrer numa terra maldita e que não nos julgais dignos de ser sepultados segundo nossos usos cristãos, nos túmulos de nossos pais, não vos podemos reconhecer como chefe legítimo do santo império grego. Se não vingardes os que morreram em Amido e os que gemem em terras estrangeiras, Deus vos pedirá contas disso no dia terrível do juízo. "Quando Zimiscés recebeu esta carta em Constantinopla, diz um historiador da Armênia, ficou tão sentido que resolveu vingar o ultraje feito à religião e ao império. De todos os lados começaram os preparativos para uma nova guerra contra os sarracenos. Os povos do Ocidente não ficaram estranhos a essa empresa, que precedeu de mais de um século as Cruzadas. Os venezianos, que tinham estendido seu comércio até o Oriente, proibiram, sob pena de morte ou de uma multa de cem libras de ouro, que se mandasse aos muçulmanos da África e da Ásia, ferro, madeira, ou qualquer espécie de armas. Os cristãos da Síria e vários príncipes armênios reuniram-se sob a bandeira de Zimiscés, que se pôs em campo e levou a guerra ao território dos sarracenos. Reinava então grande confusão entre as potências muçulmanas, as dinastias sucediam-se com tanta rapidez, que a história mal pode conhecer que príncipe governava em Jerusalém. Depois de ter vencido os muçulmanos nas margens do Tigre e forçado o califa de Bagdad a pagar um tributo aos sucessores de Constantino, Zimiscés avançou para a Síria, apoderou-se de Damasco e atravessando o Líbano, submeteu todas as cidades da Judéia. Numa carta que esse príncipe escreveu então ao Rei da Armênia, ele lastima que os eventos da guerra não lhe tenham permitido ver a cidade santa, que tinha sido libertada da presença dos infiéis e à qual ele havia mandado uma guarnição cristã.
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