21 de março de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 13

A aflição dos cristãos de Jerusalém foi de repente aliviada pela morte do califa Hakem, seu opressor: "O mau califa Hakem, diz Guilherme de Tiro, saiu deste mundo. Daher, que o substituiu permitiu aos fiéis reconstruir a Igreja do Santo Sepulcro. O Imperador de Constantinopla, cuja caridade os fiéis haviam implorado, deu, de seu próprio tesouro, a soma necessária para essa restauração.

Trinta e sete anos depois que o templo da ressurreição fora destruído, ele se reergueu de repente: imagem mesma de Jesus Cristo, que, vencedor da morte, saiu glorioso, da noite do túmulo".

Vimos pelo exemplo do senhor de Frotmond e de Cêncio, que a peregrinação a Jerusalém era as vezes imposta como penitência canônica: no século XI esses exemplos eram frequentes. A viagem aos santos lugares era particularmente ordenada como expiação aos que se haviam manchado no sangue de seus irmãos, aos que haviam desviado as riquezas da igreja e aos infratores da trégua de Deus. Os grandes pecadores eram condenados a deixar por algum tempo sua pátria e a levar uma vida errante, como Caim. Essa maneira de fazer penitência estava mais de acordo com o caráter ativo e inquieto dos povos do Ocidente; devemos acrescentar que a devoção das peregrinações foi recebida e mesmo encorajada em todas as religiões antigas e modernas, tanto ela se aproxima dos sentimentos mais naturais do homem. Se a vista de uma terra que foi habitada por heróis e sábios, quando mesmo sua história não se liga a nenhuma das nossas crenças, basta para despertar em nós nobres e comoventes recordações; se a alma do filósofo se comove à vista das ruínas profanas de Palmira, de Mênfis ou de Atenas, que profundas emoções não deviam sentir os cristãos nos mesmos lugares santificados pela presença de seu Deus e que oferecia aos seus olhos como à sua imaginação o berço daquela fé viva de que estavam animados! Não podemos pensar, além disso, que essas peregrinações longínquas, estavam nas vistas gerais da providência que quer todos os povos afastados se aproximem uns dos outros e se comuniquem
entre si para se civilizarem?

Os cristãos do Ocidente, quase todos infelizes, em sua pátria, e que muitas vezes esqueciam seus males nas viagens longínquas, pareciam só estar ocupados em procurar sobre a terra as pegadas de uma divindade compassiva ou de algum santo personagen. Não havia província que não tivesse um mártir ou um apóstolo, de que iam implorar o auxílio; nenhuma cidade ou lugar solitário que não conservasse a tradição de um milagre e não tivesse uma capela aberta aos peregrinos. Os mais culpados dos pecadores ou os mais fervorosos dos fiéis se expunham aos mais graves perigos e se dirigiam aos lugares mais afastados. Ora eles dirigiam sua piedosa excursão à Apuglia ou à Calábria: visitam o monte Gargano, célebre pela aparição de S. Miguel, ou o monte Cassino, famoso pelos milagres de S. Bento; ora atravessavam os Pireneus e num país entregue aos sarracenos, iam rezar diante das relíquias de São Tiago, patrono da Galícia. Uns, como o Rei Roberto, iam a Roma, e prostravam-se diante do túmulo dos apóstolos São Pedro e São Paulo; outros iam até o Egito, onde Jesus Cristo tinha passado sua infância e percorriam as solidões de Tebas e de Mênfis, habitadas pelos discípulos de Paulo e de Antônio.

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