26 de março de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 17

 

Foulque assaltado pelos fantasmas de suas vítimas.

Sabemos que os, muçulmanos levavam muito mais além que os cristãos a devoção pela peregrinação. Essa disposição inspirou-lhes sentimentos de tolerância para com os piedosos viajantes vindos do Ocidente. Muitas vezes as portas de Jerusalém abriram-se ora para os discípulos do Corão que iam visitar a mesquita de Omar, ora para os do evangelho, que iam adorar Jesus Cristo no seu sepulcro; uns e outros encontravam na Cidade Santa igual proteção, quando a paz reinava no Oriente e as revoluções dos impérios ou os fatos da guerra não vinham despertar as desconfianças dos senhores da Síria e da Palestina. Todos os anos, na época da festa da Páscoa, multidões enormes de peregrinos chegavam à Judéia, para celebrar o mistério da redenção e para assistir, ao milagre do fogo sagrado, que a multidão dos fiéis julgava ver descer do céu sobre as lâmpadas do Santo Sepulcro.

Entre os peregrinos célebres do século XI, está, por primeiro o Conde de Anjou, Foulque, chamado Nerra, ou o Negro. A história o acusa de ter feito morrer sua primeira esposa e de se ter várias vezes manchado em sangue inocente. Perseguido pelo ódio público e pelo clamor de sua própria consciência, parecia-lhe que as inúmeras vítimas imoladas por sua vingança ou ambição saíam de seus túmulos para perturbar-lhe o sono e recriminar-lhe a barbárie. Afim de escapar a essas cruéis imagens, que o seguiam
em toda a parte, Foulque deixou seus territórios e dirigiu-se em vestes de peregrino à Palestina. As tempestades que suportou nos mares da Síria lembraram-lhe as ameaças da cólera divina e duplicaram o fervor de seus sentimentos piedosos. Quando ele chegou a Jerusalém, percorreu as ruas da Cidade Santa, com uma corda ao pescoço, açoitado com varas por seus servidores e repetindo em altas vozes estas palavras: "Senhor! Tem piedade de um cristão infiel e perjuro, de um peocdor errante longe de seu
país. Durante a sua permanência na Palestina, distribuiu numerosas esmolas, aliviou a miséria dos peregrinos e deixou por toda a parte lembrança de sua devoção e de sua caridade.

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