A maior graça, para os peregrinos, a que eles pediam ao céu como recompensa dos sofrimentos de uma longa viagem, era morrer na cidade em que Jesus tinha morrido. Quando se apresentavam diante do sepulcro do filho de Deus, costumavam fazer ao Senhor esta oração: "Vós, que morrestes por nós e que fostes sepultado neste santo lugar, tende piedade de nossa miséria e levai-nos hoje deste vale de lágrimas.
As velhas crônicas falam de um cristão do país de Autun; de nome Lethbald, que, chegando a Jerusalém, procurou a morte com o excesso de jejum e de mortificações. Um dia ele ficou por muito tempo em oração no monte das Oliveiras, com os olhos e os braços erguidos para o céu, para onde Deus parecia chamá-lo. Quando ele voltou à hospedaria dos peregrinos, exclamou três vezes: Glória a ti, Senhor! e morreu de repente, na presença dos companheiros, que não podiam deixar de admirar o milagre da sua morte.
O desejo de se santificar por meio da viagem à Jerusalém tornou-se por fim tão geral, que as multidões de peregrinos alarmavam com seu número as regiões por onde passavam. Embora eles não procurassem absolutamente as lutas e combates, já eram designados com o apelido de exército do Senhor e vários monumentos históricos nos dizem que os cristãos traziam frequentemente, em suas peregrinações a Jerusalém, uma imagem da cruz como mais tarde se fazia nas guerras empreendidas para a libertação do Santo Sepulcro. No ano de 1.054, Lietbert, Bispo de Cambrai, partiu para a terra santa, com mais de três mil peregrinos das províncias da Picardia e da Flandres. Quando ele se pôs em marcha, o povo e o clero acompanharam-no a três léguas da cidade, e, com os olhos marejados de lágrimas, pediram a Deus
a volta de seu Bispo e de seus irmãos. Os peregrinos atravessaram a Alemanha sem encontrar inimigos;
mas, na Bulgária, só encontraram homens selvagens, que moravam nas florestas e viviam de roubos e assaltos. Muitos foram massacrados por esse povo bárbaro; alguns morreram de fome nos desertos. Lietbert com dificuldade chegou até a Laodicéia, na Síria, e embarcou com os que o seguiam, mas foi atirado às praias de Chipre por uma tempestade.
Ele viu perecer a maior parte de seus companheiros; os outros estavam prestes a sucumbir, ante a miséria. Voltaram a Laodicéia e souberam que os maiores perigos ainda os aguardavam na estrada de Jerusalém. O Bispo de Cambrai sentiu então que a coragem o abandonava e julgou que o mesmo Deus se punha à sua peregrinação. Voltou no meio de mil perigos à sua diocese onde construiu uma igreja em honra do Santo Sepulcro que ele não havia podido ver.
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