SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André
LIVRO TERCEIRO
O CAMPO DO MINISTÉRIO
CAPÍTULO VI
Ainda o Verdadeiro Estado das Almas
Na França, o ministério é exercido exclusivamente perante pessoas batizadas (assim se podia dizer em 1863, época em que estas palavras foram originalmente escritas), as quais poderiam então supor que deveriam ser consideradas como estando sub gratia ou ao menos sub lege. Tal suposição seria, porém, um grosseiro equívoco.
Pois existem muitíssimas almas que perderam a graça, que muitas vezes chegaram até a perder a fé. A estas seria prejudicial tratá-las como fiéis, procurando-se de imediato levá-las às práticas religiosas antes de fazer-se com que a fé nasça ou renasça nelas. Tal proceder poderia induzir a crer que a religião consiste puramente em regras e cerimônias; e, então, as faríamos cair em um estado pior que o anterior.
O Padre Faber dizia que os ingleses devem ser tratados com os mesmos cuidados que os Padres outrora empregavam para os pagãos. Entretanto, esses ingleses são batizados; e, embora protestantes, são muitas vezes mais religiosos do que os católicos franceses. Não teríamos dúvida em pedir para estes o que o Padre Faber pedia para seus compatriotas. Certamente lhes prestaríamos um grande serviço ensinando-lhes a fé, se a ensinarmos de tal modo que nunca sejam levados a crer que Deus se satisfaz com formalidades, e que a religião é apenas um conjunto de cerimônias.
O que está acima se aplica às almas desviadas.
Mas há outras. As que servem a Deus nem sempre dispõem dos socorros espirituais de que necessitam. Precisariam de luzes, precisariam ser ajudadas no discernimento de seus caminhos, nas operações de Deus nelas próprias; estas almas, porém, raramente encontram o que necessitam. Por falta de socorro, muitas almas, por exemplo, se afogam em escrúpulos, muitas perdem a coragem diante das dificuldades, muitas se estiolam por falta de instrução baseada na fé. Bem poderiam elas dizer, como o paralítico do Evangelho: Hominem non habes! (Não tenho quem me valha! — Jo 5,7).
Os padres facilmente imaginam que estão sempre suficientemente preparados para confessar os homens do campo. Enganam-se, porém; as almas dessa gente humilde se equivalem às almas dos que habitam nas cidades, e não são necessárias menos luzes e menos discernimento para ajudar uma alma de aldeão que a de um cidadão de grande metrópole. Uma alma é sempre uma alma em qualquer lugar que seja; as necessidades das almas são grandes em toda parte, e o Espírito Santo tanto opera nas maiores cidades quanto nos mais humildes rincões.
Muitas vezes, tivemos ocasião de constatar o abatimento de que padecem as almas carentes de auxílio, de luzes, de direção segura.
Há padres que julgam dar remédio a tudo isso assumindo sobre as almas um tom de autoridade: “Faça isto, eu ordeno; obedeça...”. Tais meios, porém, não constituem a luz, nem a produzem. A autocracia do sacerdote não tem cabimento quando o Espírito Santo quer ter a palavra.
Excetuado o caso, que é bastante raro, de escrúpulo proveniente de timidez, a autoridade não é um meio salutar de direção. Non dominamur fidei vestrae (Não somos donos de vossa fé — 2 Cor 1,24).
O verdadeiro meio consiste antes no cuidado de aclarar o caminho, de instruir solidamente a fé sobre as operações do Espírito de Deus, do espírito próprio e do espírito do maligno.
Pois existem muitíssimas almas que perderam a graça, que muitas vezes chegaram até a perder a fé. A estas seria prejudicial tratá-las como fiéis, procurando-se de imediato levá-las às práticas religiosas antes de fazer-se com que a fé nasça ou renasça nelas. Tal proceder poderia induzir a crer que a religião consiste puramente em regras e cerimônias; e, então, as faríamos cair em um estado pior que o anterior.
O Padre Faber dizia que os ingleses devem ser tratados com os mesmos cuidados que os Padres outrora empregavam para os pagãos. Entretanto, esses ingleses são batizados; e, embora protestantes, são muitas vezes mais religiosos do que os católicos franceses. Não teríamos dúvida em pedir para estes o que o Padre Faber pedia para seus compatriotas. Certamente lhes prestaríamos um grande serviço ensinando-lhes a fé, se a ensinarmos de tal modo que nunca sejam levados a crer que Deus se satisfaz com formalidades, e que a religião é apenas um conjunto de cerimônias.
O que está acima se aplica às almas desviadas.
Mas há outras. As que servem a Deus nem sempre dispõem dos socorros espirituais de que necessitam. Precisariam de luzes, precisariam ser ajudadas no discernimento de seus caminhos, nas operações de Deus nelas próprias; estas almas, porém, raramente encontram o que necessitam. Por falta de socorro, muitas almas, por exemplo, se afogam em escrúpulos, muitas perdem a coragem diante das dificuldades, muitas se estiolam por falta de instrução baseada na fé. Bem poderiam elas dizer, como o paralítico do Evangelho: Hominem non habes! (Não tenho quem me valha! — Jo 5,7).
Os padres facilmente imaginam que estão sempre suficientemente preparados para confessar os homens do campo. Enganam-se, porém; as almas dessa gente humilde se equivalem às almas dos que habitam nas cidades, e não são necessárias menos luzes e menos discernimento para ajudar uma alma de aldeão que a de um cidadão de grande metrópole. Uma alma é sempre uma alma em qualquer lugar que seja; as necessidades das almas são grandes em toda parte, e o Espírito Santo tanto opera nas maiores cidades quanto nos mais humildes rincões.
Muitas vezes, tivemos ocasião de constatar o abatimento de que padecem as almas carentes de auxílio, de luzes, de direção segura.
Há padres que julgam dar remédio a tudo isso assumindo sobre as almas um tom de autoridade: “Faça isto, eu ordeno; obedeça...”. Tais meios, porém, não constituem a luz, nem a produzem. A autocracia do sacerdote não tem cabimento quando o Espírito Santo quer ter a palavra.
Excetuado o caso, que é bastante raro, de escrúpulo proveniente de timidez, a autoridade não é um meio salutar de direção. Non dominamur fidei vestrae (Não somos donos de vossa fé — 2 Cor 1,24).
O verdadeiro meio consiste antes no cuidado de aclarar o caminho, de instruir solidamente a fé sobre as operações do Espírito de Deus, do espírito próprio e do espírito do maligno.
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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.
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