6 de janeiro de 2011

Sacerdote Eternamente - Parte 23

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO TERCEIRO
O CAMPO DO MINISTÉRIO

CAPÍTULO VII
Adoração em Espírito e em Verdade

Como já dissemos, há um imenso perigo em fazer-se consistir a religião em apenas observâncias e atos exteriores. Se a isso se reduzisse, a religião dos cristãos pouco se diferenciaria do antigo paganismo, pois seria então mero exercício corporal em vez de empenho da alma.

Nosso Senhor, tendo ensinado aos homens que Deus é espírito, quer que Ele seja adorado pelo espírito ou em espírito, e chama isso de adorar Deus em verdade.

Portanto, se o culto que prestamos a Deus não lhe for prestado em espírito ou pelo espírito, também não lhe será prestado em verdade.

Considerado desse ponto de vista, o mal atual é muito grande; e entre os cristãos de hoje é o fruto lastimável de uma funesta ignorância.

Os cristãos já não conhecem mais, ou ao menos suficientemente, três coisas que constituem o culto de Deus pelo espírito, a saber:

a fé,
a graça de Deus, e
o grande mandamento.

Embora conhecendo o objeto da fé, não sabem o que é a fé. Ainda lhes resta algum conhecimento a respeito das verdades da fé, mas não têm noção do que seja o próprio dom da fé: dom gratuito de Deus pelo qual nosso espírito adere à verdade revelada por Deus e é então posto no caminho da vida sobrenatural. Há muitíssimo que fazer para restabelecer a fé, a fé completa, entre os cristãos de nosso tempo.

Eles também não conhecem o que é a graça de Deus. Essa é para eles uma palavra muito vaga sem significação precisa, sem sentido determinado. Têm necessidade de serem instruídos sobre a natureza da graça e sobre sua gratuidade (freqüentemente imaginam que Deus seria injusto se não a distribuísse indiscriminadamente a todos). Aliás, tem-se que reconhecer que grandes doutores em Israel tinham necessidade, também eles, de aprender o que é a graça de Deus. E se com os mestres é assim, o que será então com os discípulos?

Os cristãos da época atual têm ainda a premente necessidade de serem instruídos sobre o grande mandamento de amar a Deus. Há hoje a tendência de substituir-se a fé pelo sentimento religioso (muitas vezes nossos doutores, quando deveriam mencionar a palavra fé, dizem ou escrevem “sentimento religioso”), embora haja entre esse e aquela uma distância incomensurável, pois o sentimento religioso é uma disposição natural enquanto que a fé é um dom sobrenatural. Equívoco não menor cometem os que crêem ter encontrado um meio de praticar o amor de Deus no exercício de uma certa sensibilidade ou pieguice devota, que nos faria acreditar que verdadeiramente ainda temos alguma coisa para o “bom Deus”. Há, porém, uma grande distância entre tal disposição e o amor de Deus como Deus o entende: amor que faz com que todos os nossos afetos se desliguem das coisas do mundo para se dedicarem integralmente a Deus, amor que liberta a alma das três concupiscências, amor que governa inteiramente a vida e a ordena integralmente segundo o propósito único de agradar a Deus.

Ó! Como há tanto que fazer para ensinar aos cristãos a fé, a graça e o amor de Deus!

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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.

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