22 de maio de 2010

Domingo de Pentecostes: Nele faremos morada.

Homilia de São Gregório Papa
Homilia 30 sobre os Evangelhos

Convém, caríssimos irmãos, tratar com brevidade das palavras da leitura evangélica, para que, depois, possamos permanecer mais tempo na contemplação de tamanha solenidade. Eis que hoje o Espírito Santo vem sobre os discípulos com um estrondo repentino, mudando as suas idéias das coisas carnais para o seu amor, e, por fora aparentando como línguas de fogo, por dentro se fizeram labaredas no coração, porque, enquanto recebiam Deus na visão de fogo, ardiam suavemente por amor. Este Espírito Santo, pois, é o amor: por isso mesmo diz João: "Deus é amor". Portanto, aquele que deseja a Deus com reta intenção, já possui Aquele Que ama, visto que ninguém poderia amar a Deus se não tivesse Aquele Que ama.

Mas vede: se qualquer um de vós for perguntado se ama a Deus, com toda confiança e segurança responda: Amo. No começo dessa leitura ouvistes o que a Verdade diz: Se alguém Me ama, guardará Minha palavra. A prova do amor, portanto, é a manifestação das obras. Sobre isso, em sua epístola, o mesmo João diz: Quem diz "Amo a Deus" e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso. Verdadeiramente amamos a Deus e guardamos os Seus mandamentos se refreamos os nossos apetites. Quem se dissipa pelos desejos ilícitos, por isso mesmo não ama a Deus: porque Lhe diz "Não" com a sua vontade.

"E o Meu Pai o amará, e a ele viremos, e nele faremos morada." Pensai, irmãos caríssimos, quão grande seja esta dignidade: ter à habitação do coração a vinda de Deus. Certamente que se em nossa casa fosse entrar um amigo rico e poderoso, toda a casa seria depressa limpa, para que não ocorresse que houvesse algo que ofendesse os olhos do amigo que entra. Lave, pois, as sujeiras das obras más, aquele que prepara a casa da alma para Deus. Mas vede o que diz a Verdade: Venhamos, e façamos nele morada. Porém, com alguns, vem-lhes ao coração, mas não faz aí morada, porque, ainda que, pela compunção, recebem a atenção de Deus, no tempo da tentação esquecem-se daquilo mesmo de que se tinham arrependido, e voltam a fazer os pecados como se nunca se houvessem arrependido.

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