8 de agosto de 2016

Sermão para o 10º Domingo depois de Pentecostes – Pe Daniel P Pinheiro

[Sermão] A oração orgulhosa, oração humilde e o orgulho de uma sociedade


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Consideremos, caros católicos, a parábola de hoje. Nosso Senhor diz que dois homens subiram ao templo para rezar, um fariseu e um publicano. Subiram ao templo fisicamente, pois o templo se encontrava sobre um monte, chamado Moria, mas a subida significa também que a oração é a elevação da alma a Deus.
Todavia, bem diferente foi a oração de cada um desses dois homens. Vejamos o que podemos aprender com cada um deles. Primeiro, com o fariseu, para repetir o que ele fez bem e para evitar o que ele fez mal. O fariseu se dirige ao templo para rezar, o que é uma coisa boa. O templo é o lugar de oração por excelência. Devemos nós rezar na Igreja na medida do possível. Ele enumera boas obras, que devemos procurar também fazer: ele não é ladrão, não é injusto nem adúltero. Devemos nós ser justos e praticar a castidade segundo o nosso estado. Ele jejuava e pagava o dízimo. Devemos nós fazer mortificações e ajudar no sustento da Igreja e de seus ministros.
A oração do fariseu, porém, foi desagradável a Deus por dois motivos: orgulho e desprezo do próximo. Com a boca somente, o fariseu agradece a Deus pelas suas boas obras, pois fica claro que ele atribui as suas boas obras a ele mesmo e não a Deus. Ele se considera perfeito e não um pecador. O fariseu não pede nada a Deus, dando a entender que não precisa de nada de Deus, pois já tem todas as virtudes e perfeições adquiridas pelos seus próprios esforços. Ele não pede perdão pelos seus pecados, pois julga não possuí-los. Ele não pede perdão pelos pecados de que talvez não se lembre ou que foram cometidos sem que ele notasse. Ele basta a si mesmo e é ele – não Deus – a causa de suas boas obras. O fariseu faz uma oração orgulhosa, exaltando de modo desordenado a própria excelência, não reconhecendo que tudo o que fazemos de bem nos vem de Deus.
A oração do fariseu não foi uma oração humilde. A humildade é verdade e justiça. A humildade é verdade, quer dizer, é reconhecer nossas qualidades e defeitos, nossas virtudes e vícios. E a humildade é justiça (atribuir a cada um o que lhe é devido), quer dizer, atribuir a Deus as nossas qualidades e virtudes e atribuir somente a nós nossos defeitos e vícios. São Paulo, por exemplo, enumera várias de suas obras, mas não se vangloria nem se exalta, pois reconhece com profunda humildade que tudo isso se faz pela graça de Deus, reconhece que tudo de bom que ele tem lhe foi dado por Deus. Como estamos distantes da santidade de São Paulo, não convém muito enumerarmos nossas eventuais boas obras, pois dificilmente estaremos isentos de orgulho. O fariseu em sua oração não é humilde. Ele falta com a humildade porque não reconhece toda a verdade ao não reconhecer seus defeitos e pecados, mas apenas as suas boas obras. E ele falta com a humildade também porque não atribui realmente a Deus as boas obras, mas somente com a boca.
Do orgulho, o fariseu passa ao desprezo do próximo e ao juízo temerário com relação ao próximo. Ao nos exaltarmos indevidamente, é quase natural que passemos a desprezar os outros, pois ficamos cegos para os nossos defeitos, mas tendemos a ver facilmente os defeitos dos outros e a exagerá-los. Tendo se exaltado de modo tão desordenado e esquecido de Deus, saiu de lá o fariseu humilhado, isto é, sem a graça divina.
Devemos tirar de sua oração orgulhosa uma importante lição para a vida espiritual: quando fazemos boas obras, quando começamos a avançar no caminho da virtude, o demônio tentará nos fazer cair pelo orgulho, fazendo que nos exaltemos e que esqueçamos que a causa de tudo é Deus. Ao contrário, devemos sempre manter a humildade, reconhecendo que somos pobres pecadores e que, se fazemos algum bem, por menor que seja, é pela graça de Deus.
Nossa oração, ao contrário da oração do fariseu, deve ser humilde, o que nos leva à oração do publicano. O publicano não se atreve a se aproximar do altar. Aqui, devemos considerar não tanto o aspecto físico, mas o que significa isso espiritualmente. Essa distância significa que, se reconhecendo pecador, ele estima ser indigno de se aproximar de Deus, que é a própria santidade, como os leprosos que não ousavam se aproximar de Cristo e que de longe imploravam a sua misericórdia. Segundo, para significar que, por seus pecados, ele se afastou de Deus, como o filho pródigo que deixou a terra do pai e foi para uma terra longínqua. De fato, pelos nossos pecados, nos tornamos indignos de nos aproximar de Deus e nos afastamos dEle.
Em seguida, nos é dito que o publicano não levantava os olhos. Aqui também devemos considerar mais o significado espiritual do que o aspecto físico. Não ousava levantar os olhos por vergonha de ter pecado contra Deus, de ter ofendido a Deus, que é o sumo bem e infinitamente amável. Não levantava os olhos para significar que, com o pecado mortal, não poderemos chegar ao céu e ver Deus face a face.
E o publicano batia no peito, para significar o seu coração despedaçado pela ofensa cometida a Deus, para significar o arrependimento pelos seus pecados. O publicano sabe que Deus é misericordioso e que está pronto para perdoar, se estamos verdadeiramente arrependidos, isto é, se reconhecemos o mal que fizemos, se detestamos esse mal e se nos determinamos a não mais pecar.
A oração humilde do publicano agradou a Deus. Ele reconheceu seus pecados, reconheceu que a culpa era sua e, com verdadeiro arrependimento e grande confiança, pediu a Deus misericórdia. Tendo se humilhado ao reconhecer seus pecados e ao implorar a divina justiça, saiu de lá o publicano, exaltado, isto é, com a graça de Deus. É o que devemos fazer.
O orgulho, caros católicos, pode ser também coletivo, pode ser um orgulho da sociedade. Infelizmente, vivemos hoje em uma sociedade orgulhosa que se baseia no non serviam, no não servirei do demônio. Uma sociedade esquecida dos direitos invioláveis de Deus sobre a humanidade e sobre todas as coisas, uma sociedade que não cumpre os seus deveres para com Deus, mas que, ao contrário, se baseia na autonomia total com relação a Deus e à sua Igreja. E mais do que em uma autonomia, a sociedade moderna se baseia em uma revolta contra Deus e favorece essa revolta contra Deus nos indivíduos. Quantos, por um orgulho que os cega, terminam abandonando a Igreja ou terminam não praticando a religião católica. O orgulho pode ser não somente individual, mas também da sociedade. Vivemos em uma sociedade orgulhosa incapaz de reconhecer que seus problemas são causados por ela mesma e por seu abandono a Deus e incapaz de reconhecer que todo o bem tem Deus como fonte.
Quando os judeus, por orgulho, se tornavam infiéis a Deus, abandonando-o e confiando em falsos deuses, Deus os castigava, humilhando-os, de algum modo, muitas vezes entregando-os nas mãos de seus inimigos. Hoje, com a revolta da sociedade moderna, Deus usa basicamente dois castigos, para humilhá-la. O primeiro desses castigos é o islã, sempre considerado, ao longo da história, um flagelo na mão de Deus. Apenas o catolicismo foi capaz, ao longo da história de deter o islamismo. Em 732, com Carlos Martel, em Poitiers, praticamente no coração da França. Em 1456 com São João Capistrano, Franciscano, na Hungria. Em 1571 com os exércitos católicos reunidos por São Pio V, na batalha naval de Lepanto. Em 1601, com São Lourenço de Brindisi, capuchinho, também na Hungria. Em 1683, com Sobieski, rei da Polônia, em Viena. Em 722 com Don Pelayo, em Covadonga no norte da Espanha, marcando o início da reconquista da Espanha pelos católicos que se concluiu em 1492 com os chamados Reis Católicos, Isabel e Fenando. São alguns exemplos de como o catolicismo sempre resistiu frontalmente ao islã. O primeiro desses castigos é, então, o islã. O segundo castigo é o abandono dos homens à sua própria cegueira, ao seu próprio orgulho e às suas próprias paixões. Esse segundo castigo é, sem dúvida, o pior. Peçamos a Deus misericórdia, como faz o publicano, misericórdia para nós e para a sociedade.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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