10 de novembro de 2019

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard

Parte 2/3

Ordinariamente uma oração curta, mas fervorosa, contribui muito mais para apressar uma conversão do que longas discussões e excelentes discursos. Aquele que ora, trata com a Causa Primeira. Opera diretamente sobre ela. Tem, desta sorte, em mãos todas as causas segundas, visto como estas somente desse princípio superior recebem sua eficácia.  Por isso o efeito desejado é então obtido com maior segurança e rapidez.
Dez mil hereges, no dizer de uma revelação respeitável, foram convertidos por uma só oração inflamada da seráfica Santa Teresa, cuja alma ardendo em amor de Cristo não podia compreender uma vida contemplativa, uma vida interior que se desinteressasse das solicitudes apaixonadas do Salvador pela redenção das almas. "Aceitaria o purgatório, diz ela, até ao juízo final, para livrar uma só dessas almas. E que me importaria a duração dos meus sofrimentos, se assim pudesse livrar uma só alma e sobretudo muitas para maior glória de Deus"! E, dirigindo-se às suas religiosas: "Dirigi para este fim inteiramente apostólico, minhas filhas, vossas orações, vossas disciplinas, vossos jejuns, vossos desejos".
Tal é, com efeito, a obra das Carmelitas, das Trapistas, das Clarissas. Vede-as seguir a marcha dos apóstolos, alimentá-los com a super abundância de suas orações e de suas penitências. Suas súplicas precipitam-se do alto, num espaço tão dilatado como a marcha da cruz e o brilho do Evangelho, sobre as almas, essas presas divinas! Ou antes, é seu amor oculto, mas ativo, que excita por toda parte, no mundo dos pecadores, as vozes de misericórdia.
Ninguém conhece neste mundo o porque dessas conversões longínquas de pagãos, da paciência heroica desses cristãos perseguidos, da alegria celeste desses missionários martirizados. Tudo isso esta invisivelmente ligado à oração de alguma humilde freira. Com os dedos sobre o teclado dos perdões divinos e das luzes eternas, sua alma silenciosa e solitária preside à salvação das almas e às conquistas da Igreja.
"Quero Trapistas neste vicariato apostólico, dizia Monsenhor Favier, bispo de Pequim. Desejo até que eles se abstenham de qualquer ministério exterior, a fim de que nada os distraia do trabalho, da oração, da penitência e dos santos estudos. Porque sei quão grande será o auxílio prestado aos missionários pela existência de um fervoroso mosteiro de contemplativos no meio dos nossos pobres chineses". E mais tarde: " Conseguimos, enfim, penetrar numa região até hoje inacessível. Atribuo este fato aos nossos queridos Trapistas".
"Dez Carmelitas orando, dizia um bispo de Cochinchina ao governador de Saigão,  auxiliar-me-ão muito mais do que vinte missionários pregando".
Padres seculares, religiosos e religiosas votados assim à vida ativa como à vida interior, participam do mesmo poder sobre o coração de Deus que as almas do claustro. Um padre Chevrier, um São João Bosco, um padre Antônio Maria, são frisantes exemplos. A bem aventurada Ana Maria Taigi, nas suas funções de pobre dona de casa, era tão apóstolo como São Bento José Labre fugindo dos caminhos frequentados. O santo homem de Tours, o senhor Dupont, o coronel Paqueron, etc, abrasados no mesmo ardor, eram poderosos nas suas obras, porque eram homens de vida interior. E o general de Sonis, entre duas batalhas, encontrava na união com Deus o segredo de seu apostolado.
Egoísta e estéril a vida de um Cura D'Ars! O silêncio era a única coisa que mereceria tal afirmação. Todo espirito criterioso atribui precisamente à perfeição da sua intimidade com Deus, o zelo e os êxitos desse padre desprovido de talentos, mas que, tão contemplativo como um Cartuxo, sentia sede de almas que tinham tornado inextinguível seus progressos na vida interior, e recebida de Nosso Senhor, que era sua vida, uma como participação do poder divino para operar conversões.

Infecunda, a sua vida íntima! Mas suponhamos um Santo Vianney em cada diocese de um país; antes de dez anos, este país ficaria regenerado e bem mais profundamente do que por multidões de obras insuficientemente edificadas sobre a vida interior e para cuja organização concorressem, além de grandes recursos pecuniários, o talento e a atividade de milhares de apóstolos.

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