28 de novembro de 2019

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard

UNIÃO DA VIDA ATIVA E DA VIDA INTERIOR

Prioridade aos olhos de Deus da vida interior sobre a vida ativa

Parte 1/2

Em Deus esta a vida, toda a vida, ele é a própria vida. Ora, não é nas suas obras exteriores, por exemplo, na criação, que o Ser infinito manifesta essa vida da maneira mais intensa, mas no que a teologia chama operações adintra, nessa atividade inefável cujo termo é a geração perpétua do Filho e a incessante processão do Espirito Santo. Essa é, por excelência, a sua obra essencial, eterna.
Consideremos a vida mortal de Nosso Senhor, realização perfeita do plano divino. Trinta anos de recolhimento e de solidão, depois quarenta dias de retiro e de penitência preludiam a sua curta carreira evangélica; e, durante as suas excursões apostólicas, quantas vezes ainda o vemos retirar-se às montanhas ou aos desertos, a fim de orar: Secedebat in desertum et orabat, ou passar a noite em oração: Pernoctans in oratione Dei. Rasgo ainda mais significativo: Marta deseja que o Senhor, condenando a suposta ociosidade da irmã, proclame a superioridade da vida ativa; a resposta de Jesus: Maria óptimam partem elegit, consagra a proeminência da vida interior. Que concluir daqui senão o desígnio bem patente de nos fazer sentir a preponderância da vida de oração sobre a vida ativa?
Depois do Mestre, os apóstolos, fiéis aos seus exemplos, reservaram antes de mais nada para si o ofício da oração, pois, para se consagrarem ao ministério da palavra, deixaram as ocupações mais exteriores aos diáconos: Nos vero orationi et ministério verbi instantes erimus.
Os papas, por sua vez, os Santos Doutores, os teólogos afirmam que a vida interior em si é superior à vida ativa.
Há alguns anos, uma mulher de fé, de virtude e de grande caráter, superiora geral de uma das mais importantes congregações ensinantes do Aveyron, fora convidada por seus superiores eclesiásticos a favorecer a secularização de suas religiosas.
Deveria acaso sacrificar as obras à vida religiosa ou abandonar esta para conservar aquelas? Perplexa, não sabendo como conhecer a vontade de Deus, parte secretamente para Roma, obtém uma audiência de Leão XIII, expõe-lhe suas dúvidas e a pressão exercida sobre ela a favor das obras.
O augusto ancião, após alguns instantes de recolhimento concentrado, deu-lhe esta resposta categórica: "Antes de tudo, de preferência a todas as obras, conserve na vida religiosa suas filhas que realmente tiverem o espírito do seu santo estado e o amor à vida de oração. E, caso lhe seja impossível conservá-las nesse espírito e nessa vida, continuando as obras, Deus saberá, sendo necessário, suscitar em França  outras operárias. Quanto as religiosas, pela sua vida interior, sobretudo pelas suas orações, pelos seus sacrifícios, elas certamente serão mais úteis à França, ficando verdadeiramente religiosas, embora longe dela, que continuando a viver no solo da pátria, privadas dos tesouros de sua consagração a Deus."

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