27 de maio de 2015

Comungai Bem. Padre Luiz Chiavarino.

NEM TOLERÂNCIA EXCESSIVA NEM EXIGÊNCIA DEMASIADA

D. — Muito obrigado, Padre. Agora acho-me suficientemente instruído no que se refere às três condições para bem comungar.
Todavia, ainda tenho algumas dúvidas.
M. — Exponha-as. Estou pronto para resolvê-las.
D. — Ao ver, por exemplo, alguns que vão comungar diariamente distraídos ou às carreiras, dissipados, com pouca modéstia e muitas vezes pouco decentemente vestidos, e às vezes até homens de proceder irregular, chego a dizer comigo mesmo: Não seria melhor que não comungassem? Faço mal, pensando assim, Padre?
M. — Sim, meu filho, faz mal pensando assim dos outros. Na maioria das vezes tais indivíduos têm defeitos é verdade, todavia, não cometem faltas graves e por isso podem
comungar não só de quando em quando, mas sim até diariamente, pois o único proibitivo da comunhão é o pecado mortal.
D. — Portanto não devemos ser demasiado exigentes?
M. — Nunca. Nem mais exigentes do que a Igreja, nem mais papistas que o Papa, diz o rifão popular. A exigência excessiva pode afastar muitas almas da mesa da comunhão e, por conseguinte, ocasionar o decréscimo da graça santificante em muitas almas, predispondo-as mais facilmente para o pecado mortal. Jesus Cristo disse claramente: “Os sãos não precisam de médicos, mas sim os que estão doentes”.
Portanto, aplique essas palavras ao seu caso e verá que aqueles indivíduos têm o direito de comungar, pois que estão doentes e precisam que Jesus os cure.
D. — São doentes crônicos, não é padre?
M. — Isso mesmo. Por acaso os médicos desprezam os doentes crônicos ou cuidam menos deles do que dos outros?
D. — Absolutamente não; dá-se bem o contrário. A eles dispensa maiores cuidados e mais remédios.
M. — Pois bem, com as doenças da alma se deve agir igualmente.
D. — Às vezes, entretanto, existem pessoas que abusam e se aproximam da mesa sagrada com modos tão estudados, maneiras tão estranhas, vestidos tão raros que...
M. — Nesses casos convém e até é obrigatório — sem dizer nada e nem deixar que os outros o notem — passar de largo sem dar-lhes a comunhão.
D. — Que está dizendo, Padre? E eles não se queixarão?
M. — Por qual motivo? Acaso, o Padre não é o ministro e o guarda dos sacramentos? Se ele tolerar e consentir ou até fomentar tais abusos, não será responsável diante de Deus, diante da Igreja e diante dos seus superiores?
D. — Então, também aqui, pés de chumbo mãos de ferro?
M. — Perfeitamente. Pés de chumbo, prudência e serenidade na medida do possível; mas também mãos de ferro no cumprimento do dever e na repressão dos abusos.
A tolerância excessiva arruína tudo e ocasiona verdadeiros abusos e escândalos deploráveis.
D. — No entanto, será melhor prevenir e avisar antes, não é Padre?
M. — É claro. Se for possível é muito melhor antes chamar a atenção dessas pessoas. Mas se os avisos e as advertências forem inúteis então aplicar o corretivo imediatamente sem nenhuma consideração pessoal ou preferência de classe. Do contrário o remédio seria mais nocivo do que a doença.
D. — E no caso de que se apresentem para comungar, pessoas de costumes suspeitos ou proceder reprovável e até escandaloso? Que fazer?
M. — Então o caso já é difícil e delicado e não se deve deixar passar de qualquer forma. É preciso muitas vezes cortar o mal pela raiz. Jesus Cristo não teve nenhuma consideração para com aquele que não tinha o traje nupcial: expulsou-o imediatamente. O Corpo do Senhor não deve ser aos cães, diz Santo Tomás no hino que compôs para a festa de "Corpus Christi".
* * *
Narra a história, que Santo Ambrósio, arcebispo de Milão, um dia impediu o imperador Teodósio de entrar na Igreja devido a uma falta grave que havia cometido. O imperador, para desculpar-se disse a Santo Ambrósio: — Também o rei Davi foi adúltero e homicida.
— Está certo, respondeu Santo Ambrósio, já que imitaste Davi na culpa imita-o também na penitência: fora daqui.
Diante da firmeza e retidão do Santo, Teodósio retirou-se e cumpriu a penitência pública que lhe fora imposta. Só assim pôde entrar livremente na Igreja e participar da comunhão dos fiéis.
D. — Esses é que são homens de têmpera!
M. — Sim! Homens de têmpera e verdadeiros santos!
Quantos abusos a menos e, quanto melhor não seriam feitas as comunhões, se ainda hoje existissem outros Ambrósios capazes de resistir até diante de imperadores prepotentes, para impor respeito à tão grande sacramento!
D. — De fato, Padre. Por isso não é de estranhar certas palavras muitas vezes pronunciadas por ignorantes tais como estas: "Que coisa especial encerra a Comunhão quando tão facilmente a recebem pessoas que fariam melhor não comungando?" Outras chegam ao cúmulo de exclamar: "Os que comungam são piores que os outros".
M. — Tais expressões vulgares não merecem nenhuma consideração. Assim falam aqueles que veem uma palhinha no olho dos outros e não reparam na trave que têm no próprio, como disse Jesus no Evangelho. As pessoas sérias nem lhes prestam atenção.
E agora basta. Já falamos sobre a comunhão mal feita: Vamos falar um pouco sobre o que é preciso para fazer uma boa comunhão, a fim de que se possa aproveitar de todas as graças e tesouros extraordinários e admiráveis encerrados em tão grande Sacramento.
Jesus está presente nas milhões de hóstias consagradas em todo o mundo.

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