SERÁ NECESSÁRIO POR UM FREIO?
M. — Que está dizendo? Pôr freio quando apenas se começou a caminhar? Fazendo assim, voltaríamos ao impiedoso e cruel Jansenismo. E ainda mais, chegaria a tal ponto a indiferença religiosa que em breve, como sequela inevitável, seria deixado no esquecimento o augusto e prodigioso sacramento, único sustentáculo do mundo.
D. — Então nada de freios?
M. — Nada, nem sequer devemos pensar em diminuir minimamente a frequência à comunhão; o que é preciso é por freio ao pecado que é causa de tais abusos; acabar com as más companhias, os costumes depravados, as ocasiões perigosas, os caprichos e o egoísmo. E não pôr freio à comunhão cotidiana bem feita, meio seguro para chegarmos ao céu.
D. — E, diante de tão poucas comunhões bem feitas, em comparação com tantos e tantos sacrilégios, o senhor continua pensando o mesmo?
M. — Também neste ponto você está enganado.
É verdade que muitos comungam sacrilegamente, há, porém, um número muito maior de pessoas que comungam bem. Esse número supera imensamente aos sacrílegos, pois se assim não fosse de há muito o mundo já teria acabado.
* * *
Uma basílica de Roma ostenta em sua cúpula dois célebres quadros de Leonardo da Vinci representando o começo e o fim do mundo. O segundo quadro tem por fundo um altar suntuoso onde um padre celebra a última missa; ao redor um grande número de fiéis preparam-se devotamente para receber a Santa Comunhão, enquanto que ao alto se vê uma multidão de anjos que esperam o fim da missa para anunciar com suas trombetas de ouro o advento do dia terrível da Justiça Divina. Nesse quadro o autor quis demonstrar que ele estava convencido de que sem a Santa Missa e sem a Santa Comunhão o mundo já estaria submergido no abismo aberto pelos seus mesmos crimes.
Vê-se uma multidão de Anjos que esperam o fim da Missa para anunciar o advento do dia terrível da Justiça Divina.
D. — E com isso, Padre?
M. — Com isso, devemos concluir que é preciso fomentar cada vez mais a prática da Comunhão frequente bem feita, fazendo ao mesmo tempo guerra às comunhões sacrílegas.
D. — Será verdade que Deus aniquilará o mundo ou enviará tremendos castigos em vista de tantos sacrilégios?
M. — Não leu ou ouviu contar aquele episódio da Bíblia no qual se fala da oração do patriarca Abraão?
D. — Sim, já ouvi contar, todavia não o recordo bem. Queira contá-lo.
M. — Lê-se no Antigo Testamento que um dia Deus apareceu ao patriarca Abraão e lhe disse:
— Abraão, estou farto com os inumeráveis pecados cometidos pelo meu povo, e por isso vou exterminá-lo com uma chuva de fogo.
— Senhor, exclamou Abraão, será que não o perdoarias se entre eles houvesse cem justos?
— Sim, em vista dos cem justos haveria de perdoá-lo.
— E se ouve-se somente cinquenta?
— Assim mesmo haveria de perdoá-lo.
— E se houvesse vinte e cinco?
— Mesmo que fossem só vinte e cinco, não os exterminaria.
Abraão, confiado na misericórdia divina, continuou:
— Senhor, perdoarias a teu povo ainda que houvesse só dez justos?
Respondeu o Senhor: — Infinita é minha misericórdia. Em atenção a esses dez pouparia todo o meu povo.
Satisfeito, Abraão saiu à procura dos dez justos; não conseguiu, porém encontrá-los e Deus destruiu com uma chuva de fogo e enxofre as cidades de Sodoma e Gomorra.
D. — Como se mostrou bondoso Nosso Senhor!
M. — Deus é bom também agora. Ele não muda. É sempre o mesmo, e hoje como outrora sente delícias em perdoar os pecados dos homens. Embora os sacrílegos sejam como espinhos agudos a pungir-lhe as pupilas ou como espadas que lhe transpassam o coração, todavia Ele se cala e perdoa sempre, em vista do consolo e alegria que recebe dos que comungam bem. E, como as comunhões bem feitas superam em número as más, Ele permite estas últimas.
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