COM DEUS NÃO SE BRINCA
D. — Pelo que vejo, Padre, com Deus não se brinca.
M. — De fato. E se tivéssemos verdadeira fé quando vamos comungar, deveríamos prorromper nas mesmas exclamações diante de Jesus realmente presente na Santíssima Eucaristia; em vez quantos betsamitas existem ainda hoje que se dizem cristãos, e vão alegres e desejosos de ver e receber a Jesus Cristo, porém não fazem o que devem para honrá-Lo dignamente. Não conseguem ver as purulentas feridas da própria alma, por estarem atolados na matéria, no sensualismo, no egoísmo.
Não advertem que, cometendo sempre as mesmas faltas e permanecendo sempre nos mesmos defeitos sem vontade de se corrigir, aproximando-se temerariamente daquele insondável Mistério do qual a Arca era uma simples imagem, convertem o remédio em veneno, e vão buscar a morte na fonte da vida.
* * *
No segundo livro dos Reis encontramos o seguinte episódio: O rei Davi determinara transladar a Arca para a cidade onde ele residia em meio de grandes e jubilosos festejos do povo. Para isso colocaram-na em um carro de bois, ricamente adornado para tal fim. Sucedeu, porém, que os bois a certo ponto pararam e aos coices fizeram a Arca tombar de um lado. Ora, um levita, que ia ao lado do carro, levantou a mão para sustê-la. Imediatamente a ira divina fulminou-o e o levita caiu morto no mesmo lugar.
D. — Coitado! O que havia na Arca?
M. — Na Arca Santa, além das tábuas da Lei e a vara de Arão, se achava um vaso com Maná símbolo da Eucaristia. Isso serve para advertir-nos de que não devemos consentir que almas indignas recebam o adorável Sacramento da Eucaristia.
São Paulo recorda esta semelhança da Eucaristia com a Arca santa, quando diz que nos primeiros tempos da igreja eram castigados muitos cristãos com enfermidades e até com a morte por se haverem atrevido a comungar indignamente.
D. — Atualmente não temos exemplos de semelhantes castigos?
M. — Temos muitíssimos. Ouça o seguinte: Uma senhorita de dezesseis anos havia pasmado a noite dançando. Pela manhã seguinte foi atrevidamente comungar a fim de encobrir sua falta perante o vigário e suas colegas. Pobrezinha! Apenas voltara ao banco, sentiu um calafrio e um desarranjo interno seguidos de vômitos que a fizeram lançar fora a sagrada Partícula e tudo quanto havia ingerido e por fim até as próprias entranhas.
Na Arca Santa achava-se um vaso com Maná símbolo da Eucaristia
D. — Coisa horrível! Com Deus verdadeiramente não se brinca. Por isso procurarei de comungar sempre dignamente, com o maior respeito e reverência a tão grande Sacramento.
M. — Muito bem! Esse é o propósito que todos deveriam fazer. Comungar sempre com as devidas disposições possíveis, com os melhores sentimentos de piedade e devoção de que é capaz.
D. — E que hão de fazer os que mesmo querendo não conseguem ter essa piedade e devoção?
M. — Para muitos será suficiente a fé interna e os esforços que fazem para manter-se em graça; outros suprem essa falha com o cuidado em evitar as faltas veniais.
O que Jesus detesta são os desgraçados maliciosos, os indiferentes, tíbios e, sobretudo, aqueles que pretendem servir a dois senhores, ser cristãos ou o pagãos, crentes e liberais, bons e maus, castos e desonestos.
D. — Aqueles enfim, que cantam para espantar os próprios males, não é, Padre?
M. — Isso mesmo: Mas chegará o dia da Justiça Divina. Dia em que lhes será tolhida a venda dos olhos e aparecerão claros e diáfanos todos os sacrilégios cometidos. Que confusão e vergonha não experimentarão todos os que profanaram a Pessoa adorável de Jesus Cristo. Agora Jesus se oculta e permanece caladinho, mas naquele dia aparecerá em todo seu poder e majestade como um Juiz rigoroso.
D. — Basta, basta, Padre, já estou com medo...
M. — Oxalá! Ficassem com medo todos os indignos, os traidores, os miseráveis sacrílegos... Jesus na sua infinita bondade lhes conceda conhecimento, temor e conversão.
Naquele dia Jesus aparecerá como um Juiz rigoroso
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