FÉ E AMOR
D. — Diga-me, Padre; quais são as disposições necessárias para fazer bem e com fruto a Santa Comunhão?
M. — Antes de tudo: não devemos ir comungar como autômatos, isto é, com frieza, indiferença e apatia, mas sim com devoção e fervor, transbordantes de fé e de grande amor. Por acaso a Eucaristia não é o Misterium fidei, o mistério da fé por excelência? Sim, é o grande mistério da fé porque cremos que ali está Jesus Cristo com seu Corpo, Sangue, Alma eDivindade, embora nossos sentidos não vejam na hóstia branca e no cálice, mais do que pão e vinho, não percebam senão o gosto, o cheiro e o tato de pão e vinho.
Diante disso, se estamos convencidos de que quando vamos comungar, vamos receber o mesmo Jesus Cristo Deus e homem verdadeiro, quais não devem ser os sentimentos e os afetos que devem ornar nossa alma perante ato tão augusto? Que alegria não devemos experimentar? Que esperanças de consolo e de proteção? Qual não deve ser a exuberância de nossa vontade e a devoção em recebê-lo? Com que ardor não havemos de suspirar, invocar, suplicar e agradecer a Deus?
* * *
Lê-se na vida de São Filipe Neri, que ele demorava longo tempo na celebração da Santa Missa, principalmente na ação de graças após a comunhão. Muitas vezes, logo após a consagração, mandava embora o coroinha, com estas palavras: Podes ir embora. Voltarás somente daqui a uma ou duas horas quando te chamar. E durante esse tempo entrava em conversação íntima com Jesus realmente presente sobre o Altar. Conversava com Ele como se falasse com o seu amigo mais íntimo.
D. — Eu também já ouvi dizer que muitos santos durante a Missa, mormente na consagração tiveram a grande ventura de sentir e ver realmente a Jesus Cristo na hóstia consagrada.
Entre muitos, lembro-me do Bem-aventurado João de Ribeiro, Bem-aventurado Eymard, São José Cotolengo, São João Bosco, etc.
M. — Sem falar em Padres santos, é coisa certa que muitas outras pessoas como Santa Teresa, Santa Teresinha do Menino Jesus, Domingos Sávio e muitos outros, quedavam-se em êxtases logo após a comunhão, alheios a tudo, mergulhados completamente neste sono divino onde recebiam as carícias e os consolos do Divino Amigo.
D. — Ah! Se Deus me concedesse essa felicidade, ao menos uma vez!
M. — Sim. Ele pode conceder-lhe isso. Quem seria capaz de calcular o número de almas às quais Jesus se manifestou visivelmente na Eucaristia? Havendo fé e amor, não é impossível o milagre.
D. — Quanto à fé, penso que a tenho suficiente pois acredito firmemente em tudo; mas tenho ainda muito pouco amor, por isso peço que me diga algo sobre isso.
M. — Santo Tomás, o serafim de amor, diz que devemos ir comungar com o mesmo impulso com que a abelha se precipita sobre a flor para sugar-lhe o pólen que será convertido em doce mel; com a mesma ansiedade com que o febricitante bebe a água para acalmar a sede; com a mesma impetuosidade com que o nenezinho suga do seio materno o leite que será convertido em sua mesma substância. O amor é um fogo que tudo abrasa. Oh! Se amássemos realmente a Jesus, como arderíamos em desejos de recebê-lo frequentemente na comunhão. Enternecida em lágrimas, exclama Santa Tereza: "O amor não é amado".
D. — Oh! Padre que coisas lindas! Porém na prática, o que é preciso fazer para ter essa fé e esse amor?
M. — É só questão de costume que se consegue mediante o esforço contínuo sobre a vontade. Melhor ainda, devemos ser eternas criancinhas e considerar a Comunhão como o leite que nos deve dar a vida, o crescimento, a robustez, a perfeição, a santificação e por fim até a divinização de nossa alma. Ou em vez de criancinhas consideremo-nos como o mendigo que pede esmolas, como o enfermo que pede a saúde no médico, como o náufrago que implora auxílio e salvação.
Devemos ir comungar com a mesma impetuosidade com que o nenezinho suga o leite do peito materno.
* * *
Anos atrás fui chamado à cabeceira de um doente em estado grave que não cessava de chamar o médico. Os parentes fizeram-lhe a vontade. E quando este chegou ele pôs-se a chamar: "Doutor, doutor! não me deixes morrer!" "Doutor, não me deixes morrer!" Esse grito de angústia expressava a confiança ilimitada que o pobre enfermo depositava no médico. Nós também somos outros enfermos; necessitamos continuamente da Eucaristia, esse tesouro inesgotável, remédio e bálsamo para todos os males. Vamos, pois frequentemente receber a Jesus Cristo na Eucaristia, repelindo também a súplica daquele moribundo: — Jesus, não me deixeis morrer! Fazei que eu viva para amar-vos cada vez mais!
* * *
Lourdes, a cidade dos milagres, desde 1848 tornou-se a meta de contínuas peregrinações. Pois bem, sempre que chega uma peregrinação é celebrada uma função especial que consiste em abençoar os doentes com o SSmo. Sacramento, levado em procissão por um dos Bispos presentes.
É nessa hora que se desenrolam cenas tocantes de fé e amor. Milhares de fiéis — prostrados de joelhos, — sob um sol canicular, não cessam de clamar: Jesus Cristo, tende piedade de nós! Jesus, fazei que eu veja! Fazei que eu ouça! Senhor, fazei que eu ande! Ó Jesus, curai-me!
Espetáculo emocionante que não pode ser presenciado sem lágrimas nos olhos. A oração que espontaneamente brota dos lábios e impetuosamente ressoa pelo espaço, é capaz de por si só abrandar os corações mais empedernidos e convencer os incrédulos devido aos estrondosos milagres que continuamente se realizam.
Pois bem, quando assistirmos à Missa e formos comungar, lembremo-nos de Lourdes, e com todo o ardor de nossa alma lancemos a Jesus essas mesmas exclamações de fé, de esperança e de amor.
D. — Só assim poderíamos dizer que nossas Comunhões são frutuosas e muito agradáveis a Deus, não é Padre?
M. — Sim. Seriam conformes ao desejo de Jesus e como devem ser sempre: operadoras de milagres.
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