27 de julho de 2017

Sacerdotes tui induantur iustitiam et sancti tui exultent.”
Os teus sacerdotes se cobrirão de justiça e os teus santos se alegrarão.
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Hoje é um dia de grande alegria para nós e para toda a Igreja. Hoje nasce mais um pai que, com a graça de Deus, terá muitos filhos espirituais e muitos anos de vida sacerdotal. Tendo ele mesmo me dado a honra e o difícil encargo de pregar nessa primeira missa solene, onde o sermão é tradicionalmente dirigido ao neossacerdote, gostaria de usar essas palavras do Salmo CXXXII para dizer ao senhor, Padre Marcos, e a todos fiéis o quanto da sua santidade dependerá a santidade dos fiéis. Fiéis que lhe serão por Deus confiados ao longo dessa vida sacerdotal que começou uma semana atrás, pela imposição das mãos do Bispo sobre sua cabeça.
Os sacerdotes se cobrirão de justiça e os santos se alegrarão. Que o povo exultasse com a justiça dos sacerdotes parece normal. Mas porque chama o salmo de santo o povo que exulta com a justiça dos sacerdotes? Para compreender a profundidade da afirmação do salmo é de se notar, antes de mais nada, a equivalência que existe na Sagrada Escritura entre o santo e o justo. São José foi, senão o maior, um dos maiores santos de todos os tempos, pela sua proximidade com Nosso Senhor, modelo e fonte de toda santidade. Como é que a Escritura descreve toda essa santidade? Numa simples palavra: “José era um homem justo”. Assim, fica claro que a Escritura falando de justiça quer significar a santidade.
E os santos quem são? A Sagrada Escritura, ao falar de santos, evidentemente não trata daqueles que foram canonizados, pelo simples fato das canonizações serem posteriores ao Novo Testamento. O termo santo é usado para designar os cristãos que buscam a santidade por uma vida segundo a justiça. Assim diz São Paulo escrevendo aos Coríntios: “ à Igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Jesus Cristo, chamados santos com todos os que invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo…” Assim sendo, se a Escritura chama de justo o santo e de santos os justos, é porque esses termos diante de Deus se equivalem. E, consequentemente, o Salmo diz: “os teus sacerdotes serão recobertos de justiça e os teus justos exultarão”, ou “os teus sacerdotes serão recobertos de santidade e os santos exultarão”. Seja como for que entendamos, uma coisa é certa: assim como forem os sacerdotes, assim também será o povo por Deus confiado a eles.
Para melhor compreendermos essa verdade, peçamos à Mãe dos sacerdotes e de todos nós que se digne mais uma vez hoje, nos ensinar o caminho que leva até o seu Filho, único caminho de justiça e de santidade. AVE MARIA
O sacerdote, como Cristo, é o mediador entre Deus e os homens. Que missão tão divina que Deus quis confiar a cada um de nós, que exigência essa de buscar e conseguir o que está infinitamente acima das nossas forças! O homem pequeno e frágil deve buscar, na sua vida, a união com Deus onipotente e infinito, para poder gozar do céu. E como se já não fosse difícil o bastante, nossos primeiros pais pecaram nos privando da graça de Deus, garantia da nossa salvação. Mas Deus, no seu amor que é infinito, quando dá um desejo ou uma missão, dá sempre os meios de conseguir, e os dá sempre com grande abundância. Assim, sendo o homem o culpado do pecado, quis Deus também fazê-lo responsável por sua redenção e, para isso, não poupou nem o seu próprio Filho, mas o entregou para a salvação de todos nós, fazendo-o primeiro homem na sua Encarnação e, em seguida, vítima de expiação na sua Paixão e Morte.
Mais ainda: tendo Deus entregado seu Filho, para que o Homem pagasse pelo pecado do homem, Ele quis ainda que cada um de nós tivesse parte e responsabilidade na nossa redenção para que, tendo sido cada um de nós responsáveis pelos nossos pecados, possamos dizer, com toda propriedade e verdade, que também somos responsáveis pela nossa salvação. Que mistério insondável esse de Deus, que entrega seu Filho à morte para salvar os que o ofendem! E que mistério mil vezes mais insondável de Deus que quer depender dos homens para cumprir seus planos! De Deus que quer que cada homem seja responsável por sua salvação!
As maravilhas de Deus não param por aí. Cabe ao homem o querer e cabe a Deus o salvar. Cabe ao homem pedir, cabe a Deus o dar. Mais ainda naquilo que toca exclusivamente a Deus, Ele quis depender do homem e de homens que a sua Providência escolheria ao longo da História da Igreja. Os romanos, que foram um povo dotado de grande habilidade em engenharia, desejosos de ter água corrente em suas casas, criaram pontes que trouxessem a água das altas montanhas que circundavam a Roma antiga, pontes que se chamaram aquedutos. Dizem os especialistas, que essas grandes construções exigiam uma precisão quase que cirúrgica porque, se a inclinação fosse menos do que a devida, a água não escorria, mas se fosse maior, chegava nas casas com tanta força que destruía o que encontrasse pela frente.
Na engenharia divina, Deus também quis construir os seus aquedutos, entre o céu e a terra, entre Aquele que dá e o aquele que pede, entre o que quer e o que salva, entre Ele mesmo e os homens, sendo a água que corre nos canais a sua Graça. O padre toca de um lado o céu e de outro a terra. Toca o céu para dar, como faz o próprio Deus, toca a terra para pedir, em nome dos homens que lhe foram confiados. Toca o céu para poder salvar pela Graça que é dada por Deus, toca a terra para abrir o coração do homem que é capaz de se fechar a ela. Toca o céu porque Deus se deixa tocar infalivelmente pela oração do padre, que age in persona Christi, toca a terra porque só pelo sacrifício por ele oferecido os homens se tornam agradáveis a Deus. Toca o céu porque deve viver na Terra como se já estivesse no céu, toca a terra porque é o meio mais eficaz de antecipar nela o céu. Toca o céu enfim porque se entregou inteiramente a Deus, toca a terra enfim porque deve ser totalmente entregue ao bem dos homens.
Que mistério insondável, repito, esse de Deus que entrega seu Filho à morte para salvar os que o ofendem! E que mistério mil vezes mais insondável de Deus que quer depender dos homens para cumprir seus planos, de Deus que quer que cada homem seja responsável por sua salvação! Ó mistério muito mais que mil vezes insondável, esse, no qual Deus quis fazer de simples homens outros Cristos! Que missão belíssima essa, missão que não há nem pode haver mais bela no mundo!
O padre é um verdadeiro aqueduto, saído da engenharia divina para trazer aos homens as graças vindas do céu. O primeiro aqueduto que Ele construiu foi de pedra, segundo as palavras de Cristo: Pedro, tu és pedra e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja, tudo o que ligares na terra, será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado também nos céus. Os seguintes, seguindo o selo da ação de Deus, que se compraz em usar instrumentos impróprios nas suas obras, apesar de fundados na pedra angular que é o Cristo, são feitos de carne e osso, e esses são os padres. E como já bem sabiam os romanos, o aqueduto deve estar bem constituído e ter água para que ele seja eficaz.
Para que o padre seja bem o que ele é, o canal da graça de Deus, é necessário que seja um exemplo de vida e cheio da graça de Deus, ou seja, santo. Assim como os romanos só tinham água se o aqueduto fosse bom, assim os cristãos só poderão receber a graça de Deus, da forma como eles necessitam, se o padre a quem foram confiados por Deus for santo. E assim, com muita razão diz o salmo, sacerdotes tui induantur iustitiae et sancti tui exultent: Os teus sacerdotes se cobrirão de justiça e os teus santos exultarão.
Haverá quem argumente dizendo que a graça de Deus age independentemente da santidade do padre nos sacramentos, o que em teologia se chama ex opere operato. De fato, nesse aqueduto divino, a água passa infalivelmente quando se trata das graças sacramentais. Mas, assim como a forma como a água chegava aos romanos dependia das características do aqueduto, assim também é impossível que não haja uma ligação direta entre o que são os padres e o que são os seus fiéis.
Entre milhares de outros exemplos, pensemos hoje no Cura d’Ars: homem simples e ignorante, feio e caipira. De uma Igreja vazia no interior de Lion na França, fez um lugar de referência para todo o país. E, em seguida e ainda hoje, mesmo morto, continua a ser canal da graça de Deus para o mundo todo e tem sido dado como modelo aos padres já por vários Papas. Conta-se que, quando ele foi nomeado pároco de Ars, ele vinha chegando na cidade a pé e penava a encontrar o caminho. Passava por ali um menino, ao qual o padre pediu informação. Para agradecer o favor que o menino lhe fazia, o santo lhe disse: “Você me mostrou o caminho de Ars, eu lhe mostrarei o caminho do Céu.” O Cura d’Ars foi fiel cumpridor de sua promessa.Não só mostrou o caminho para esse, mas também foi o aqueduto da graça de Deus para milhares de outras pessoas, que concorriam a Ars para se aproximar de Deus.
Ora, a missa que celebrava o Cura d’Ars não era a mesma que nós celebramos? A absolvição que dava o Cura d’Ars não era a mesma que nós damos? Os sacramentos todos não eram os mesmos? A comunhão que dava o Cura d’Ars, não era do Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, em tudo igual àquela que todos nós padres também damos? Sim, a água que passava naquele aqueduto, feito de uma constituição humana tão frágil, era a mesma que passou e que passa em cada um dos padres. Mas aquele aqueduto foi tão bem construído que toda água que nele passava podia ser aproveita pelos fiéis e, por isso, a santidade desse sacerdote foi e sempre será motivo de júbilo para todos os cristãos.
Caríssimo Padre Marcos, Deus o fez, pela imposição das mãos do Bispo, um aqueduto da sua Graça. Um aqueduto que toca o que há de mais alto nesse mundo, pois em toda verdade o senhor dirá daqui a pouco: Este é o meu Corpo e este é o meu Sangue; e que na outra extremidade toca o que há de mais vil nesse mundo quando o senhor dirá, também em toda verdade: Eu te absolvo dos teus pecados. A Igreja, em nome de Deus, o julgou capaz de receber essa dignidade altíssima, depois de tê-lo examinado durante estes seis anos de seminário. Não se esqueça de que sua função, a partir de agora, é ser canal da graça de Deus e que, da perfeição desse canal, ou seja, da sua santidade, dependerá a santidade daqueles que lhe forem confiados.
O milagre do ex opere operatur ultrapassa em muito nossas forças e nossa capacidade de compreensão… mas talvez seja ainda mais impressionante que ele o querer Deus fazer depender de homens a vinda de sua graça até nós. Se quiser um povo santo, não basta rezar a missa, confessar, dizer o que deve ser feito no sermão. Tudo isso é importantíssimo, e mesmo essencial, mas não basta. Se quiser um povo que reze, comece por rezar. Se quiser um povo penitente, faça penitência. Se quiser um povo que faça apostolado, não poupe suas forças. Se quiser um povo feliz, seja um padre santo, se quiser um povo santo, seja um padre feliz. Feliz daquela mesma felicidade de que gozam os bem aventurados. Feliz daquela mesma felicidade que todos nós, católicos viatores, buscamos. Feliz da verdadeira felicidade, que é ter por único fim, a glória e honra de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Que cada um de nós peça hoje especialmente a Deus para que Ele se digne tornar perfeita a obra que Ele começou e que, tendo esse novo sacerdote sido recoberto de justiça e de santidade, nos alegremos todos um dia junto a ele no céu.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Pe. José Luiz de Oliveira Zucchi
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