6 de julho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

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Dir-me-eis talvez: "Não recebemos já o Espírito Santo no Batismo e mais especialmente no Sacramento da Confirmação»?
Não há dúvida que sim. Mas podemos recebê-Lo sempre mais abundantemente, podemos receber
 sempre d'Ele luzes mais vivas, forças mais poderosas; Ele pode fazer sempre brotar em nossos corações fontes mais profundas de consolação, abrasá-las num amor mais ardente.
E esta operação fecunda do Espírito em nós pode repetir-se, não só durante os dias sagrados do Pentecostes, mas ainda cada vez que recebemos um sacramento, um aumento de graça, pois Ele é um com o Pai e o Filho: Ad eum veniemus, et mansíonem apud eum faciemus.
O Espírito Santo vem a nós para em nós habitar; habita em nós para nos santificar, para nos guiar em toda a nossa atividade sobrenatural; comunica.-nos os Seus dons de sabedoria, de inteligência, de conselho, de força, de ciência, de piedade, de temor, que são outras tantas aptidões sobrenaturais depositadas em nós para nos fazer agir como filhos de Deus: Quicumque Spirittu Dei aguntur ii sunt filii Dei.
Habita em nós; hóspede divino, cheio de amor e bondade, não estabelece em nossos corações a sua morada senão para nos ajudar, esclarecer, fortalecer; não nos deixará, se não tivermos a infelicidade de O expulsar das nossas almas pelo pecado mortal. É o que S. Paulo chama  «apagar o Espírito» expulsar este Espírito de amor, preferindo-Lhe, de modo absoluto, a criatura. Sigamos ainda o conselho do Apóstolo e não «entristeçamos»  o Espírito Santo, não resistamos às Suas inspirações, por qualquer falta que seja, mesmo leve, plenamente deliberada, friamente consentida, por um «não» dito voluntariamente a tudo o que de bom Ele nos vier a sugerir.
A Sua ação é extremamente delicada; e, quando a alma lhe resiste deliberadamente e com frequência,
ofende o Espírito Santo: obriga-O pouco a pouco a calar-se. E então para no caminho da santidade e corre grande risco de se desviar do trilho da salvação. Que pode fazer uma alma assim, sem mestre que a dirija, sem luz que a alumie, sem força que a ampare, sem alegria que a transporte?
Sejamos, pois, fiéis a este Espírito que vem a nós, com o Pai e o Filho, para em nós fixar a Sua morada. «Não sabeis, dizia ainda S. Paulo, que sois, pela graça, o templo de Deus e o Espírito Santo habita em vós»? Todo o aumento de graça é como que uma nova recepção deste hóspede divino, uma nova posse que Ele toma das nossas almas, um novo amplexo de amor.
E quão benéficas são para a alma fiel as Suas operações ! Dá-lhe a «conhecer o Pai» : : Per te sciamus da Patrem. Dando-Lho a conhecer, produz nela, pelo dom da piedade, a atitude de adoração e amor que deve ter para com o Pai celeste. Ouvi o que tão explicitamente diz S. Paulo: «O Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos o que devemos pedir em nossas orações, mas o próprio Espírito roga por nós com gemidos inenarráveis». E que oração é esta? «Recebestes, diz, um Espírito de adoção, pelo qual bradamos a Deus: Pai, Pai! . . Este mesmo Espírito dá testemunho à nossa alma de que somos filhos de Deus».
Dá-nos a «conhecer também o Filho»: Noscamus atque Filium; manifesta-nos Jesus. Ele é o mestre
interior que nos dá a conhecer Cristo, que nos faz compreender as Suas palavras e os Seus mistérios: «Porque procede de mim, diz Jesus, do mesmo modo que do Pai. Ele me glorificará em vós": Ille me clarificabit. Infundindo em nós a ciência divina, mantendo-nos, pelo amor, na presença de Jesus, inspirando-nos a fazer sempre o que é do Seu agrado, estabelece em nós o Reino de Cristo. Pela Sua ação infinitamente delicada e soberanamente eficaz, forma Jesus em nós. Não é nisto que consiste a essência de toda a santidade?
Peçamos-Lhe, pois, que venha a nós, em nós habite e em nós aumente a abundância dos Seus dons. A
oração fervorosa é uma das condições da Sua vinda às nossas almas.
Outra é a humildade. Apresentemo-nos a Ele na íntima convicção da nossa pobreza interior. Esta disposição da alma é excelente para receber Aquele de quem a Igreja canta: Sine tuo numine, nihil est in homine, nihil est innoxium. "Sem o Vosso auxílio, nada há no homem que não possa ser-lhe nocivo». Façamos nossas estas vivas aspirações da Igreja: «Vinde, Espírito de amor; vinde, repouso no trabalho; vinde, refrigério nos intensos calores; vinde, consolação nas lágrimas. Lavai as nossas manchas, regai a nossa aridez, curai as nossas chagas; vergai a nossa rigidez, aquecei a nossa frieza, guiai nossos passos transviados".

Lava quod est .sordidum
Riga quod est aridum.
Sana quod est saucium;
Flecte quod est rigidum,
Fove quod est frigidum,
Rege quod est devium .

Apesar das nossas misérias, invoquemos o Espírito Santo: é precisamente por causa destas misérias que Ele nos atenderá.
E pois é um só com o Pai e o Filho, dirija-mo-nos também ao Pai: Pai, enviai-nos, em nome do Vosso Filho Jesus, o Espírito de amor que nos encha do sentimento íntimo da nossa filiação divina. E Vós, Jesus, nosso Pontífice, agora sentado à direita do Pai, rogai-Lhe por nós, para que esta vinda do Espírito que nos prometestes e merecestes seja abundante: que seja «um rio impetuoso que regozije a cidade das almas»; ou antes, segundo as Vossas próprias palavras, ó Jesus, «um rio de água viva, cuja virtude jorre até à vida eterna». Hoc autem dicebat de Spíritu Sancto quem accepturi erant credentes in eum.

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