12 de julho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

I

Quando o nosso divino Salvador instituiu este mistério, com o fim de perpetuar os frutos  do Seu Sacrifício, disse aos Apóstolos: Hoc facite in meam commemorationem - "Fazei isto em memória de mim" . Assim, além do fim principal, que é renovar a Sua imolação e fazer-nos participar dela pela Comunhão, Jesus Cristo ajuntou à Eucaristia um caráter de memorial. E como é que este mistério conserva a lembrança de Cristo? Como é que o recorda aos nossos corações?
A Eucaristia conserva a recordação de Jesus, primeiro como Sacrifício.
Sabeis muito hem que há um só sacrifício completo, total, perfeito, que tudo saldou e tudo satisfez,
que tudo mereceu e do qual deriva toda a graça: o Sacrifício do Calvário. Não há outro. Una enim oblatione consummavit in sempiternum sanctificatos - "Por uma oblação única, diz S. Paulo, Jesus Cristo levou para sempre à perfeição aqueles que são santificados".
Mas, para que os méritos deste sacrifício sejam aplicados a todas as almas de todos os tempos, Jesus Cristo quis que ele fosse renovado no altar. O altar é outro Calvário, onde é recordada, representada, reproduzida a imolação da cruz. Assim, por toda a parte onde houver um sacerdote para consagrar o pão e o vinho, conserva-se a lembrança da Paixão. O que se oferece e dá no altar é «o corpo que foi entregue por nós, o sangue que foi derramado pela nossa salvação". É o mesmo Pontífice, Jesus Cristo, que os oferece pelo ministério dos Seus sacerdotes. Como não pensar, pois, na Paixão, quando assistimos ao Sacrifício da Missa, no qual tudo é idêntico, menos a maneira como se faz a oblação? 
Não se celebra nenhuma Missa, não se faz nenhuma Comunhão sem que venha à mente a lembrança
de Jesus que se entregou à morte para resgatar o mundo. Porque, diz S. Paulo, "todas as vezes que comerdes este pão e beberdes deste cálice, anunciais, recordais a morte do Senhor; e assim será, até que Ele venha no último dia»: QUOTIESCUMQUE enim manducabítis panem hunc et calicem bibetis, mortem Domini annuntiabitis donec veniat.
Assim se perpetua, viva e fecunda, até ao fim dos séculos, a lembrança de Cristo no meio daqueles que veio resgatar pela Sua imolação.
A Eucaristia é, pois, o perfeito memorial que Jesus deixou da Sua Paixão e Morte; é o testamento do Seu amor. Por toda a parte onde se oferece o pão e o vinho, onde se encontra a hóstia consagrada, é recordada a imolação de Cristo: Hoc facite in meam commemotationem.
A Eucaristia recorda-nos, antes de mais nada, a Paixão de Jesus. Foi na véspera da morte que Jesus a
instituiu; foi como testamento do Seu amor que no-la deixou.
Contudo, não exclui os outros mistérios. Vede o que faz a Igreja. É a Esposa de Cristo, ninguém melhor do que ela conhece as intenções do seu divino Chefe; na organização do culto público que Lhe presta, é guiada pelo Espírito Santo. E que diz ela? Apenas terminada a consagração, lembra primeiro a s palavras de Jesus: Hoc facite ín meam commemorationem - «Fazei isto em memória de mim ». E logo a seguir, para mostrar até que ponto faz seus os sentimentos do Esposo, acrescenta: «Por isso, Senhor, nós Vossos servos e conosco esta Vossa santa assembleia, em memória da bem aventurada Paixão do mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor e da Sua Ressurreição dos infernos, bem como da Sua gloriosa Ascensão aos céus, oferecemos à Vossa divina Majestade. . . o pão sagrado da vida eterna e o cálice da salvação eterna». Unde et memores . . . tam beatae passionis nec non et ab inferís ressurrecitionis sed et in caelos gloriosae ascensionis. Os gregos depois de mencionarem «a Ascensão à direita do Pai», fazem também menção «da segunda e gloriosa vinda».
Assim pois, conquanto a Eucaristia recorde diretamente e em primeiro lugar a Paixão de Jesus, não exclui a lembrança dos mistérios gloriosos que tão estreitamente se encadeiam com a Paixão, da qual, em certo sentido, são o complemento.
Visto ser o corpo e sangue de Jesus Cristo que recebemos, a Eucaristia pressupõe a Incarnação e os mistérios que nela se baseiam ou dela derivam. Jesus Cristo está no altar com a Sua vida divina que não cessa jamais, com a sua vida mortal cuja forma histórica cessou, sem dúvida, mas cuja substância e merecimentos permanecem, com a Sua vida gloriosa que não tem fim.
Tudo isto, como sabeis, está realmente contido na sagrada hóstia e é dado em comunhão às nossas almas. Dando-se a nós, Jesus Cristo entrega-se na totalidade substancial das Suas obras e dos Seus mistérios, bem como na unidade da Sua pessoa. Sim, diremos com o salmista que cantava com antecedência a glória da Eucaristia, «o Senhor deixou ao Seu povo uma lembrança das suas maravilhas; na sua misericórdia e bondade, deu alimento àqueles que O temem »: Memoriam fecit mirabilium suorum, misericors et miserator Dominus: escam dedit timentibus se.
A Eucaristia é como que a síntese das maravilhas do amor do Verbo Incarnado para connosco.

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