24 de julho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

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Mas, perguntar-me-eis, por que é que a Igreja parece reduzir à «veneração» todas as disposições para com este divino Sacramento? Que razão tem para assim proceder?
É que este respeito é uma homenagem de fé. O homem que não tem fé não dobra o joelho diante da hóstia consagrada. Esta reverência nasce e alimenta-se unicamente da fé.
Ora já vos tenho dito muitas vezes que a fé, base de toda a justificação e condição fundamental de todo o progresso na vida sobrenatural, é a primeira das disposições para receber o «fruto da Redenção» de Cristo.
Com efeito, que fruto é este para as nossas almas? Resume-se numa palavra: renascer para a vida divina da graça, tornar-nos participantes da adoção eterna. E isto não o conseguiremos senão pela fé. A fé é a condição primordial para nos tornarmos filhos de Deus e colhermos, na sua substância, o fruto da árvore divina da cruz: Quotquot autem receperunt eum, dedit eis potestatem filios Dei fieri, HIS QUI CREDUNT IN NOMlNE EJUS . . . qui ex Deo nati sunt.
A recepção da Eucaristia une-nos primeiramente à santa Humanidade de Cristo; e esta união opera-se
pela fé. Quando credes que a Humanidade de Jesus é a Humanidade do Filho de Deus, a própria Humanidade do Verbo, e que n'Ele há só uma pessoa divina, quando, com toda a força e plenitude da vossa fé, adorais esta santa Humanidade, por ela entrais em contato com o verbo, pois é ela o caminho que vos leva à Divindade.
Quando Jesus Cristo Se dá a nós na Sagrada Comunhão, faz-nos a pergunta que fazia aos Apóstolos: Quem dicunt homines esse Filium hominis? Que dizem de mim os homens? Ao que devemos responder com Pedro: « Tu es Christus, Filius Dei vivi - «Vós sois o Cristo, o Filho do Deus vivo». O que vejo é apenas um pedaço de pão e um pouco de vinho: mas Vós, que sois o Verbo, a Sabedoria Eterna e a Verdade infinita, dissestes: Hoc est corpus meum, hic est sanguis meus -  «Este é o meu corpo, este é o meu sangue»; e por isso que o dissestes, creio que estais presente sob estas humildes e ínfimas aparências. Os nossos sentidos nada nos dizem, a fé é que nos faz penetrar até à realidade divina oculta sob os véus eucarísticos: Praestet fides supplementum sensuum defectui.
E Nosso Senhor diz-nos, como ao centurião: Sicut credidisti, fiat tibi - «Faça.-se conforme a tua fé».
Porque acreditais que sou Deus, dou-me a vós com todos os tesouros da minha Divindade, para vos cumular e transformar em mim; dou-me a vós com as inefáveis relações da minha vida íntima de Deus.
É que não nos unimos apenas com Cristo; Cristo é «um com o Pai» - Ego et Pater unum sumus - um, na unidade do Espírito Santo. A Comunhão une-nos ao mesmo tempo ao Pai e ao Espírito Santo. Jesus Cristo, Verbo Incarnado, é todo para o Pai. Quando comungamos Ele toma conta de nós, une-nos ao Pai como Ele mesmo Lhe está unido. Na última Ceia, depois de instituir a Sagrada Eucaristia, dizia Jesus: «Rogo-te, ó Pai, não só pelos meus Apóstolos, mas também por todos aqueles que, pela sua palavra, acreditarem em mim, para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que sejam um em nós . . . Que eles sejam um, como nós somos um, eu neles e tu em mim»:
Ego in eis et tu in me.
O Verbo une-nos também ao Espírito Santo. Na adorável Trindade, o Espírito Santo é o amor substancial do Pai e do Filho, Jesus Cristo dá-no-Lo como O dava aos Apóstolos, para nos dirigir por Ele; comunica-nos este Espírito de adoção, o qual, provando-nos que somos realmente filhos de Deus, nos auxilia, pelas Suas luzes e inspirações, a viver como « filhos prediletos ».
Que santuário não é a alma que acaba de comungar! A Eucaristia dá-lhe primeiramente o Corpo e o Sangue de Cristo, dá-lhe a Divindade do Verbo indissoluvelmente unida, em Jesus, com a natureza humana; pelo Verbo, a alma fica unida ao Pai e ao Espírito Santo, na indivisibilidade da Sua natureza incriada. A SS.ma Trindade habita em nós; a nossa alma torna-se o céu onde se realizam as misteriosas operações da vida divina. Podemos então oferecer ao Pai o Filho da Sua predileção para que ponha de novo n'Ele as Suas complacências; podemos oferecer estas complacências a Jesus para que na Sua santa alma se repitam as inefáveis alegrias que sentiu no momento da Incarnação; podemos pedir ao Espírito Santo que seja o laço de amor que nos una ao Pai e ao Filho.
Só a fé nos pode fazer compreender estas maravilhas e penetrar nestes abismos: Mysterium fidei . . .

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