3 de julho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

IV

Foi para. nós que veio o Espírito Santo; a assembleia do Cenáculo representava a Igreja inteira. O Espírito, se vem, é "para ficar para sempre com ela.». É a promessa de Jesus: Ut maneat vobiscum IN AETERNUM.
No dia do Pentecostes desceu visivelmente sobre os Apóstolos; desde aquele dia, a santa Igreja espalhou-se por toda a terra; é o reino de Jesus, e é o Espírito Santo quem, com o Pai e o Filho, governa. este reino. Ele completa nas almas a obra de santidade iniciada pela Redenção. É para a Igreja o que a alma é para o corpo: o espírito que anima e vivifica, que salvaguarda a unidade (conquanto a sua ação produza efeitos múltiplos e variados ); que lhe dá todo o vigor e toda a beleza.
Com efeito, vede que abundância de graças derrama sobre a Igreja logo a seguir ao Pentecostes. Nos
"Atos dos Apóstolos», que narram a história dos princípios da Igreja, lemos que o Espírito Santo
descia visivelmente sobre os que eram batizados e enchia-os de graças maravilhosas. Com que prazer S. Paulo as enumerara! "Há diversidade de dons, mas procedem do mesmo Espírito. A cada um é dado, para utilidade de todos, a manifestação do Espírito. A um dá o Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, de ciência; a este, o dom duma fé extraordinária; àquele, o dom de curar; aqui, o dom de operar milagres; ali, o dom da profecia; algures o discernimento das inteligências, a diversidade ou interpretação das línguas». E o Apóstolo acrescenta: «É porém um só e mesmo Espírito que produz todos estes dons, distribuindo-os particularmente a cada um como lhe apraz».
Era o Espírito Santo, prometido e enviado pelo Pai e por Jesus, que dava essa plenitude e intensidade de vida sobrenatural aos primeiros cristãos. Por muito diferentes que fossem entre si, tinham, em razão do amor que o Espírito Santo derramava sobre eles, «um só coração e uma só alma».
Desde então o Espírito Santo reside na Igreja de modo permanente, indefectível, exercendo nela uma ação incessante de vida e santificação: Apud vos manebit, et in vobis erit. Torna-a infalível na verdade: "Quando vier o Espírito de verdade, dizia Jesus, guiar-vos-á em toda a verdade»  e livrar-vos-á de todo o erro. Faz brilhar na Igreja uma fecundidade sobrenatural, maravilhosa; faz nascer e desabrochar nas virgens, nos Mártires, nos Confessores, aquelas virtudes heroicas que são um dos sinais de santidade. Numa palavra, é o Espírito Santo que opera no íntimo das almas, pelas Suas inspirações, para tornar a Igreja (que Jesus conquistou, duma vez para sempre, com o Seu precioso sangue ) « pura, sem mácula, nem ruga», digna de ser apresentada por Cristo ao Pai no dia do triunfo final.
Esta ação interior do Espírito Santo é incessante. O Pentecostes não terminou. Sob a sua forma histórica, como descida visível, terminou, sim. Mas perdura sempre na sua virtude; a graça do Pentecostes permanece. A vinda do Espírito Santo às almas é agora invisível, mas nem por isso menos fecunda.
Vede a Igreja, no próprio dia em que celebra a Ascensão. Qual a sua prece, depois de ter cantado a glorificação do seu divino Esposo e com Ele ter rejubilado? Dirige-se a Jesus Cristo: «Rei da glória, Senhor, cujas obras fazem brilhar a majestade com que subistes hoje triunfante ao mais alto dos céus, não nos deixeis órfãos;  mas enviai-nos Aquele que o Pai prometeu, o Espírito de verdade»: O Rex gloriae, Domine virtutem, qui triumphator hodie super omnes coelos ascendisti, ne derelinquas nos orphanos, sed mitte promissum Patris in nos, Spiritum veritatis. Pontífice todo poderoso, agora que estais sentado à direita do Pai e gozais em toda a plenitude do Vosso triunfo e valimento, rogai ao Pai, como nos prometestes, que nos envie outro Consolador; pelos sofrimentos da Vossa Humanidade, merecestes para nós esta graça; o Pai Vos atenderá, porque Vos ama; porque sois o Seu Filho amado, enviará convosco o Espírito que prometeu, quando disse: « Derramarei o Espírito Santo de graça e de orações sobre todos os habitantes de Jerusalém». Enviai-no-lo, in nos, para que permaneça eternamente!
A Igreja pede como se o Pentecostes se tivesse de renovar para nós; repete esta oração todos os dias da oitava da Ascensão; depois, no dia da solenidade do Pentecostes, multiplica os seus louvores ao Espírito, numa linguagem cheia de poesia e beleza, invoca-O com insistência sem igual e nos tons mais comovedores: «Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos Vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor ». «Vinde, e lançai sobre nós, do alto do céu, um raio da Vossa luz! Ó bem-aventurada luz, enchei com a Vossa claridade o mais íntimo dos corações dos Vossos fiéis! », «Fonte
viva, fogo ardente, amor, unção toda espiritual, vinde! 
Derramai a luz em nossos espíritos, infundi a caridade em nossos corações, fortalecei com a Vossa força incessante a nossa fraqueza ! . . . ».
Se a Igreja, nossa mãe, inspira estes desejos às nossas almas e põe estas orações nos nossos lábios, não é só para comemorar a descida visível que se deu no Cenáculo, mas também para que este mistério se renove em nós todos duma maneira interior.
Repitamos com a Igreja estas ardentes aspirações. Peçamos sobretudo ao Pai celeste que nos envie este Espírito. Pela graça santificante, somos Seus filhos; e é esta qualidade de filhos que leva o Pai a cumular-nos dos Seus dons. É porque nos ama como filhos que nos dá o Seu Filho; a Comunhão é «O pão dos filhos »: Panis filiorum; e é também porque somos filhos, que nos envia o Seu Espírito, o mais perfeito dos Seus dons: Donum Dei altissimi. Efetivamente, que diz S. Paulo? Quoniam estis filii, misit Deus Spiritum Fillii sui in corda vestra. «Porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito do Seu Filho». Ele é o Espírito do Filho, porque procede do Filho como do Pai e porque o Filho O enviou ao mesmo tempo que o Pai. Eis por que cantamos no Prefácio do Pentecostes: «É realmente digno e justo . . . que Vos demos graças, Senhor, Pai santo, Deus todo-poderoso e eterno, por Cristo Nosso Senhor, o qual, depois de subir ao mais alto dos céus e se ter sentado à Vossa direita., derramou nesse dia sobre os filhos de adoção o Espírito Santo que prometera»; Promissum Spiritum hodierna die in filios adoptionis effudit.
Portanto, o Espírito Santo é dado a todos os filhos de adoção, a todos aqueles que são irmãos de Jesus
pela graça santificante. E porque este dom é divino e contém os mais preciosos dons de vida e santidade, a sua efusão em nós (efusão que se manifestou tão abundante no dia do Pentecostes) é uma fonte de júbilo que enche de alegria o mundo inteiro»: Quapropter, profusis gaudiis, totus in orbe terrarum mundus exsultat.

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