1 de janeiro de 2010

Terceira ingratidão dos homens para com Jesus Sacramentado

Descuido dos Católicos em assistir Jesus Sacramentado

Essas foram as ingratidões dos infiéis para com o Inefável Sacramento do Altar, os quais, por não crerem, são menos culpáveis em ultrajá-l'O. Porém, discorramos agora sobre as ingratidões dos Católicos, que, porque O confessam, são, sem comparação, mais desumanos em ofendê-l'O. Que o pérfido judeu e o pertinaz herege desprezem a Eucaristia Augustíssima, Que, por cegos e faltos de fé, não conhecem, e Cuja admirável suavidade não experimentam, é grande maldade e ofensa; mas que o Católico, que bebeu nas fontes da Igreja Santa os verdadeiros dogmas de que n'Ela está o próprio Corpo de seu Deus e Redentor Sacramentado, de Quem ainda se alimenta, que o Católico O afronte e despreze, é a maior de todas as impiedades. Que os cortesãos daquele imperador o tratassem injuriosamente, não o tendo reconhecido quando saía das delícias de um banho, por especial disposição de Deus, Que assim quis humilhar a soberba com que nesciamente presumia que o Altíssimo não poderia deprimir sua majestade, ninguém há que não os desculpe. Mas que aqueles que sabiam que era seu legítimo soberano Carlos, rei da Inglaterra, afrontassem-no de tal sorte, que num cadafalso público lhe cortassem ignominiosamente a cabeça, é a maior infidelidade que nos contam suas histórias.

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São verdadeiramente inescusáveis as ingratidões que toda sorte de Católicos usa com seu Rei Sacramentado. E se não, dizei-me: não é coisa digna de admiração ver nos Católicos tanta negligência e descuido em assistir e cortejar o Senhor Sacramentado? Entrai nestas Igrejas, e não vereis senão solidões. Cheias estão as praças, as ruas e os teatros, os dias são pequenos, as noites parecem curtas para ver uma comédia, para jogos, óperas e festins, e todo o tempo não basta para os negócios do mundo. Mas, na presença de Jesus Sacramentado, aos pés do maior Santuário da terra, quantos assistem? Quem gasta uma hora diante d'Aquele Senhor, a Cuja vista mil anos são como o dia que passou? Passam as semanas inteiras, e lá no fim delas vão ouvir, com mil distrações, uma Missa. Fogem da vista d'Aquele Divino Amante, como aqueles que têm os olhos enfermos, e não podem olhar a luz. Apartam-se de Sua presença, sabendo que os membros, quanto mais distantes do coração, tanto menos participam da vida; que os ramos, quanto mais longe da raiz, tanto menos recebem vigor; e que as estrelas, quanto mais apartadas do seu centro, tanto menos velozes executam seu curso. E ainda assim não podem negar que Este Augusto Sacramento é o centro da Alma, a vida do coração e a raiz da graça.
Nem têm que alegar os que se acham culpados de semelhante ingratidão, que as contínuas ocupações, os negócios urgentes os impedem de comparecer ao Trono Real de Jesus Sacramentado. Porque lhes lançarei na cara um Henrique Imperador, que, com os cuidados de uma monarquia, gastava muitas horas diante da Sagrada Eucaristia. Eu lhes porei à vista um Venceslau, Rei da Boêmia, a quem não faltava tempo para visitar descalço as Igrejas e passar as noites em torno dos pés dos Altares. Que direi de um Xavier, que, ocupado em pregar a fé em vinte e quatro reinos, e batizar com suas próprias mãos um milhão e duzentas mil Almas, parece que competia com os Anjos na assistência a seu Criador Sacramentado. Trinta vezes por dia O visitava Sua fiel amante, Madalena de Fazzis. Onde estão agora no mundo aqueles que, por muitos anos, não quiseram outra cama que as grades de um Altar, até acabar nelas a vida? Onde aqueles que nunca saíram de uma tribuna senão para receber a Sagrada Comunhão?
E, se quisermos voltar os olhos àqueles Espíritos Angélicos, vê-los-emos noite e dia fazer corte ao Senhor Sacramentado, e não foi instituído Este Sacramento para eles, que incessantemente O adoram, mas para os que ingratamente O abandonam. Para os homens e não para os Anjos está Jesus dentro daqueles Sacrários, e aqueles, com santa emulação, milhares O assistem, e, rendidos, tributam-Lhe os corações.
Navegam-se os mares do oriente ao poente, entregando-se os homens à inconstância das ondas, à inclemência dos ventos, aos perigos quase contínuos da vida, só em busca de um metal, que a sorte lhes nega. Mas para buscar Este Pão Divino, exposto em todas as partes e encerrado por nosso amor, que negligências e descuidos não se veem? O que eu temo é que se possa fixar hoje, sobre as Aras de nossos Altares, aquela horrenda inscrição que encontrou São Paulo no Templo de Atenas: Ignoto Deo. Aqui não é conhecido Deus Sacramentado. E, na verdade, que fé, que conhecimento pode ter uma Alma que, somente arrastada pelas cadeias de um preceito, vai, nos dias festivos, ouvir indevotamente uma Missa, e ainda se queixa se não for muito breve? É isso crer no Santíssimo Sacramento do Altar? Vir à Sua presença com pressa, não ver a hora de voltar-Lhe as costas para ir à conversação nas praças e engolfar-se nos passatempos. Volto a dizer que não é conhecido no mundo Jesus Sacramentado. Ó cegueira lastimosa! Quem jamais viu um enfermo aborrecer a vista de um médico? Um cervo ferido fugir da fonte clara? Mas estas criaturas estão enfermas e frenéticas, estão feridas, e se abrasam no fogo de suas concupiscências, e não correm buscar a água da vida, que mana d'Este Sacramento.
Agora, pois, Almas Católicas, ainda é tempo. Jesus espera dentro daqueles Sacrários. As portas de Seus Templos choram por ver-se tão desertas. Para que andar vagando pelas praças da Samaria? Todas as coisas buscam naturalmente o seu centro. As pedras se desfazem no ar por chegar à terra. O ferro se esquece de sua dureza para unir-se a seu ímã, e as chamas voam incessantemente à sua esfera. Desterrai, pois, os passatempos mundanos; fechai os ouvidos às enganosas Sereias que vos encantam; rompei os laços das Dalilas que vos têm presos; e correi a beber da fonte viva de Hesebon, que trocastes pelas cisternas rotas da Babilônia, e aos pés destas Sagradas Aras seja toda vossa habitação, em cujas pedras, ungidas com o precioso óleo Eucarístico, descansareis mais seguros que Jacó.

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