10 de janeiro de 2010

Segundo colóquio entre a Alma e Jesus Sacramentado, para recolher-se antes e após a Comunhão

Desfaz-se de amor a Alma, em desejos de receber o Corpo de Jesus. Mas, temeroso, confunde-se no próprio conhecimento.

Ah! Deus de amor, Deus de Majestade! Este meu coração arde em vivos desejos de receber-Vos dentro de mim. Vive faminto d'Esse Pão Vivo. Ó Sacramento inefável, alimento de minha vida! Aqui estou, para transformar-me em Vós, e, não sei se digo, para converter-Vos em mim. Que faz me coração, que não voa, que não se desfaz para unir-se con'Vosco, Que sois sua fonte, seu último fim e seu único e sumo bem? Ó Deus escondido! Eu sinto Vossa viva presença, porém, não vejo a beleza que me arrebata. Eu sei Quem me fere o coração, mas não vejo o dardo que o trespassa. Ó doce encanto! Ó celestial enigma! Quando Vos descobrireis a meus olhos? Quando deixareis de atormentar esses meus sentidos? Mas, que digo? Não peço isso, Senhor, não quero ver nem saber esse segredo de Vosso amor. A Fé viva com que o creio me basta, Vossas trevas são minha luz e Vossa escuridão é minha evidência.
Mas que dureza é esta, deste meu ingrato coração? Meu Criador vem buscar-me para dar-me vida, quer me alimentar com Sua Carne e Sangue, e oferece-me Seu peito, para que descanse nele. E eu, com que disposição estou aqui para recebê-l'O? Onde estão as lágrimas e os suspiros por ter desprezado tantas vezes Esse bem infinito, e ofendido tão ingratamente Esse Divino Amante? Eu bem conheço, Senhor, que, se me privo d'Esse Divino alimento, pereço de fome. Mas também temo que os Anjos, que não são puros à Vossa vista, castiguem minha temeridade. Receio que Vossa Puríssima Mãe, vendo a fealdade de minhas culpas, e que chego tão imundo a receber em meu peito o mesmo que Ela hospedou em Suas entranhas, zelando a grandeza de Vossa Majestade, aparte-me de Vossos pés.
Mas, Senhor, já me animo a oferecer-Vos este pobre e gélido coração, pois me lembro de que Essa Senhora reclinou-Vos num presépio pobre, quando nasceste, e viu-Vos morrer no duro madeiro da Cruz. N'Esse Sacramento, ó meu Jesus, considero-Vos recém-nascido, e morto por meu amor. Duma e doutra forma, vindes a mim n'Essas Espécies Sacramentais. Vindes Menino, não envolto em pobres panos, mas coberto de frágeis acidentes. Vindes Homem, não cravado numa Cruz, mas Sacrificado num Altar por meu amor. Vindes, pois, ó Real Infante, ao pobre e desabrigado portal desta Alma, onde já não estranhareis nem a frieza de meus afetos, nem o áspero feno de minha vaidade, pois soubestes nascer entre palhas e morrer coroado de espinhos.
Prostrado também a Vossos pés, ó Rainha Soberana dos Céus, recorro à Vossa generosa clemência. Meu criador e Vosso Filho me convida, agora, ao Real Divino banquete de Seu Corpo e Sangue. E o que mais enternece meu tíbio coração é dizer-me que, dando-me a comer Sua Carne e a beber Seu Sangue, dá-me também o d'Aquela, com que O destes o ser humano. Purificai, pois, ó Senhora, meus lábios, com a viva brasa de Vosso amor! Incendiai este coração nas chamas duma ardente caridade, e submergi-me todo num mar de lágrimas e de dor, por vir tão pobre e tão desnutrido a Esta Divina Mesa do Sacramento.

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