23 de janeiro de 2010

SANTA MISSA EXPLICADA - PARTE 6

A MISSA DE SÃO PIO V EXPLICADA



Fontes:

- Explicações sobre as partes da Missa: "Curso de Liturgia" - Pe.Reus;

- Citações: "Suma Teológica", de Santo Tomás de Aquino; e "Missal Quotidiano e Vesperal", de Dom Gaspar Lefebvre;


PARTE VI - CÂNON - ORAÇÕES ANTES DA CONSAGRAÇÃO


“Sendo conveniente que as coisas santas se administrem santamente, e sendo este sacrifício entre todos o mais santo, instituiu a Igreja Católica já há muitos séculos o Cânon sagrado, tão purificado de todo o erro [cân. 6], que nele não há nada que não rescenda a suma santidade e piedade, nada que não eleve a Deus as almas dos que o oferecem. Pois ele se compõe das palavras do mesmo Senhor, como das tradições dos Apóstolos e das piedosas instituições dos Sumos Pontífices” (Concílio de Trento, sess.XXII, cap.IV).

Origem do cânon. O mais antigo texto completo do cânon de hoje é do século VII (Missal de Bobbio e outros). As tentativas de muitos liturgistas nos últimos decênios de reconstruir um primitivo cânon diferente do atual, não conseguiram resultado reconhecido por todos. Declarou-se afinal (1939) que depois "dos caminhos falsos de investigação científica especial" a melhor solução é a sustentação do cânon na sua forma atual, mais ou menos conforme a antiga tradição. Contribuiu para este resultado bastante seguro a recente comparação da missa romana com documentos orientais, publicada pelo patriarca sírio Rhamani (1929).

Quanto às partes essenciais portanto o cânon é herança venerável. Abstraindo do memento pelos defuntos e das duas listas dos santos, sofreu somente uma amplificação de poucas palavras, registradas pelo Liber pontificalis do séc. V e VI. Com esta limitação remonta mais ao menos até ao tempo do Papa Cornélio (+250). (Baumstark, Eph. lit. Anal. 1939, p. 204-243.) O communicantes e o Nobis quoque peccatoribus foram acrescentados no pontificado do Papa Símaco (+ 514); o memento dos defuntos, no de Inocêncio (+ 417). Mas nem isso é certo; provavelmente também estas partes são mais antigas. (Cf. Eisenh. II, p. 166.) Portanto as orações: Quam oblationem; Qui pridie quam pateretur, Unde et memores, Supra quae, Supplices (Pseudo-Ambrósio, de Sacram. IV, 5) com bastante certeza remontam até ao séc. III.

Ainda mais. São apostólicas. Sobre a lacuna entre o século III e o tempo dos apóstolos diz Belarmino, crítico competente (Controv. de miss. II, c. 22):

"Se as orações mencionadas por Pseudo-Ambrósio tivessem sido compostas por um papa, com certeza um historiador o teria referido. Se não deixaram de mencionar quem acrescentou algumas partes insignificantes, muito menos teriam calado o nome de quem compôs quase todo o cânon. Resta portanto que o cânon é de antiguidade imemorável e chegou até nós como muitas outras coisas, pela tradição, de mão em mão. Os nomes dos apóstolos e mártires pouco a pouco foram acrescentados."

Especialmente duas têm sinais de orações apostólicas: Unde et memores, por corresponder à ordem de Jesus Cristo: Hoc facite in meam commemorationem, e por se achar em todas as liturgias; a outra Supra quae, por causa da expressão Patriarchae nostri Abrahae, sinal de origem israelítica.

Esta "conjetura", como Belarmino chama estas considerações torna-se fato fundado pelas provas positivas que se tem para a oração: Quam oblationem. Ela contém resumido em cinco palavras o capitulo segundo de Malaquias com a profecia sobre a missa. Esta mesma profecia acha-se em 4 anáforas dos dois primeiros séculos, a alexandrina, antioquena, dedaquética e de São Justino. A oração Quam oblationem portanto remonta até ao tempo dos apóstolos.


“Se alguém disser que o rito da Igreja Romana que prescreve que parte do Cânon e as palavras da consagração se profiram em voz submissa, se deve condenar (...) — seja excomungado (Concílio de Trento, sess XXII, can.9)

[Algumas orações da Missa] “o sacerdote recita sozinho, isto é, as que pertencem ao ministério do sacerdote, a saber, “oferecer dons e sacrifícios pelos pecados” como está na Carta aos Hebreus (Hb V, 1). Entre elas, algumas são recitadas em voz alta, isto é, as que dizem respeito tanto ao sacerdote quanto aos fiéis, como são as orações comuns. Outras pertencem exclusivamente aos sacerdotes, como a oferenda e a consagração. Por esta razão, tudo o que diz respeito a estas partes o sacerdote diz em voz baixa (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.4 ad 6).

As cruzes do cânon. No princípio do cânon atual está a imagem de Jesus Cristo crucificado. Esta cruz desenvolveu-se dos ornamentos do T, primeira letra do início do Te igitur. Esta imagem faz desaparecer um tanto o nexo entre o prefácio e o cânon, mas tem a grande vantagem de recordar ao celebrante o sacrifício cruento que se renova no altar. As cruzes insertas no texto das orações antes da consagração têm o fim de santificar cada vez mais os elementos do sacrifício; depois da consagração servem "ad commemorandum virtutem crucis et modum passionis Christi" (S.Thom. III, 83 a. 5), i. é, são símbolos da morte de Cristo e produzem santificação nos seus membros místicos.

“Em poucas palavras, pode-se dizer que a consagração deste sacramento e a aceitação do sacrifício e de seus frutos procedem da força da cruz de Cristo. Por isso, todas as vezes que se faz menção de uma destas coisas, o sacerdote traça uma cruz" (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.5 ad3)..

“Depois da consagração, o sacerdote não faz nenhuma cruz para abençoar e consagrar, mas somente para recordar o poder da cruz e o modo da paixão de Cristo” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.5, ad4).

“Te igitur”

Te igitur. Compenetrado da infinita majestade divina o celebrante rezou: Sanctus, Sanctus, Sanctus. Agora levanta as mãos ao céu, inclina-se profundamente e continua: "Por isso, porque sois tão santo e majestoso, (a Vós) .. rogamos... que abençoeis estes dons, êstes presentes, estes Sacrifícios ..." Uma e mesma dádiva é dom do Doador, tributo ao Soberano, sacrifício para o serviço de Deus. Confiando neste sacrifício e sendo medianeiro entre Deus e o mundo, o celebrante intercede pelo papa (costume e lei antiga), pela Igreja e pelos cultores da fé. Este último termo designava os benfeitores da Igreja, mormente o imperador bizantino. Hoje compreende a quantos ajudam a propagação da Igreja por palavras e ações.

Te ígitur, clementíssime Pater, per Jesum Christum Fílium tuum, Dóminum nostrum, súpplices rogámus ac pétimus, uti accépta hábeas et benedícas, hæc dona, hæc munera, hæc sancta sacrifícia illibáta.

A vós, Pai clementíssimo, por Jesus Cristo vosso Filho e Senhor nosso, humildemente rogamos e pedimos aceiteis e abençoeis estes dons, estas dádivas, estas santas oferendas ilibadas.

In primis, quae tibi offérimus pro Ecclésia tua sancta cathólica: quam pacificáre, custodíre, adunáre et régere dignéris toto orbe terrárum: una cum fámulo tuo Papa nostro N. et Antístite nostro N. et ómnibus orthodóxis, atque cathólicae et apostólicae fídei cultóribus.

Nós Vo-los oferecemos, em primeiro lugar, pela vossa santa Igreja católica, à qual vos dignai conceder a paz, proteger, conservar na unidade e governar, através do mundo inteiro, e também pelo vosso servo o nosso Papa..., pelo nosso Bispo..., e por todos os (bispos) ortodoxos, aos quais incumbe a guarda da fé católica e apostólica.

“O sacerdote na celebração da missa faz os sinais da cruz para evocar a paixão de Cristo, que se consumou na cruz. A paixão de Cristo realizou-se como em etapas.
1ªetapa da Paixão: A entrega de Cristo feita por Deus, por Judas e pelos judeus. Ela é simbolizada pelos três sinais da cruz, ao dizer o sacerdote as palavras: “Haec dona, haec munera, haec sancta sacrificia illibata” (“Estes dons, estas dádivas, este santo sacrifício imaculado”)”
(Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.5 ad3).

Memento dos vivos

0 Memento dos vivos. Às preces gerais pela Igreja se segue a oração pelas pessoas que o celebrante intenciona recomendar a Deus em particular. Outrora eram lidos em voz alta os nomes dos benfeitores inscritos nos dipticos (duas tabuinhas munidas de dobradiças e que se podiam fechar). No século VIII eram lidos em voz baixa para o celebrante, mais tarde colocados no altar e finalmente desapareceram no século XII-XIII.

Meménto, Dómine, famulórum famularúmque tuárum N. et N. et ómnium circumstántium, quorum tibi fides cógnita est, et nota devótio, pro quibus tibi offérimus: vel qui tibi ófferunt hoc sacrifícium laudis, pro se, suísque ómnibus: pro redemptióne animárum suárum, pro spe salútis, et incolumitátis suæ: tibíque reddunt vota sua ætérno Deo, vivo et vero.

Lembrai-vos, Senhor, dos vossos servos e servas N. e N., e de todos aqueles que estão aqui presentes, cuja fé Vos é conhecida e manifesta a devotação. Por eles Vos oferecemos, ou eles próprios Vos oferecem, este sacrifício de louvor, por si e por todos os seus, para redenção das suas almas, para terem a salvação e incolumidade que esperam; para isso, a Vós dirigem as suas preces, Deus eterno, vivo e verdadeiro.

“Communicantes”

O Communicantes (= tomando parte na comunhão dos Santos). Para tornar as suas orações mais eficazes, o celebrante e o povo alegam, na sua qualidade de membros do Corpo Místico de Jesus Cristo, a sua íntima união entre si e com os santos glorificados. Em primeiro lugar é mencionada a rainha dos mártires, Maria Santíssima. Pois só mártires são enumerados, porque o culto dos confessores naquela época ainda não estava em uso. Depois dos santos apóstolos vêm os três primeiros papas: Lino, Çleto e Clemente. Xisto (forma grega; era grego de nascimento) = Sisto II (+258), célebre pelos versos do papa Dâmaso, e o seu diácono. O papa Cornélio (+ 253) é o amigo de Cipriano, bispo de Cartago. Lourenço é o diácono de Sisto II. Crisógono (+ 304) tinha instruído na fé S. Anastásia. João e Paulo foram vitimados por Juliano apóstata (+ 362). Cosme e Damião eram dois médicos árabes celebérrimos por suas curas milagrosas. (+ 297.) Todos tinham igrejas em Roma. Em muitas dioceses se inseriram muitos santos próprios, p.ex., em Ruão 23.

A oração Communicantes outrora estava escrita fora do cânon. A rubrica: infra accionem indicava que se devia rezar durante o cânon.

Communicántes, et memóriam venerántes, in primis gloriósæ semper Vírginis Maríæ, Genitrícis Dei et Dómini nostri Jesu Christi: sed et beáti Joseph, ejúsdem Vírginis Sponsi, et beatórum Apostolórum ac Mártyrum tuórum, Petri et Pauli, Andréæ, Jacóbi, Joánnis, Thomæ, Jacóbi, Philíppi, Bartholomaéi, Mattáei, Simónis, et Thaddaéi, Lini, Cleti, Cleméntis, Xysti, Cornélii, Cypriáni, Lauréntii, Chrysógoni, Joánnis et Pauli, Cosmæ et Damiáni, et ómnium Sanctórum tuórum; quorum méritis precibúsque concédas, ut in ómnibus protectiónis tuæ muniámur auxílio. Per eúmdem Christum Dóminum nostrum. Amen.
Unidos na mesma comunhão, honramos a memória, em primeiro lugar, da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor Nosso Jesus Cristo, e também de S. José, o Esposo da mesma Virgem, e dos vossos bem-aventurados Apóstolos e Mártires, Pedro e Paulo, André, Tiago, João, Tomé, Tiago, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Simão e Tadeu, Lino, Cleto, Clemente, Sixto, Cornélio, Cipriano, Lourenço, Crisógono, João e Paulo, Cosme e Damião, e de todos os vossos Santos. Por seus méritos e preces, concedei sejamos sempre fortalecidos com o vosso auxílio e proteção. Por Jesus Cristo, Senhor nosso. Ámen.

“Hanc igitur”

Hanc igitur. Animado pela enumeração dos santos e pela esperança no seu auxílio, o celebrante renova o seu pedido: Portanto, aceitai esta oferta (servitutis = servorum tuorum, celebrantis et cleri) dos Vossos servos e de todos os fiéis (familiae tuae), dai-nos a paz, livrai-nos do inferno e alistai-nos em o número dos eleitos (uma alusão aos dípticos, que tinham também o nome de líber vitae). Ao Hanc igitur o celebrante põe as mãos sobre as oblatas, gesto que indica o caráter expiatório do santo sacrifício, muito usado no antigo testamento. Significa também que o C oferece a sua pessoa a Deus, para adorá-Lo, implorá-Lo e agradecer-Lhe. Apesar de ser representada esta cerimônia numa cena eucarística do III século, foi introduzida na missa só no século XV.


Hanc ígitur oblatiónem servitútis nostræ, sed et cunctæ famíliæ tuæ, quaésumus, Dómine, ut placátus accípias: diésque nostros in tua pace dispónas, atque ab ætérna damnatióne nos éripi, et in electórum tuórum júbeas grege numerári. Per Christum Dóminum nostrum. Amen.
Esta oblação, que nós, vossos servos, e toda a vossa família, Vos oferecemos, aceitai-a, Senhor, benignamente; firmai na paz os dias da nossa vida, livrai-nos da eterna condenação e ordenais sejamos contados na sociedade dos vosso eleitos. Ámen.

“Quam oblationem”

“Em prosseguimento, vem a própria consagração. 1º. O sacerdote pede o efeito da consagração, quando diz: “Quam oblationem tu Deus” (“Nós Vos pedimos, ó Deus, que Vos digneis abençoar esta oblação, etc.”). 2º. Ele realiza a consagração por meios das palavras do Salvador, ao dizer: “Qui pridie, etc.” [e propriamente ao repetir a fórmula da Consagração feita por Cristo] (“E no dia anterior à Paixão, etc.”). 3º. Ele se escusa por tal presunção, recorrendo à obediência à ordem de Cristo quando diz: “Unde et memores” (“Por isso, recordando, etc.”). 4º. Pede que este sacrifício, que acaba de ser realizado, seja agradável a Deus, dizendo: “Supra quae propitio, etc.” (“Dignai-Vos, Senhor, olhar com bondade e misericórdia para estes dons, etc.”). 5º. Pede o efeito deste sacrifício e sacramento: primeiramente para quem vai participar dele, ao dizer: “Suplicces te rogamus, etc.” (“Nós Vos suplicamos, etc.”); depois para os defuntos, que já não podem participar, quando diz: “Memento etiam, Domine, etc.” (“Lembrai-Vos também, Senhor, etc.”); depois ainda e de modo especial, para os próprios sacerdotes que celebram, ao dizer: “Nobis quoque peccatoribus, etc.” (“A nós também pecadores, etc.”)” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.4).

As palavras que se seguem ao Hanc igitur são as mais antigas e essenciais, porque incluem o ato sacrifical do Sumo e Eterno Sacerdote Jesus Cristo.

O Quam oblationem: Quam (= et hanc) oblationem está em nexo gramatical e lógico com a oração Hanc igitur, reassumindo a sua idéia e forma, pela quíntupla gradação, uma transição belíssima ao majestoso ato da consagração. A Esposa de Cristo pede que Deus se digne tornar as oblatas 1) bentas (com palavras); 2) Adscritas (recebidas como por escrito, pautal); 3) ratificadas (recebidas como por contrato); 4) racionais, i.é, legítimas (ideais, consoante à razão divina e humana a respeito do verdadeiro sacrifício); 5) aceitáveis pela infinita majestade de Deus (dignas de serem aceitas, agradáveis). As oblatas são consideradas em estado cada vez mais perfeito, até que se tornem corpo e sangue do Senhor.

Qual poderia ser a fonte destas cinco palavras misteriosas? A resposta dá-nos a célebre profecia de Malaquias sobre o sacrifício da missa (1, 6-14).

V. 6-7. Deus se queixa dos sacrifícios antigos polutos. A igreja pede que as oblatas se tornem imunes de tôda mancha — benedictam, bentas.

V. 8-9. Deus repele do seu altar os animais cegos e imprestáveis, excluídos da lista dos animais aprovados. -- A Igreja suplica que as oblatas sejam incluídas na lista dos sacrifícios admitidos – adscriptam, recebidas.

V. 10. Deus não aprova (non est mihi voluntas in vobis) nem ratifica os sacrifícios antigos. — A Igreja roga que as oblatas sejam aprovadas — ratam, recebidas por contrato.

V. 11. Deus não quer mais sacrifícios restringidos a um só povo (in omni loco) porque não correspondem ao ideal do verdadeiro sacrifício. — A Igreja insta que as oblatas se tornem o sacrifício ideal — rationabilem, consoante o conceito divino do sacrifício.

V. 12-14. Deus, movido por santo zêlo, lança a maldição (Maledictus dolosus) sôbre os sacrifícios imundos, inaceitáveis à tremenda Majestade divina. A Igreja roga que as suas oblatas sejam aceitáveis.

Acresce que esta profecia precede à realização na consagração: Qui pridie... E logo depois da consagração são mencionadas três profecias figurativas da S. Eucaristia: Abel, Abraão e Melquisedeque. Seria quase para estranhar se a profecia de Malaquias não se achasse no cânon. Estas cinco palavras são, portanto, o resumo da profecia de Malaquias, a sua cristalização genial.

O Quam oblationem. Esta oração pode ser chamada a epiclese do Ocidente. As últimas palavras: "Vosso Filho diletíssimo, Nosso Senhor Jesus Cristo" profere-as o celebrante levantando os braços abertos para o céu, juntando as mãos e abaixando-as como que para abraçar a Vítima divina que desce ao altar.

“Não há inconveniência em pedirmos a Deus aquilo que sabemos que ele certissimamente fará, como Cristo pediu a sua glorificação.
Contudo, não se vê aí que o sacerdote reze para que se realize a consagração, mas para que nos seja frutuosa. Daí ele dizer expressamente “ut nobis corpus et sanguis fiat, etc.” (“a fim de se tornar para nós o Corpo e o Sangue, etc.”). Segundo Agostinho, tal é o sentido das palavras que ele pronuncia antes: “Hanc oblationem facere digneris benedictam” (“Dignai-Vos, ó Pai, aceitar e santificar esta oferenda”): “per quam benedicimur” (“pela qual somos abençoados”), a saber pela graça; ”adscriptam” (“confirmada”), isto é, “pela qual somos inscritos no Céu”; “ratam” (“ratificada”), isto é, “pela qual somos reconhecidos como fazendo parte de Cristo”; “rationabilem” (“racional”), isto é, “pela qual somos despojados do sentido carnal”; “acceptabilem” (“aceitável”), isto é, “para que nós, que nos desgostamos de nós mesmos, sejamos por ela agradáveis ao seu único Filho” ”
(Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.5 ad8).

Quam oblatiónem tu, Deus, in ómnibus, quaésumus, benedíctam, adscríptam, ratam, rationábilem, acceptabilémque fácere dignéris: ut nobis Córpus, et Sanguis fiat dilectíssimi Fílii tui Dómini nostri Jesu Christi.

Dignai-Vos, Senhor, fazer que esta oblação seja em tudo abençoada, aprovada, ratificada, espiritual e digna da vossa aceitação, e se torne para nós Corpo e Sangue do vosso diletíssimo Filho e Senhor nosso Jesus Cristo.

“2ª etapa da Paixão: A venda de Cristo. Com efeito, Cristo foi vendido aos sacerdotes, escribas e fariseus. Para simbolizá-la, o celebrante faz de novo três sinais da cruz, dizendo: “benedictam, adscriptam, ratam” (“abençoada, confirmada, ratificada”). Ou para expressar o preço da venda, a saber trinta denários. E se acrescentam dois sinais da cruz, ao se pronunciar as palavras: “ut nobis Corpus et Sanguis” (“a fim de se tornar para nós o Corpo e o Sangue”), para significar a pessoa de Judas que vendeu e a de Cristo que foi vendido”
(Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83 a.5 ad3).

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