24 de janeiro de 2010

SANTA MISSA EXPLICADA - PARTE 7

MISSA DE SÃO PIO V EXPLICADA



Fontes:
- Explicações sobre as partes da Missa: "Curso de Liturgia" - Pe.Reus;
- Citações: "Suma Teológica", de Santo Tomás de Aquino; "Missal Quotidiano e Vesperal", de Dom Gaspar Lefebvre; "Concílio de Trento"; e "Catecismo Romano";


PARTE VII - A CONSAGRAÇÃO






“Logo depois da consagração estão o verdadeiro corpo de Nosso Senhor e seu verdadeiro sangue conjuntamente com sua alma e sua divindade, sob as espécies de pão e de vinho, isto é, seu corpo sob a espécie de pão e seu sangue sob a espécie de vinho, por força das palavras mesmas; mas o mesmo corpo também [está] sob a espécie de vinho, e o sangue sob a espécie de pão, e a alma sob uma e outra, por força daquela natural conexão e concomitância, com que as partes de Cristo Nosso Senhor, que já ressuscitou dos mortos para nunca mais morrer (Rom 6, 9), estão unidas entre si; e a divindade por causa daquela sua admirável união hipostática com o corpo e a alma [cân. l e3]. Assim, é bem verdade que tanto uma como outra espécie contêm tanto quanto as duas espécies juntas. Pois o Cristo todo inteiro está sob a espécie de pão e sob a mínima parte desta espécie, bem como sob a espécie de vinho e sob qualquer das partes desta espécie” (Concílio de Trento, sess XIII, cap.3).

“Pela consagração do pão e do vinho se efetua a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo Nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue. Esta conversão foi com muito acerto e propriedade chamada pela Igreja Católica de transubstanciação”. (Concílio de Trento, sess XIII, cap.4).

O Qui pridie. Recitou o celebrante as orações precedentes em nome da Igreja e em nome de Jesus Cristo. Agora fala nêle Jesus Cristo pessoalmente, como diz S. Ambrósio (De myst. c. 9) : Ipse Christus clamat: Hoc est corpus meum. Pois o celebrante faz e diz o mesmo que diz e faz o Redentor divino. Toma na mão o pão e o cálix, benze-os e profere as palavras da consagração não em terceira, mas em primeira pessoa.

A narração histórica da instituição e as palavras da consagração não são iguais em todos os seus pormenores nem nos evangelhos nem em tôdas as Liturgias. Na Liturgia romana foram acrescentadas algumas palavras que ensinam o que Nosso Senhor provavelmente fêz: p.ex., gratias agens benedixit; in sanctas ac venerabiles manus suas; elevatis oculis in coelum ad te Deum Patrem suum omnipotentem. Profundamente inclinado, o celebrante profere as santas palavras da consagração, adorando imediatamente a Vítima divina presente sob as santas espécies.

A atual elevação das santas espécies, para serem adoradas, foi introduzida pouco a pouco pelos fins do século XII. Por muito tempo só a santa hóstia se elevava e era adorada pelo povo com a inclinação da cabeça; na primeira metade do século XIV, também o cálix começou a ser venerado do mesmo modo. A genuflexão em sinal de adoração é conhecida desde o princípio do século XVI. A grande elevação, mesmo durante a consagração, generalizou-se também pelo motivo de tornar a consagração centro visível da missa. A incensação do SS. Sacramento durante a elevação apareceu no século XIII, e generalizou-se nos séculos XIV e XV.

Qui prídie quam paterétur, accépit panem in sanctas ac venerábiles manus suas, et elevátis óculis in cælum ad te Deum Patrem suum omnipoténtem, tibi grátias agens, benedíxit, fregit, dedítque discípulis suis, dicens: Accípite, et manducáte ex hoc omnes.

« Hoc est enim Corpus meum »

Símili modo postquam cænátum est, accípiens et hunc præclárum Cálicem in sanctas ac venerábiles manus suas: item tibi grátias agens, benedíxit, dedítque discípulis suis, dicens: Accípite, et bíbite ex eo omnes

« Hic est enim Calix Sánguinis mei, novi et ætérni testaménti : mystérium fídei : qui pro vobis et pro multis effundétur in remissiónem peccatórum. »

Hæc quotiescúmque fecéritis, in mei memóriam faciétis.

Ele, na véspera de sua paixão, tomou o pão em suas santas e veneráveis mãos, e elevando os olhos ao céu para vós, ó Deus, seu Pai onipotente, dando-vos graças, benzeu-o, partiu-o e deu-o a seus discípulos, dizendo: Tomai e Comei Dele, Todos.

« Isto é o Meu Corpo »

De igual modo, depois de haver ceado, tomando também este precioso cálice em suas santas e veneráveis mãos, e novamente dando-vos graças, benzeu-o e deu-o a seus discípulos, dizendo: Tomai e Bebei Dele Todos.

« Este é o Cálice do meu Sangue, do novo e eterno Testamento : mistério de fé : que será derramado por vós e por muitos para remissão dos pecados. »

Todas as vezes que isto fizerdes, fazei-o em memória de mim.

“Que o verdadeiro Corpo e Sangue de Cristo estejam no sacramento não se pode apreender pelo sentido, mas somente pela fé, que se apoia na autoridade divina. Por isso, o texto do Evangelho de Lucas “Isto é o meu Corpo dado por vós” (Lc XXII, 19) é comentado por Cirilo: “Não duvides que seja verdade, mas antes aceita as palavras do Salvador na fé: pois, sendo a verdade, não mente”.
1º. Isto está de acordo, primeiramente, com a perfeição da Nova Lei. Pois, os sacrifícios da antiga lei continham este verdadeiro sacrifício da paixão de Cristo, somente em figura, como se diz na Carta aos Hebreus: “Possuindo apenas o esboço dos bens futuros, e não a expressão mesma das realidades” (Hb X, 1). Por isso, foi necessário que o sacrifício da Nova Lei, instituído por Cristo, tivesse algo a mais, a saber que ele contivesse a Cristo na sua paixão, não somente no significado e na figura, mas também na verdade da realidade. E, por isso, este sacramento, que contém realmente o próprio Cristo, como diz Dionísio, “é a perfeição de todos os outros sacramentos”, nos quais a força de Cristo é participada.
2º. Isto convém à caridade de Cristo, pela qual ele assumiu um verdadeiro corpo humano em vista de nossa salvação. E porque é muitíssimo próprio da amizade, segundo Aristóteles, conviver com os amigos, ele nos prometeu em recompensa a sua presença corporal, como está no Evangelho de Mateus: “Onde quer que esteja o cadáver, ali se reunirão os abutres” (Mt XXIV, 28). Neste interim, porém, não nos privou de sua presença corporal nesta nossa peregrinação, mas pela verdade de seu Corpo e Sangue uniu-nos a si nesse sacramento. Ele mesmo diz: “Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo VI, 57). Por isso, este sacramento é o sinal de maior caridade e reconforto de nossa esperança por causa da união tão familiar de Cristo conosco.
3º. Isto convém à perfeição da fé, que se refere tanto à divindade de Jesus quanto a sua humanidade, como diz o Evangelho: “Vós credes em Deus, crede também em mim” (Jo XIV, 1). E porque a fé trata de realidades invisíveis, como Cristo nos manifesta invisivelmente a sua divindade, assim também neste sacramento nos manifesta a sua carne de modo invisível.
Não atinando com isto, alguns afirmaram que o Corpo e Sangue de Cristo não está nesse sacramento a não ser como em sinal. O que se deve rejeitar como herético, já que contrário às palavras de Cristo
(Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.75, a.1)

“3ª etapa da Paixão: A prefiguração da paixão de Cristo feita na ceia. Para designá-la, fazem-se uma terceira vez dois sinais da cruz, um na consagração do Corpo e o outro na do Sangue, quando em ambos os casos se diz a palavra “benedixit” (“abençoou”)” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.5 ad3).
I. As palavras para a consagração do pão (Catecismo Romano)

“Consoante a doutrina dos Evangelistas São Mateus e São Lucas, bem como do Apóstolo São Paulo (Mt XXVI, 26; Lc XXII, 19; I Cor XI, 24), sabemos que essa forma consiste nas seguintes palavras: “Isto é o meu Corpo”. Pois está escrito: “Quando estavam na ceia, tomou Jesus o pão, benzeu-o, partiu-o, e deu-o aos Seus Discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é o meu Corpo” (Mt XXVI, 26).

Esta forma de consagração, a Igreja Católica sempre a empregou, por ser a que Cristo Nosso Senhor havia observado. E aqui deixamos de parte os testemunhos dos Santos Padres, cuja enumeração seria um nunca acabar, e o decreto do Concílio de Florença, por bastante conhecido e acessível a quantos o queiram consultar. Se assim procedemos, é porque se pode também inferir a mesma verdade daquelas palavras de Nosso Salvador: “Fazei isto em memória de Mim”.

Aquilo, pois, que Nosso Senhor dera ordem de fazer, deve referir-se não só ao que Ele havia feito, mas também ao que Ele havia dito. Isto deve, sobretudo, entender-se das palavras que Ele proferira, tanto para significar, como para produzir o efeito sacramental.

O mesmo se pode facilmente demonstrar à luz da razão.

Forma é aquilo que significa o efeito operado por este Sacramento. Ora, como as palavras citadas declaram, de maneira explícita, o efeito que se opera, isto é, a conversão do pão no verdadeiro Corpo de Nosso Senhor, segue-se, portanto, que elas mesmas constituem a forma da Eucaristia. Nesse sentido se deve tomar a expressão do Evangelista: “benzeu-o”. Era como se dissesse: “Ele tomou o pão, benzeu-o, pronunciando as palavras: Isto é o meu Corpo”.

O Evangelista refere antes as palavras: “Tomai e comei”. Sabemos, porém, que estas palavras não designam a consagração da matéria, mas apenas o uso que se deve fazer do Sacramento.

O sacerdote tem a estrita obrigação de pronunciá-las, mas não são de valor essencial para a realização do Sacramento. O mesmo se diga da conectiva “pois”, na consagração do pão e do vinho.

Do contrário, não seria lícito consagrar o Sacramento, quando não houvesse a quem administrá-lo. No entanto, ninguém pode contestar que o sacerdote consagra realmente a matéria apta do pão, todas as vezes que profira as palavras de Nosso Senhor, ainda que não na mesma ocasião não administre a ninguém a Sagrada Eucaristia”.

II. As palavras para a consagração do vinho

“Pelas mesmas razões já alegadas, deve o sacerdote ter uma perfeita noção da forma para consagrar o vinho, que é a segunda matéria deste Sacramento.

Devemos crer, com inabalável certeza, que ela está contida nas seguintes palavras: “Este é o Cálice do Meu Sangue, da nova e eterna Aliança, Mistério da fé, o qual por vós e por muitos será derramado, em remissão dos pecados” (Cânon da Missa).

Destas palavras, muitas foram tiradas das Sagradas Escrituras, algumas, porém, são conservadas pela Igreja, em virtude da Tradição Apostólica:

Senão vejamos. “Este é o Cálice” - são palavras escritas por São Lucas e pelo Apóstolo São Paulo (Lc XXII, 20; I Cor XI, 25). O que vem a seguir: “do Meu Sangue”, ou “Meu Sangue da Nova Aliança, o qual por vós e por muitos será derramado em remissão dos pecados” - são palavras que se acham parte em São Lucas, parte em São Mateus (Lc XXII, 20; Mt XXVI, 28). As palavras “da eterna Aliança” e “Mistério da fé”: foram-nos comunicadas pela Sagrada Tradição, que é a medianeira e zeladora da verdade católica.

Ninguém poderá contestar a exatidão desta forma, se também aqui tiver em vista o que já foi dito acerca da consagração da matéria do pão. Pois certo é que nas palavras que exprimem a conversão do vinho no Sangue de Cristo Nosso Senhor, está contida, pois, a forma correspondente a esta matéria. Ora, como aquelas palavras a exprimem claramente, é de toda a evidência que se não deve estabelecer outra forma.

Além disso, essas palavras exprimem certos efeitos admiráveis do Sangue derramado na Paixão de Nosso Senhor, efeitos que estão na mais íntima relação com este Sacramento. O primeiro é o acesso à eterna partilha, cujo direito nos advém da “nova e eterna Aliança”. O segundo é o acesso à justiça pelo “Mistério da fé”; porquanto Deus nos propôs Jesus como vítima propiciatória, mediante a fé em Seu Sangue, para que Ele mesmo seja justo e justifique a quem acredita em Jesus Cristo. O terceiro é a remissão dos pecados.

Como estas palavras da Consagração do vinho encerram um sem-número de Mistérios, e são muito adequadas ao que devem exprimir, força é considerá-las com mais vagar e atenção.

Quando pois se diz: “Este é o Cálice do Meu Sangue” – cumpre entender “Este é o Meu Sangue, que está contido neste cálice”. Como aqui se consagra sangue, para ser bebida dos fiéis, é oportuno e acertado fazer-se menção do cálice. O sangue como tal não lembraria bastante a idéia de bebida, se não estivesse colocado num recipiente.

Acrescentam-se depois as palavras “da Nova Aliança”, para compreendermos que o Sangue de Cristo Nosso Senhor é dado aos homens, em sua absoluta realidade, pela razão de pertencer à Nova Aliança; não somente em figura, como acontecia na Antiga Aliança, da qual contudo lemos, na epístola do Apóstolo aos Hebreus, não ter sido selada sem sangue.

Nesse sentido é que o Apóstolo explicou: “Pois isso mesmo”, Cristo “é Mediador” da Nova Aliança, para que, intervindo a Sua morte, recebam a promessa da herança eterna os que a ela foram chamados” (contração de Hb IX, 15).

O adjetivo “eterna” refere-se à herança eterna, que legitimamente nos cabe pela morte de Cristo Senhor Nosso, o eterno Testador.

A cláusula “Mistério da fé” não tem por fim excluir a verdade objetiva; significa que devemos crer, com fé inabalável, o que nele se oculta, de maneira absolutamente inacessível à vista humana.

Mas estas palavras não têm aqui o mesmo sentido, que se lhes atribui também com relação ao Batismo. Fala-se, pois, de “Mistério da fé”, porque só pela fé vemos o Sangue de Cristo, velado que está na espécie de vinho. Como, porém, o Batismo abrange toda a profissão da fé cristã, temos razão em chamá-lo “Sacramento da fé”, o que corresponde ao “mistério” dos gregos.

Existe, ainda, outro motivo de chamarmos “Mistério da fé” ao Sangue de Cristo. A razão humana oferece muita dificuldade e relutância, quando a fé nos propõe a crer que Cristo Nosso Senhor, verdadeiro Filho de Deus, sendo Deus e Homem ao mesmo tempo, sofreu a morte por amor de nós. Ora, esta morte é juntamente representada pelo Sacramento do Seu Sangue.

Em vista deste fato, era bem comemorar-se aqui, e não na Consagração do Seu Corpo, a Paixão de Nosso Senhor, mediante as palavras “que será derramado em remissão dos pecados”. Consagrado separadamente, o Sangue tem mais força e propriedade, para revelar, aos olhos de todos, a Paixão de Nosso Senhor, a Sua Morte, a modalidade de Seu sofrimento.

As palavras que se ajuntam “por vós e por muitos”, foram tomadas parte de São Mateus, parte de São Lucas (Mt XXVI, 28; Lc XXII, 20). A Santa Igreja, guiada pelo Espírito de Deus, coordenou-as numa só frase, para que exprimissem o fruto e a vantagem da Paixão.

De fato, se considerarmos sua virtude, devemos reconhecer que o Salvador derramou Seu Sangue pela salvação de todos os homens. Se atendermos, porém, ao fruto real que os homens dele auferem, não nos custa compreender que sua eficácia se não estende a todos, mas só a “muitos” homens.

Dizendo, pois, “por vós”, Nosso Senhor tinha em vista, quer as pessoas presentes, quer os eleitos dentre os Judeus, como o eram os Discípulos a quem falava, com exceção de Judas.

No entanto, ao acrescentar “por muitos”, queria aludir aos outros eleitos, fossem eles Judeus ou gentios. Houve, pois, muito acerto em não se dizer “por todos”, visto que o texto só alude aos frutos da Paixão, e esta sortiu efeito salutar unicamente para os escolhidos.

Tal é o sentido a que se referem aquelas palavras do Apóstolo: “Cristo imolou-Se uma só vez, para remover totalmente os pecados de muitos” (Hb II, 28) e as que disse Nosso Senhor no Evangelho de São João: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por estes que Vós me destes, porque eles são Vossos” (Jo XVII, 9).

Nestas palavras da Consagração do vinho vão ainda muitos outros Mistérios. Com a graça de Deus, poderão os pastores facilmente descobri-los, se fizerem assídua e aturada meditação das coisas divinas”.

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