12 de janeiro de 2010

Quarto colóquio entre a Alma e Jesus Sacramentado, para recolher-se antes e após a Comunhão

Atônita a Alma por tanto benefício, dá graças a Jesus Sacramentado.

Ó altitude da Divina Sabedoria! Ó profundidade dos divinos juízos! Que é isto, Senhor, que fazeis com este verme da terra, com este vilíssimo pó e cinza? Vós, em meu coração? Vós, em minhas entranhas? Atônita ficou a Mãe de Vosso Precursor, só por ver entrar em sua casa Vosa Santíssima Mãe. Pois que direi eu, agora, vendo-Vos, a Vós Que sois Seu Filho e meu Criador, não em minha casa, mas encerrado dentro de meu peito? O Batista deu saltos de prazer à Vossa vita e presença, e não teve, como eu, a dita de ver Vossa divina face, nem abrasar-se com Vosso adorável Corpo. E se ele, com as ânsias de ver-Vos, queria rompar as prisões do materno claustro, que o detinham, que faria se Vos visse, como eu, dentro de seu coração prisioneiro?
Pasmaram, naqueles séculos, de ver um rei faraó sentar em seu trono um José; de ver um rei Assuero prometer a metade de seu reino a Ester. Pois que direi eu, agora, ó Rei dos reis, vendo que me entronizais em Vosso peito, que me vestis com a púrpura de Vossa Carne, e que me prometeis, ó Grão Monarca, não parte de Vosso Reino, senão Vós mesmo? Ah! coração feliz! Que cifras são essas do divino amor, que eu leio dentro de ti? Que livro é este, todo escrito com caracteres do Sangue vivo do Divino Cordeiro, Que só Ele selou, e só o pode abrir? Eu, Senhor, não entendo estes enigmas de Vossa Sabedoria: dai-me Vós a conhecer este arcano de Vosso amor. Ensinai-me como viveis dentro do peito de Vosso Eterno Pai, e como viveis agora dentro de mim. Como, não cabendo nos Céus, cabeis em mim. Como, sendo limitados para hospedar-Vos infinitos mundos, alojai-Vos dentro de mim.
Não bastava, ó Divino Amante, terdes-me infundido esta Alma com o alento de Vosso Soberano Espírito, senão virdes também agora lavá-la nas fontes de fosso Sangue? Não bastava ter-me dado o ser humano, fazendo-me, do nada, homem, senão virdes também a dar-me Vosso ser divino, elevando-me a ser Deus? Tão bem vos foi, Senhor, unir-Vos a uma natureza mortal, na qual não experimentastes mais que tormentos, dores e agravos? Ainda voltais ao mundo, Sacramentado, para incorporar-vos neste coração, que não pode dar-Vos mais que fel, e crucificar-Vos mil vezes?
Ah! Deus de amor! Ainda vindes conversar com esta criatura ingrata? Ainda há de meter con'Vosco a mão no prato este traidor, e comer Vosso Pão este desleal? Por que, meu Jesus, Vos fiais ainda de mim, que tantas vezes Vos hei ofendido? Já Vos esquecestes de quem sou eu, e dos agravos que Vos fiz, porque, ao invés de fugir de mim, vindes morar dentro de mim? Ó Bondade! Ó Paciência infinita! Agora, pois, adorado Jesus meu, Vós, Que sois a Divina Palavra, dizei-Vos a Vós mesmo o que não pode nem sabe dizer minha rudeza. Exaltai-Vos, Senhor, a Vós mesmo, por estes excessos de Vosso amor, que eu, à vista de tantos benefícios, só posso confundir-me em minhas misérias, e cantar para sempre vossas misericórdias.

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