3 de janeiro de 2010

SANTA MISSA EXPLICADA - PARTE 5

A MISSA DE SÃO PIO V EXPLICADA



Fontes:
- Explicações sobre as partes da Missa: "Curso de Liturgia" - Pe.Reus;
- Citações: "Suma Teológica", de Santo Tomás de Aquino; e "Missal Quotidiano e Vesperal", de Dom Gaspar Lefebvre;





PARTE V - PREFÁCIO E CÂNON



“Continuando, a respeito da “consagração”, que se realiza por força sobrenatural, os fiéis, antes de tudo, são incitados à devoção no “prefácio”. Daí o sentido da admonição “sursum corda”, “habemus ad Dominum” (“corações ao alto”, “o nosso coração está em Deus”). Assim, depois do prefácio, os fiéis louvam com devoção a divindade de Cristo, unindo-se aos anjos, dizendo “Sanctus, Sanctus, Sanctus” (“Santo, Santo, Santo”); e a humanidade de Cristo, com as crianças, proclamando: “Benedictus qui venit” (“Bendito aquele que vem”). Prosseguindo, 1º. O sacerdote recorda, em silêncio, aqueles pelos quais o sacrifício da missa é oferecido, a saber a Igreja universal e aqueles que “detêm a autoridade” (I Tm II, 2), e especialmente “aqueles que oferecem o sacrifício e por quem ele é oferecido”. 2º. Ele recorda os santos, cuja intercessão invoca por aqueles que acabamos de indicar, ao dizer: “Communicantes et memoriam venerantes, etc.” (“Unidos em comunhão, e venerando, etc.”). 3º Conclui o seu pedido ao dizer: “Hanc igitur oblationem, etc.” (“Dignai-Vos, pois, aceitar, Senhor, com bondade, esta oblação, etc.”), afim de que seja salutar para aqueles por quem é oferecida” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.4).

O prefácio e o cânon formam uma única oração solene, a oração eucarística, no decurso da qual se efetua: a ação propriamente sacrifical, a consagração. Por isso chamaram-na outrora ação, actio. Outros explicam o termo actio por gratiarum actio, ou por contração de Sacrum agere, sacrificar.

A oração eucarística primitiva com Amen só no fim do cânon, pouco a pouco foi interrompida por várias orações intercaladas antes e depois da consagração, cada uma com a conclusão: Amen. Assim não é mais uma única oração. Mas é um cânon mais perfeito. Pois estas preces acrescentadas pelos vivos e defuntos constituem um aperfeiçoamento indubitável. Em nenhum lugar, segundo o pensar piedoso dos fiéis, tem mais eficácia do que bem perto da consagração, pela qual o Rei desce para o altar. Por isso diz Bento XIV muito acertadamente (de sacr. miss. II c. 12, n. 6): "0 cânon nada perde da sua autoridade pela circunstância de ser composto por mais de um autor. Pois também o livro dos salmos é jóia de livro, embora tenha muitos autores."

O missal chama prefácio a parte que contém a ação de graças e o louvor da divina Majestade; a segunda parte, desde o século VI, chama-se cânon, i. é, regra ou regulamento invariável para a ação sacrifical. Esta oração eucarística solene acha-se em todos os ritos, remonta por conseguinte à primitiva igreja.

Atualmente canta-se só o prefácio e o Sanctus. Mas outrora também o cânon era cantado de simili voce ac melodia como o prefácio, diz um ordo do século VII. No século IX já era costume rezar o cânon em voz baixa. Durandus alega como motivo (IV, c. 35, n. 6) o recolhimento do celebrante facilmente estorvado pelo canto, o cansaço do sacerdote pelo canto cada vez mais prolongado pelo acréscimo de novas orações e o perigo de profanação das santas palavras, que, sendo sempre ouvidas, se repetiam nas ruas e em ocasiões pouco decentes. Além disso o cânon foi chamado "oração própria dos sacerdotes". Por isso o celebrante a profere em voz baixa, excluindo assim o chamado sacerdócio geral dos hereges. Seria este o motivo por que o concilio de Trento prescreve expressamente a recitação do cânon em voz baixa, contra os inovadores, contrários ao sacerdócio especial católico. (Sess. 22, can. 9.)

I. Prefácio

O prefácio (praefatio, contestatio, immolatio) é a introdução solene ao cânon, a ação sacrifical. É um hino de louvor e de ação de graças pelos benefícios gerais e, em certos tempos e festas, pelos benefícios especiais recebidos de Deus. É uma das orações mais antigas e mais belas, mormente pela melodia que faz vibrar o coração de alegria e gozo indescritíveis.

Para esta beleza musical contribui muito a beleza literária, em que se esmeram as orações da Igreja em geral, às quais pertence também o prefácio. Os seus autores imitaram os antigos oradores, que mais brilharam pela cuidadosa escolha e feliz coordenação das palavras, conseguindo assim um andamento rítmico da frase, chamado cursus. Distinquem-se a) o curso métrico, que consiste na coordenação métrica das sílabas; b) o curso rítmico, em que a harmonia da frase resulta da simetria dos seus membros de comprimento quase igual, sem atender à prosódia, e empregando só dátilos e espondeus. Exemplos disto são, segundo Piacenza (Liturgia, p. 139) as orações de Pio V, S. Inácio de Loiola, S. Francisco Xavier.

De beleza rara é o prefácio da festa do Sagrado Coração de Jesus.

1. Qui Unigénitum túum in Crúce pendéntem
1. láncea militis transfigi voluisti
(o dátilo moderado pelo espondeu, como convém à introdução do dogma).
2. út apértum cór
(é frase lapidar; indica o fato principal; por isso está em espondeus. A última sílaba é constituída por uma palavra inteira e ao mesmo tempo é a palavra principal. A frase pára bruscamente, quase pintando o golpe da lança.)
3. Divinae largitatis sacrarium
(é a larga chaga aberta)
4. Torréntes nóbis fúnderet miseratiónis et grátiae
(brotam os jorros de sangue como uma torrente)
4. Et quód amóre nóstri flagráre núnquam déstitit
(vêem-se as chamas uma depois da outra elevarem-se ao alto)
3. Piis esset requies
(o descanso)
5. Et paeniténtibus patéret salútis refúgium.
(5 dátilos rítmicos. Vêem-se correndo os pecadores a esta fonte de salvação.)

Antigamente o número dos prefácios era muito grande. O sacramentário Leonino conta 267, o missal atual 15. A igreja oriental conhece só dois: das anáforas de S.Crisóstomo e de S. Basílio.

Por mais de 1300 anos, desde S. Gregório Magno, a igreja romana, fora do prefácio comum, tinha 9 prefácios: para o natal, a epifania, a quaresma, o tempo da paixão, a páscoa, a ascensão, o pentecostes, a SS. Trindade e os apóstolos, desde 1095 a de Maria Santíssima. Somente em 1919 Bento XV acrescentou o dos defuntos. Três outros vieram depois.

A introdução ao prefácio já é usada na chamada "Tradição apostólica" de S. Hipólito (200-230). Dominus cum omnibus vobis — Cum spiritu tuo. Sursum corda, — Habemus ad Dominum. Gratias agamus Domino. — Dignum et justum. O Sursum corda é um convite expressivo para atender especialmente à vinda do Senhor na consagração, parte essencial da reunião litúrgica.

No fim dos prefácios menciona-se sempre o coro dos anjos. Desta maneira passa-se ao Sanctus, hino angélico, em uso na sinagoga e adotado pela Igreja. Acha-se em quase todas as liturgias. Lembra a majestade de Jesus Cristo, que em breve há de comparecer no altar.

O Hosana com o Benedictus foi introduzido na Liturgia provavelmente em Jerusalém, onde pela primeira vez com estes termos aclamaram a Nosso Senhor. Hosana quer dizer: dá salvação. Foi expressão de aclamação. Toda a frase quer dizer: Glória a quem está nas alturas. Bem-vindo o que vem chegando em nome do Senhor. Glória Àquele que está nas alturas, mas que em breve estará aqui.

O Sanctus primitivamente era cantado pelo povo. Por isso não estranha serem as melodias, p.ex., da missa de réquie, que se conservaram intactas, muito simples. Tocam-se ao Sanctus as campainhas, tanto para avisar ao povo do momento santo da consagração como em sinal de alegria pela vinda do Rei da Glória. Para saudar o Deus eucarístico nas missas solenes 2-4 acólitos ficam ajoelhados com as velas acesas até depois da consagração, se houver distribuição da s. comunhão, até depois desta função. O Benedictus canta-se depois da consagração como saudação jubilosa.
*Exemplo de Prefácio, do Sagrado Coração de Jesus, antecedido pela introdução e seguido pelo Sanctus:

Dóminus vobíscum.
R. Et cum spíritu tuo.
Sursum corda.
R. Habémus ad Dóminum.
Grátias agámus Dómino Deo nostro.
R. Dignum et justum est.

Vere dignum et justum est, aequum et salutáre, nos tibi semper, et ubíque grátias ágere: Dómine sancte, Pater omnípotens, aetérne Deus: Qui Unigénitum tuum in cruce pendéntem láncea mílitis transfígi voluísti, ut apértum Cor, divínae largitátis sacrárium, torréntes nobis fúnderet miseratiónis et grátiae, et quod amóre nostri flagráre numquam déstit, piis esset réquies et paeniténtibus patéret salútis refúgium. Et ídeo cum Angelis et Archángelis, cum Thronis et Dominatiónibus, cumque omni milítia caeléstis exércitus, hymnum glóriae tuae cánimus, sine fine dicéntes:
Sanctus, Sanctus, Sanctus, Dóminus Deus Sábaoth.
Pleni sunt cæli et terra glória tua. Hosánna in excélsis.
Benedíctus, qui venit in nómine Domini. Hosánna in excélsis.

O Senhor seja convosco.
R. E também com o teu espírito.
Corações ao alto!
R. Assim os temos, levantados para o Senhor.
Demos graças ao Senhor nosso Deus.
R. Digno e justo é.

É verdadeiramente digno e justo, é dever e salvação nossa Vos demos graças sempre e em toda a parte, Senhor, Pai santo, Deus omnipotente e eterno, que quisestes que o vosso Unigênito Filho, suspenso na cruz, fosse traspassado pela lança dum soldado, para que o seu Coração aberto, sacrário das liberalidades divinas, sobre nós derramasse torrentes de misericórdia e de graça, e, não deixando jamais de arder em amor para conosco, nele tivessem as almas piedosas um lugar de repouso e as penitentes sempre patente refúgio de salvação. Por isso, em união com os Anjos e Arcanjos, com os Tronos e Dominações, com toda o milícia do exército celeste, cantamos um hino à vossa glória, repetindo sem fim:
Santo, santo, santo é o Senhor Deus das milícias celestes.
Cheios estão céu e terra da vossa glória. Hosana nas alturas!
Bendito o que vem em o nome do Senhor! Hosana nas alturas!

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