Subindo ao Céu no dia da Ascensão, Jesus Crito vai tomar posse de Sua glória e perparar-nos um lugar. Com Jesus Cristo, a humanidade remida entra no céu: sabemos que este não mais nos está fechado, e vivemos na expectativa do dia em que as suas portas se abrirão diante de nós. Essa esperança nos ampara e nos dá coragem. A rigor, poderia bastar para levarmos uma vida cristã e, para não perder tal esperança, sofreríamos todas as tristezas da vida. Entretanto, Nosso Senhor, para cnoservar em nós e tornar mais eficaz a esperança do Céu, para fazer com que esperemos pacientemente o céu da glória e conduzir-nos a ele, criou o belo céu da Eucaristia. Pois a Eucaristia é um belo céu, o céu antecipado. Não é Jesus glorioso, vindo do Céu à terra, e trazendo o Céu consigo? O Céu não está em toda parte onde se encontra Nosso Senhor? Seu estado, embora velado a nossos sentidos, ali está glorioso, triunfante, bem-aventurado: nada mais tem das misérias da vida e, quando comungamos, recebemos o Céu, pois recebemos Jesus, Que constitui toda a felicidade e toda a glória do paraíso. Que glória para um súdito receber o seu rei! Nós também, glorifiquemo-nos: recebemos o Rei do Céu! Jesus vem a nós para que não esqueçamos a nossa verdadeira pátria, ou então para que, nela pensando, não morramos de desejo e tédio. Ele vem e permanece corporalmente em nossos corações enquanto dura o Sacramento; depois, destruídas as espécies, sobe de novo ao Céu, mas permanece em nós por Sua graça e por Sua presença de amor. Por que não permanece muito tempo? Porque a condição de Sua presença corporal é a integridade das santas espécies.
Jesus, vindo a nós, traz os frutos e as flores do paraíso. Quais são? Não sei; não se os vê, mas sente-se-lhes o perfume. Ele nos traz os méritos glorificados, Sua espada vitoriosa de Satanás; traz-nos as Suas armas para que as utilizemos; Seus méritos, para que lhes acrescentemos os nossos, fazendo com que frutifiquem. A Eucaristia é a escada, não de Jacó, mas de Jesus, Que por nós sobe ao Céu e dele desce continuamente. Ele Se acha num movimento incessante para nós.
Mas vejamos quais são os bens celestes que Jesus especialmente nos traz, quando O recebemos.
Primeiro, a glória. É verdade que a glória dos santos e bem-aventurados é uma flor que só desabrocha ao sol do paraíso e sob o olhar de Deus; essa glória refulgente, não a podemos ter sobre a terra; adorar-nos-iam! Mas recebemos o seu germe oculto, que a contém interia, como a semente encerra a espiga. A Eucaristia deposita em nós o fermento da ressurreição, em consideração a uma glória especial e mais brilhante, e, semeada na carne corruptível, refulgirá em nosso corpo ressuscitado e imortal.
Em seguida, a felicidade. Nossa alma, entrando no Céu, vê-se na posse da felicidade de Deus, sem receio de perdê-la ou de vê-la diminuída. Mas, na Comunhão, não recebeis algumas parcelas dessa verdadeira felicidade? Não nos é dada inteira, para que não deixemos de pensar no Céu; mas de que paz, de que suave alegria não sois inundados após a Comunhão! Quanto mais desapegada a alma das afeições terrestres, mais goza dessa felicidade, e há almas tão felizes após a Comunhão que os seus próprios corpos se ressentem.
Enfim, os bem-aventurados participam do poder de Deus. Ora, aquele que comunga com um grande desejo de unir-se a Jesus, não experimenta mais que um soberano desprezo por tudo quanto não é digno de suas afeições. Domina tudo quanto é terrestre: é o verdadeiro poder. É então que a Comunhão faz subir a alma para Deus. Define-se a oração: uma ascensão de nossa alma para Deus. Mas que é a prece comparada à Comunhão? Como essa ascensão de pensamentos, de desejos, acha-se distante da ascensão sacramental em que Jesus nos eleva com Ele até o seio de Deus!
A águia, para habituar seus filhotes a voar nas mais altas regiões, apresenta-lhes o alimento, mantendo-se muito acima deles e, subindo cada vez mais à medida que se aproximam, faz com que subam insensivelmente até os astros.
Assim Jesus, Águia divina, vem a nós, traz-nos o alimento de que necessitamos, depois sobe e convida-nos a segui-lo. Cumula-nos de doçuras, para nos fazer desejar a felicidade do Céu; familiariza-nos com o pensamento do Céu.
Não reparais que, ao possuir Jesus no coração, desejais o paraíso e desprezais todo o resto? Desejaríeis morrer imediatamente a fim de estar mais depressa unido a Deus para sempre. Quem comunga raras vezes, não pode desejar ardentemente a Deus, e tem medo da morte. No fundo, este pensamento não é mau; mas se pudéssemos ter a certeza de ir imediatamente ao Céu, ah! não quereríeis permanecer um quarto de hora mais sobre a terra! Em um quarto de hora no Céu, testemunhareis a Deus mais amor e mais o glorificareis que durante a mais longa vida.
Assim, pois, a Comunhão nos prepara para o Céu. Que graça morrer após ter recebido o santo Viático! Sei que a contrição perfeita nos justifica e nos dá direito ao Céu; mas como deve ser bem melhor ir em companhia de Jesus, e ser julgado por Seu amor, unido ainda, por assim dizer, a Seu Sacramento de amor! Assim, a Igreja quer que seus sacerdotes administrem o santo Viático, até no último momento, ao penitente disposto, ainda que já houvesse perdido o uso dos sentidos; tanta questão faz essa boa Mãe de que os seus filhos partam bem providos para essa terrível viagem!
Peçamos muitas vezes a graça de receber o santo Viático antes de morrer: será o penhor de nossa eterna felicidade; e assegura São Crisóstomo, no livro do Sacerdócio, que os anjos esperam, à saída do corpo, as almas dos que acabam de comungar, em atenção ao divino Sacramento, eles as rodeiam e acompanham como satélites até o trono de Deus.
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