22 de outubro de 2009

Acta Martyrum Japonensium - Parte 2 de 2





VENERÁVEIS MÁRTIRES DOJAPÃO,


PROTEJEI-NOS, DEFENDEI-NOS, SALVAI-NOS

A HISTÓRIA DO MARTÍRIO CRISTÃO NO JAPÃO 


1597~1873
ALMAS PURAS
MARTYRES JAPONENSES
Pe. Antonio Sermenio
Desenhos: Subaru Yokomichi


Traduzido para o português por Marcos Morita







CENTÉSIMO ANIVERSÁRIO DOS 26 MÁRTIRES DO JAPÃO – 1962





Simeão Suetaki era um moço de 16 anos. A sua família havia sido morta e ele suportou inúmeras torturas, inclusive o terrível banho com a água fervente de Unzen.


Os guardas, atônitos por sua coragem e força de Fé, perguntaram-lhe, “Mas, por que? O que estudaste?” Ele respondeu com estas palavras enigmáticas: “Estudei unicamente a ciência da morte”...


O magistrado de Nagasaki, Sahyoue Hasegawa, ordenou a prisão dos Cristãos. Como era grande a multidão dos fiéis, muitos temendo a falta de cordas para serem amarrados, levaram-nas consigo.


A regra da Associação S. José para os meninos com menos de 15 anos era: Não abandonaremos a Fé mesmo que nos arranquem as unhas, os dentes nem que sejamos submetidos às torturas da água e do fogo.



“Posso cortar esses dedos?” perguntou um algoz ao Paulo Saemon Uchibori. “Como queira”, ele respondeu. O guarda decepou três dedos do meio do seu segundo filho, Antonio e fez o mesmo com o primogênito, Baltazar. Depois, ao olhar para o terceiro filho Ignacio, de 5 anos, este, sem se perturbar, ofereceu a mão direita e observou o decepamento com interesse. Os irmãos mais velhos o elogiaram admirados.




Depois, com outros condenados, foram levados num barco para o alto-mar onde foram lançados e içados várias vezes. Primeiro, morreu afogado Antonio, depois, Baltazar. Ignácio resistiu um longo tempo e foi abandonado no mar com outros Cristãos.



Os 13 sobreviventes foram levados à terra, despidos e, tendo decepados todos os dedos das mãos, obrigados a carregar as ‘placas de declaração da condenação’ e percorrer várias localidades para servirem de exemplo. “Não deveis cuidar destes infiéis. Aqueles que os abrigarem serão condenados à morte”, diziam as placas. Porém, muitos Cristãos, arriscavam-se a cuidar de seus irmãos da Fé.




Muitos acabaram morrendo. Os sobreviventes foram levados a Unzen onde foram atormentados nos ‘infernos’ das lavas de vulcões e o último a ser lançado ali foi Saemon Uchibori. Ao perceber a aproximação do fim e ao voltar à superfície, as suas últimas palavras foram: “Louvado seja o Santíssim Sacramento”.


Quem lutou corajosamente pela Fé não foram apenas os fiéis. Houve antes o exemplo dos Missionários: Agostinianos, Dominicanos, Franciscanos e Jesuítas entregaram suas vidas pela glória da difusão da Fé e salvação das almas.


Quando estava prestes a ser sacrificado, o Pe. Fernando de S. José beijou reverentemente a espada do algoz com o qual seria decapitado e Pe. Alfonso Navarte tirou uma cruz que ganhara de um Cardeal e, segurando uma vela acesa, entregou a sua vida. Seus corpos foram jogados ao mar juntamente com os padres Machado e Pedro de Assunção.


No Grande Martírio de Shinagawa (Edo – atual Tóquio) em 4 de outubro de 1623, havia 18 crianças. Elas brincavam e sorriam inocentemente com suas bonecas e flores enquanto aguardavam nas filas a sua vez de serem decapitadas, cortadas ao meio ou terem os seus membros decepados ou arrancados diante das mães.



O mais famoso dentre os Mártires era Mondo Hara. Era nobre, parente de Ieyasu, mas foi banido e perdeu todos os bens por causa da Fé. Teve amputados os dedos das mãos e pés e vivia como mendigo. Foi amarrado ao cavalo para não cair e levado aos quatro cantos da cidade e finalmente foi queimado vivo com os padres Jeronimo de Angelis e Galvez.




Os outros 50 companheiros foram torturados e mortos pela espada e fogo.


Os restos dos Mártires foram deixados durante 3 dias, mas, então, os Cristãos da região começaram a disputar os restos para levar para casa a fim de venerá-los. Ieyasu, ao saber disso, irou-se e ordenou que eles fossem presos. Mais de 300 desses Cristãos foram executados no ano seguinte.




Monica, esposa de João Naizen, foi ameaçada de que se negasse a abandonar a Fé Cristã seria despida e submetida às torturas. Ela respondeu corajosamente: “Pela Fé eu mesma arrancaria toda a minha pele”.Enquanto observava as duas filhas de 7 e 2 anos serem submetidas à tortura d’água, rezava o Rosário com outras senhoras e, por fim, foi decapitada. Os restos das mulheres foram lançadas aos pés das fogueiras de seus maridos e assim todos se tornaram vítimas por Cristo em 20 de julho de 1626.


Em 7 de outubro de 1619, próximo à imagem de Buda de Kamogawa, Kyoto, surgiram as figuras de 52 Cristãos amarrados às colunas, dois a dois. Algumas mães carregavam seus filhos. Uma delas, Tecla, esposa de João Hashimoto, segurava Lúcia, de 3 anos e estava amarrada com Pedro, de 6 anos e Francisco, de 8 . Não muito longe dali se encontravam o segundo filho, Tomás, de 12 anos e a filha mais velha, Catarina, de 13 anos. Esta, não conseguindo ver sua mãe por causa das fumaças, gritou, “Mamãe, onde você está?” A mãe respondeu, “Filhinha, invoca os santos nomes de Jesus e Maria!” Como Sta. Felicidade outrora, Tecla se tornou mãe de seis mártires. O filho mais velho, Miguel, não obteve a glória do martírio, mas foi substituído pela criança que se encontrava no seu ventre.



Masamune Date, depois de observar os terríveis martírios dos Cristãos, começou também a persegui-los no seu domínio em Sendai. Um dos escolhidos foi João Anzai, de 17 anos e sua esposa Ana que deram abrigo ao Pe. Carvallo. Após tortura d’água foram despidos e colocados em cavalos para circular pela cidade. Os trauseuntes jogavam-lhes água suja e maldições. Foram mortos por afogamento.



Houve também o martírio de Pe. Carvallo e outros Cristãos. Em 25 de fevereiro de 1624 foram despidos e mergulhados numa lagoa próxima ao rio, onde eram obrigados a se sentar e se levantar em meio às ofensas dos espectadores. Dois deles estavam desmaiados quando foram retirados. Foram lançados novamente na água gelada e pereceram. Quem mais resistiu foi Pe. Carvallo.



O ‘inferno’ de Unzen testemunhou inúmeras vitórias dos Mártires. Eram famosos o Pe Antonio Ishida e seus 7 companheiros. Havia, no grupo, duas mulheres. Eram obrigados a se ‘banharem’ 6 vezes com água fervente todos os dias até as feridas atingirem os ossos. Foram finalmente queimados vivos resistindo heroicamente e se tornando vítimas de Cristo. Entregaram as suas vidas cantando hinos de louvor.


Os parentes do Pe. Tomás Tsuji, lastimando o seu estado (por causa da Fé) tentaram convencê-lo a se apostatar. Porém o padre se manteve inabalável por 13 meses e foi queimado vivo junto com dois companheiros. Aconteceu, então, um fato inusitado: durante a execução saiu repentinamente do seu peito (que ainda não havia sido tocado pelo fogo) uma luz extraordinária que permaneceu por algum tempo que deixou estupefatos todos os presentes.



Eram admiráveis a paciência e a força dos Mártires para suportar os sofrimento, mas a teimosia e intolerância dos perseguidores não ficavam atrás. De fato, fizeram de tudo para extinguir a Fé.


A tortura d’água era terrível. Obrigavam os Cristãos a beber água até não poderem mais. Então, os guardas subiam e dançavam sobre eles. As águas, sangue e até órgãos saíam pela boca, nariz, ouvidos e outros orifícios. Pe. Tomás de S. Domingos e seus companheiros foram submetidos a esta tortura. Pe. Francisco Marques, cuja mãe era japonesa, foi submetido 105 vezes a ela e, por fim, foi decapitado. Não é à toa que muita gente tenha abandonado a Fé por causa desta e de outras torturas.



Porém, não há pior tortura que o que agora descrevemos. O condenado era dependurado de cabeçapara baixo numa perna e mergulhado numa fossa. Às vezes se colocavam pesos na perna livre ou amarravam um sino no braço a fim de que o Cristão o tocasse para sinalizar a sua apostasia.


Apareceu uma bela virgem de nome Magdalena, filha de Mártires, para encorajar os espíritos fracos. Por causa de sua vida de anjo era admirada como uma santa. Por causa da sua beleza e talento experimentou terríveis tentações, mas resistiu heroicamente e assim foi alvo de mais terríveis e longas torturas. Teve ossos arrancados, as unhas e dedos esmagados, dependurada de cabeça para baixo, mergulhada na água com pedra amarrada nas mãos e submetida ao mergulho da fossa com outros 10 Cristãos.


Os 10 companheiros acabaram morrendo, mas Magdalena resistiu os sofrimentos durante 13 dias. Houve vários acontecimentos extraordinários durante a sua paixão, mas a chuva torrencial acabou rompendo a corda e ela morreu afogada. Os seus restos foram queimados e lançados no mar. A sua coragem, porém, foi gravada profundamente nos corações dos Cristãos e serviu de estímulo para eles não temerem nem as torturas nem a morte.



Em meio a esta terrível era aconteceu a Revolta de Shimabara. A causa não foi religiosa.mas foi provocada pelos abusos de autoridade dos senhores feudais e seus subordinados. No início os Cristãos e os não-Cristãos lutaram juntos e foram endurralados no castelo. Ordenaram, então: os budistas seriam libertados se se entregassem, mas os Cristãos não seriam perdoados. Assim, eles decidiram lutar até o fim. Os heróis mortos pela verdadeira libertação foram 37 mil.



Por causa do fechamento do país e expulsão dos missionaries, os Cristãos acabaram numa situação lastimável. Para promover a sua extinção realizava-se anualmente o rito de “fumi-ê”. Quem se recusasse a pisar uma imagem de Cristo ou Nossa Senhora era condenado a morrer queimado e, assim, o número de Cristãos se reduziu vertiginosamente. Porém, os Cristãos escondidos em Nagasaki, Goto e outras vilas afastadas mantiveram a sua Fé de modo oculto.


Com a abertura do país a Igreja pôde novamente se instalar no país, porém, unicamente para servir aos estrangeiros. Após a consagração da Catedral de Oura em fevereiro de 1865, 15 agricultores visitaram a igreja em 17 de março. Depois de algum tempo uma mulher se aproximou do Pe. Petitjean e sussurrou, “Temos o mesmo coração que o senhor. Onde se encontra a imagem de Santa Maria?” O sacerdote, surpreso, levou-os diante da imagem de Nossa Senhora. “É verdade! Ela segura o Menino Jesus!”, disseram, vertendo lágrimas de alegria. Eram habitantes de Urakami.



Alguns meses depois do descobrimento dos cripto-cristãos em 1868, se iniciou a última perseguição aos Cristãos. 6000 deles foram obrigados a se espalhar pelo país, mas felizmente, por misericórdia do Imperador Meiji, a tempestade foi acalmada e foi concedida a liberdade de religião em 1873. Entre as vítimas daquele período, se destaca uma moça chamada Tsuru Yamanaka. Foi torturada de vários modos em Hagi e por fim enterrada na neve por uma semana e pressionada pelos guardas para se apostatar, mas permaneceu inabalávbel. Mais tarde, se tornou religiosa e deixou uma notável obra de evangelização.


Os Cristãos exilados em Tsuwano da Província de Shimane, foram especialmente mal-tratados. 36 deles acabaram morrendo em consequência das torturas. Domenico Zen-emon e Jinzaburo Moriyama foram lançados no lago gelado várias vezes. Segundo Zen-emon, quando ele estava prestes a morrer, aparecia Nossa Senhora para conceder-lhe força para continuar.



João Batista Yasutaro era possuidor de um grande coração. Foi confinado numa caixa minuscula e abandonado no jardim. Adoeceu por causa do frio e estava para perecer. Fukabori soube do fato e, escondido, foi encontrá-lo à noite. Disse-lhe, “Deves te sentir solitário com a aproximação da morte...” João respondeu, “Não, nenhum pouco”. “Toda noite aparece uma lindíssima moça de 16, 17 anos para confortar-me com sua voz doce. Estou certo de que é Santa Maria, mas rogo-te, não contes a ninguém até eu morrer...” Entrou na eternidade depois de 2 ou 3 dias.



Alguns anos mais tarde, este local da glória da aparição de Nossa Senhora e imolação dos Mártires se tornou o “Passo da Virgem”, Adquirido pela Igreja em 1939 se construiu ali uma linda capela em 1951.



Assim, a Nossa Senhora confortou os nossos antepassados da Fé submetidos à perseguição. Que o sangue derramado pelos Mártires possam, pela graça de Deus produzir grandes frutos e assim, possa o Japão prosperar por essa virtuosidade e iluminado pela luz de Deus leve ao mundo a Paz Eterna e a Verdadeira Felicidade pela Fé e pelo Amor...

Nossa Senhora do Japão, rogai por nós



Quando se obtém a sabedoria dos Mártires, o temor do mundo desaparece e a morte adquire um significado totalmente novo.

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